Três dias antes de Angola declarar a sua independência, Nuno deixou Luanda em 8 de novembro de 1975, com a mãe (o pai ainda ficou por lá), aos 3 anos, para ali só voltar, à capital angolana, com 47 anos feitos na véspera de aterrar no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, para acompanhar a visita do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa..O líder parlamentar do CDS, Nuno Magalhães, confessou ao DN que se emocionou neste regresso a Angola. "Foi muito emotivo, muito mais emotivo do que pensaria", disse, uma e outra vez. "Achei que ser-me-ia indiferente, quase como uma curiosidade histórica. Mas fiquei muito mais emocionado do que esperava.".Com esta viagem, Nuno Magalhães deu nome às histórias que ouvia contar em casa, às fotografias que marcaram a sua infância. "Só tinha memórias por interpostas pessoas", explicou. Demasiado novo para se lembrar dos seus dias em Luanda, as suas memórias de infância também se construíram com a referência das memórias dos pais..Coisas simples como uma ida à praia: ele, que viveu na Foz do Arelho, e que também passava férias no Algarve, ouvia os pais recordarem as praias do Lobito. "Foz do Arelho? Algarve? O que é que é isso ao pé das praias do Lobito?" O pequeno Nuno não fazia ideia - as praias da infância foram as de cá -, mas a agenda da visita de Estado de Marcelo Rebelo de Sousa permitiu ao deputado descobrir o que os pais sempre lhe disseram. "Uma feliz coincidência de agenda, numa visita arrasadora do ponto de vista físico, permitiu algum sossego" no Lobito e Nuno Magalhães mergulhou no mar "às 11 da noite e às oito da manhã"..O deputado não conseguiu uma abertura na agenda para se escapulir e visitar referências da família. "Foi impossível", confirmou ao DN, recordando a agenda intensa e cheia do Presidente da República, que tem uma "resistência quase sobrenatural do ponto de vista físico", aos 70 anos..O mais que a agenda permitiu, contou Nuno Magalhães, foi ir "tropeçando nestes locais", como a Fortaleza de São Miguel de Luanda. Uma das fotografias que mais recorda e de mais gosta é o pai fardado e sentado num canhão da fortaleza. Ou ouvir falar do Mussulo, de crescer "ligado a uma coisa muito boa", de que a família guardava boas recordações, os almoços e as idas à praia e estar ali a ver o Mussulo, uma ilha na costa sul da capital angolana..Entre os deputados que acompanharam Marcelo Rebelo de Sousa na visita de Estado do Presidente da República ao país, de 5 a 9 de março, só um outro partilha a origem: o líder parlamentar do PSD, Fernando Negrão, nasceu no norte de Angola, em 1955, veio de lá com 5 anos, mas o social-democrata já tinha voltado antes ao país, numa viagem do então presidente da Assembleia da República Jaime Gama..A família de Magalhães vivia no denominado bairro do Café, junto ao Rádio Clube de Angola, perto do ringue do Benfica de Luanda. "O que explica muita coisa", riu-se o deputado, que é um reconhecido adepto benfiquista. Nascido em 4 de março de 1972, Nuno Magalhães foi batizado na mesma capela que Assunção Cristas, revelou ao DN, muito antes dos seus caminhos se cruzarem no CDS..Este regresso a Luanda foi também uma quase prenda de anos: a presidente centrista insistiu que, desta vez, fosse Magalhães a viajar em representação do grupo parlamentar do CDS. "Tens de conhecer a terra onde nasceste", disse-lhe Assunção. Por regra, explicou, o deputado que acompanha estas viagens é o representante do partido no grupo de amizade desse país (neste caso, Hélder Amaral)..O pai do deputado (a mãe já morreu) "teve uma reação muito curiosa". Como se o filho fosse um adolescente, pediu a Nuno para ir ligando, contando coisas, "ficou muito saudoso, muito emocionado também", indicando ao filho para "ir ali e acolá". Como se a agenda de Marcelo deixasse. "Por atacado, tivemos umas quatro horas livres." Isso e os mergulhos no mar do Lobito.