"O contexto espanhol não é o nosso. Há ameaças diretas e concretas"
Este ataque em Barcelona num local turístico faz prever que o perigo em Portugal é hoje maior?
A proximidade geográfica tem um forte impacto psicológico, mas não nos torna um alvo mais apetecível. O contexto espanhol é completamente diferente do português: desde 2004, cerca de 700 jihadistas foram presos em Espanha (200 no último ano). Lá há redes organizadas e prevenção contra uma ameaça presente. Ao contrário de Portugal, que não é citado em vídeos ou redes sociais, Espanha tem sido alvo de ameaças diretas e concretas, há nas redes uma procura de pessoas que falem espanhol para abrir o movimento a mais recrutas. Além disso, a comunidade muçulmana é muito mais alargada do que aqui e com sinais de radicalização. Já em 2008, grupos jihadistas preconizavam ataques em Barcelona e noutras cidades espanholas e recentemente foram detidos em Espanha seis marroquinos ligados ao ataque em Bruxelas. Por último, territorialmente, o Al-Andaluz perdido é metade de Espanha.
Mas a ameaça existe.
A ameaça é global, está na Europa e é interna.
E este método de atropelamento facilita...
O modus operandi é interessante, porque estes ataques por ramming não são novos - houve um na Carolina do Norte em 2006, em Israel foram uns 60 nos últimos dois anos e desde 2010 que as revistas de propaganda jihadista os descrevem como a melhor forma de operacionalizar um ataque. Mas intensificaram-se, e isso dá que pensar. Primeiro porque há uma adaptação tática que não demonstra necessariamente sucesso - usam carros porque já não conseguem fazer ataques recorrendo a outro tipo de armamento. Por outro lado, é um objeto do nosso quotidiano, o que também tem uma carga psicológica, e é de muito mais difícil deteção e escrutínio.
Mas é possível prever um ataque destes?
É mais difícil mas não é impossível detetar e impedir, porque o ciclo de terror tem várias fases - identificação do alvo, planeamento, vigilância, roubo ou aluguer do carro, etc. -, há uma preparação. E há métodos de prevenção como o bloqueio de ruas com muitos pedestres, maior vigilância e outro escrutínio das forças de segurança. Mas com este método novo temos a sensação de que ninguém está seguro e tudo pode ser uma ameaça...
Há muitos ataques evitados?
Há um conjunto de atentados evitados, mas aqui a imprevisibilidade é fator-chave. E o efeito copycat é perigoso - e isso foi pensado estrategicamente no jihadismo. Por outro lado, não se pode desvalorizar as vidas perdidas, mas temos de relativizar o efeito: em oito ataques, só Nice teve mais de 15 mortos.
Mas têm-se sucedido...
Estes ataques são movidos por uma questão de oportunidade: obter o máximo impacto com o mínimo risco, por isso ninguém está livre de se tornar uma vítima, aqui ou noutra parte do mundo.
Portugal faz o suficiente para prevenir um ataque semelhante?
As forças de segurança portuguesas fazem o necessário, o que é preciso é criar-se a cultura política que pode desencadear a luta antiterrorismo, que capacite os serviços de segurança, lhes dê meios e viabilize a coordenação eficaz do sistema de segurança interna.