O clube onde as emissões zero são mais importantes do que marcar golos
Na pitoresca Cotswolds, classificada como Area of Outstanding Natural Beauty (Área de Destacada Beleza Natural) de Inglaterra mora o clube mais verde do Mundo! Não é uma questão de cor de equipamento, mas de sustentabilidade e neutralidade carbónica. O Forest Green Rovers da segunda liga inglesa (quarta divisão) foi reconhecido pela FIFA e pelas Nações Unidas como o clube mais verde do mundo. Para eles as emissões zero são mais importantes do que marcar golos.
A vizinha COP26 -cimeira mundial do clima, que decorre em Glasgow - colocou o clube nas bocas do mundo pelas boas práticas energéticas. A energia para o estádio do clube vem de painéis solares espalhados pelo telhado das arquibancadas, os equipamentos da equipa e as caneleiras dos jogadores são feitos com uma mistura de plástico com carvão de bambu, o relvado é completamente orgânico, adubado com algas marinhas e irrigado com água coletada da chuva. As ervas daninhas são arrancadas à mão e sem recurso a produtos químicos e a máquina de cortar a relva é movida a energia solar com recurso a GPS.
Apesar de incentivar os adeptos a deslocarem-se ao estádio de transportes públicos, o clube disponibiliza ainda pontos de energia para carros elétricos em redor do estádio e os painéis publicitários são são movidos a vento. A carrinha que transporta o material é elétrica. O pagamento de quotas, as compras no bar ou na loja do clube, bem como a compra de bilhetes são feitas eletronicamente para evitar troca de dinheiro e gasto excessivo e papel.
O clube segue ainda uma política 100% vegan. Em 2011 retiraram a carne vermelha da ementa. O peixe e os laticínios foram retirados do cardápio quatro anos depois. Apesar de alguma resistência da parte dos funcionários e alguns dirigentes, os jogadores aceitaram rapidamente porque viram ganho de performance e até recebem orientação nutricional para manter esse hábito alimentar fora das instalações do clube. Em dia de jogo comem batata frita, hambúrguer, pizza, sopa... Tudo vegano.
Nada no refeitório foge à dieta vegan e os bares do clube servem snacks à base de vegetais em vez dos tradicionais bolos e salgados ou hambúrgueres. Nicky Cadden jogava no Greenock Morton, do campeonato escocês e decidiu mudar para o Forest Green Rovers da segunda liga inglesa para abraçar um estilo de vida que já o seduzia. Não sendo inteiramente vegano, o jogador admite que definitivamente come "mais tofu em vez da carne", mas não saberia viver sem "sem queijo e leite".
Em declarações ao The Guardian, o jogador admitiu que nunca pensou "que a mudança climática fosse tão importante" até começar a investigá-la: "Nós só temos um planeta e se não cuidarmos dele? Todos sabem como o futebol é importante em Inglaterra e se eu puder fazer a minha parte para jogar bem e aumentar a conscientização ao mesmo tempo, fico feliz."
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O Forest Green foi fundado em 1889 e joga na chamada League Two, a quarta divisão da Inglaterra, desde 2017. Está em sétimo lugar na tabela e o objetivo é ir subindo degraus competitivos. Para já é uma referência no futebol quando se trata de sustentabilidade e o proprietário, Dale Vince, empresário do ramo de energias renováveis também é dono da Ecotricity, confessa que passa a vida a atender chamadas de clubes de todo o mundo a perguntar o que podem aprender a diminuir a pegada de carbono (medida que calcula a emissão de carbono equivalente na atmosfera por pessoa). Com a FIFA e a Premier League comprometidas com a neutralidade de carbono até 2040, o telefone ficará muito ocupado.
A pegada de carbono global do desporto é do mesmo tamanho de países como a Polónia ou Espanha e se depender do modesto clube britânico a "conscientização climática" vai aumentar e obrigar os adeptos a olhar para lá das vitórias e derrotas. Por isso o Forest Green, que tem Héctor Bellerín, do Arsenal, como segundo maior acionista, vai construir um novo estádio, todos de madeira, com capacidade para cinco mil pessoas. Vai-se chamar Eco Park.