O Estaminé ardeu, mas o proprietário vai "tentar o impossível": reabrir no verão
A ilha Deserta, em Faro, perdeu aquele que era o seu único edifício e um dos locais mais emblemáticos do Algarve. O restaurante Estaminé ficou totalmente destruído durante a noite de terça-feira, devido a um incêndio, seguido de explosões, que foi visto a vários quilómetros de distância.
O proprietário José Vargas era um homem destroçado por ter desaparecido uma boa parte da sua vida. "O Estaminé faz parte da história da minha família e, como tal, nesta altura é complicado recordar tanta coisa que passámos ali", afirmou ao DN com a voz embargada, lembrando que nas chamas "ficou o álbum de recordações com inúmeras fotografias" que tantas vezes "eram partilhadas" com os clientes.
O prejuízo "ultrapassa um milhão de euros", garante José Vargas, ao mesmo tempo que deixa perceber uma força interior que lhe permite ter esperança no futuro. "Agora? É reconstruir e pôr tudo a funcionar", atira, admitindo que não é tarefa fácil por causa "da situação muito difícil causada pela pandemia". "Temos um plano de apoio à retoma por causa da pandemia e, por isso, temos mantido os trabalhadores todos, que são 33, na perspetiva de retomar a atividade no verão... mas agora ficamos sem a ferramenta para trabalhar", revelou, deixando de imediato uma certeza: "Vamos avaliar quando é que poderemos retomar a atividade, mas reconhecemos que a burocracia será o mais complicado neste processo." Mas nem isso o demove de traçar um objetivo: "Vamos tentar o impossível, que é reabrir no verão."
Uma das primeiras entidades a mostrar-se disponível para ajudar a reerguer o Estaminé foi a Câmara Municipal de Faro, através do presidente, Rogério Bacalhau, que considera aquele restaurante "uma referência". O autarca visitou ontem à tarde o local do incêndio ao lado de José Vargas, que, antes dessa visita, disse ao DN que "já seria uma grande ajuda se a Câmara de Faro conseguisse aligeirar o processo burocrático" para que a recuperação do espaço fosse o mais célere possível.
Destaquedestaque"Vamos avaliar quando poderemos retomar a atividade, mas a burocracia será o mais complicado", diz o proprietário.
O processo está agora nas mãos da Polícia Judiciária, que durante o dia de ontem esteve a fazer a peritagem "para apurar o que aconteceu", refere José Vargas, que espera ver o seguro cobrir os prejuízos causados por aquela noite de inferno na ilha Deserta. "Eram para aí um quarto para as onze horas da noite quando um pescador, que estava no mar, me ligou a dizer que estava uma bola de fogo dentro do restaurante e que já tinha havido explosões", recorda o dono do restaurante, admitindo que as explosões tenham sido causadas por "três botijas de gás", que não sabe precisar se estavam cheias. "Não havia lá ninguém, porque se estivesse talvez pudesse ter limitado os estragos", lamenta, ao mesmo tempo que recorda que este é "o primeiro acidente desde a fundação, há mais de 30 anos".
O Estaminé começou a funcionar em 1987, mas só em 2007 foram melhoradas as instalações, com um edifício que visto do ar se assemelhava a um caranguejo e que era ambientalmente sustentável, uma vez que a energia era fornecida por seis painéis solares e utilizava a água do mar, que era dessalinizada. "Nunca tivemos qualquer problema", desabafa, acrescentando que estava a aproveitar o confinamento para fazer algumas obras de melhoramentos, nomeadamente a "substituir algumas partes da madeira que estavam danificadas".
Para se ter uma noção da importância do restaurante na região algarvia, Nuno Aires, ex-presidente da Região de Turismo do Algarve, recorda ao DN que no desempenho desse cargo - "há dez anos" - tinha como missão "promover o turismo junto dos vários operadores internacionais", e o Estaminé funcionava praticamente como "um trunfo irresistível". "Era o meu truque para convencer aqueles que estavam mais céticos em relação à qualidade do Algarve. Levava-os ao Estaminé e havia sempre um final feliz graças à comida, ao espaço e à paisagem. Eram argumentos fortíssimos, afinal trata-se de um sítio espetacular que acabava por ser decisivo", revela.
Apesar de aquele local mágico estar agora reduzido a cinzas e a um monte de sucata, Nuno Aires acredita que, em breve, tudo voltará a ser como dantes. "Conheço bem a família Vargas. São pessoas resilientes que deixaram de lado uma vida mais calma e quiseram fazer daquele o projeto das suas vidas, que não atentasse contra o ambiente, e acredito que já estejam a pensar em recuperá-lo", disse, confirmando assim aquelas que foram as palavras de José Vargas ao DN.
Além disso, o ex-presidente da Região de Turismo do Algarve acredita ainda que "haja uma grande mobilização externa em torno da recuperação do espaço" que, afinal, tanto ajudou a promover a beleza do Parque Natural da Ria Formosa.