"O consumidor tem o direito de escolher um produto com base na sua pegada carbónica"

Indústria dos plásticos criou, durante o Plastics Summit, uma declaração de compromisso para aumentar a circularidade da economia, diminuir os impactos no ambiente e criar um quadro regulatório eficaz. Rótulos de eficiência ecológica devem ser prioridade, defendem.
Publicado a
Atualizado a

Criado a partir de Portugal, o Plastics Summit Global Event quer afirmar-se como "um evento de referência a nível mundial, tal como é hoje a Web Summit", explica Pedro Paes do Amaral. O vice-presidente da Associação Portuguesa da Indústria de Plásticos (APIP), a entidade organizadora da iniciativa, que decorreu na segunda-feira, em Lisboa, diz mesmo que "este foi o maior evento do mundo" sobre o tema da sustentabilidade do plástico. A cimeira juntou mais de 1000 pessoas e deverá regressar em 2025.

Mais do que debater os desafios e as oportunidades do setor, o objetivo é alertar para a importância de aumentar a circularidade de todos os produtos na economia e diminuir o seu impacto no planeta, de forma a garantir o cumprimento das metas ambientais. Entre elas, a neutralidade carbónica, meta que Portugal foi o primeiro país da Europa a comprometer-se a atingir até 2050, bem como o cumprimento do Acordo de Paris.

Se é verdade que o diagnóstico sobre as alterações climáticas está feito, o mesmo não se pode dizer sobre a aplicação do remédio - reduzir o consumo, mudar comportamentos e aumentar, fortemente, a reutilização.

"A maior parte das pessoas não tem noção de que, em 1950, éramos 2,5 mil milhões de pessoas no planeta, em 2000 já éramos cerca de seis, hoje somos oito e, em 2050, vamos ser praticamente 10 mil milhões", contextualiza Pedro Paes do Amaral. Com o ritmo acelerado de crescimento da população mundial, aumenta também o consumo e, com ele, o impacto no ambiente. Esta é já uma fatura que o planeta não pode suportar, mas cujas consequências se refletem também na saúde e no bem-estar das sociedades. "Não é só mais plástico que vamos ter, é mais de tudo", reforça.

Ondas de calor extremo, cheias e secas são cenários que Portugal experienciou este ano e que, aponta o vice-presidente da APIP, "são apenas a ponta do iceberg do que está para vir".

"O modelo económico atual não é sustentável. O mundo está a usar mais recursos do que aqueles que o planeta aguenta", apontou Ana Cristina Carrola, presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), durante a cimeira. Defende, por isso, a necessidade de "aumentar a vida útil dos produtos", da utilização de materiais secundários e de melhorar a forma como os resíduos são tratados. Os especialistas presentes consideram que é aqui, na fase de tratamento e gestão de resíduos, que está um dos grandes problemas - não basta recolher, é preciso assegurar uma triagem eficaz e, sobretudo, a sua valorização.

Paes do Amaral acredita que cabe às entidades públicas proceder a "uma reestruturação do sistema de gestão de resíduos", por um lado, e às diferentes indústrias "trabalhar no ecodesign de tudo para termos produtos cada vez mais recicláveis" e que possam dar origem a outros bens, evitando a utilização de recursos naturais.

O cenário ideal de uma verdadeira economia circular é aquele em que "os resíduos de uns possam ser a matéria-prima de outros", sublinha. Mas esta é também uma missão da sociedade civil e na qual a cidadania climática pode ter um papel importante, embora para isso seja essencial que os consumidores tenham acesso às ferramentas necessárias para poderem fazer escolhas sustentáveis.

Paulo Lemos, perito da Comissão Europeia, aponta a "dificuldade" sentida pelos consumidores na leitura de rótulos de produtos mais amigos do ambiente, algo que a Europa está a tentar resolver. "A iniciativa green claims pretende que, se uma empresa fizer uma afirmação de sustentabilidade, seja obrigada a comprová-la. Deve ser verificável", diz.

A comissão tem vindo a trabalhar para apresentar propostas que possam aumentar a transparência das afirmações comerciais, um caminho que a APIP considera estar na direção certa. "O consumidor tem o direito de chegar a uma loja e escolher um produto com base na sua pegada carbónica", afiança Pedro Paes do Amaral.

Uma das recomendações deixadas pela indústria na sua declaração de compromisso, apresentada na segunda-feira, passa precisamente por garantir que são criados instrumentos para avaliar, de forma rigorosa e objetiva, o impacto ambiental dos bens. E isto, faz questão de sublinhar o vice-presidente da associação, com base "na ciência" e não "em achismos", sublinha.

O documento - que resulta das sugestões de mais de 80 especialistas da indústria, de organizações não-governamentais, do ambiente e de entidades de gestão de resíduos - será entregue a decisores políticos nacionais e internacionais como um roteiro para os passos a adotar rumo a uma economia circular, sustentável e eficiente.

dnot@dn.pt

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt