O "baby faced assassin" que devolveu a paz ao Manchester United

O treinador norueguês Ole Gunnar Solskjaer, antigo jogador do clube, foi confirmado esta quinta-feira como treinador do emblema de Old Trafford para as próximas três épocas. Um prémio pelo bom trabalho desempenhado depois da atribulada saída de cena de José Mourinho em dezembro.
Publicado a
Atualizado a

Quando a 19 de dezembro do ano passado o Manchester United anunciou que o norueguês Ole Gunnar Solskjaer ia render José Mourinho até ao final da época - o português foi demitido um dia antes -, as reações de antigas glórias do clube foram maioritariamente positivas, de Beckham a Rooney, passando pelos irmãos Neville a Rio Ferdinand. Mas se calhar nem todos acreditaram que o que começou como uma solução para seis meses iria tornar-se numa situação definitiva.

Contra todas as previsões, o antigo jogador do clube, a quem os adeptos colocaram a alcunha de baby faced assassin (assassino com cara de bebé), superou as expetativas e viu esta semana o seu trabalho premiado com um contrato de três anos, colocando um ponto final nos rumores que apontavam grandes nomes ao cargo para a próxima época - Zinedine Zidane, Antonio Conte, Mauricio Pochettino, entre outros.

Mourinho foi despedido a 18 de dezembro, depois de uma derrota com o Liverpool, numa altura em que era indisfarçavel a má relação do treinador português com alguns jogadores de peso no balneário, caso de Paul Pogba - havia quem dissesse que o United era naquela altura um barril de pólvora. Aliado a isso, más exibições e resultados. O português deixou o Manchester na sexta posição da Premier League, com apenas 26 pontos em 17 jornadas, a 19 do então líder Manchester City. Somou sete vitórias, cinco empates e cinco derrotas no campeonato e encaixou golos como nunca: 29, mais um do que em toda a temporada passada.

Solskjaer devolveu a tranquilidade ao balneário e a paz ao clube, apostou em jogadores que não eram opção clara de Mourinho e devolveu a esperança ao United. E aos adeptos! Desde que se sentou no banco pela primeira vez (goleada por 5-1 ao Cardiff), o Manchester ganhou 14 dos 19 jogos disputados. Os red devils estão na quinta posição, mas apenas a dois pontos do Arsenal (4.º) e a três do Tottenham (3.º). Mais do que isso, o técnico conseguiu recentemente uma das maiores noites de glória europeia do clube, ao conquistar um lugar nos quartos-de-final da Liga dos Campeões depois de uma sensacional vitória na casa do Paris Saint-Germain por 1-3 depois de a equipa ter perdido por 0-2 em Old Trafford.
De certa forma, o treinador norueguês devolveu a mística ao clube que ainda hoje é profundamente marcado pelos 26 anos da era Alex Ferguson. "Mais do que o desempenho e resultados, o Ole oferece-nos a experiência, como jogador e como treinador, juntamente com a ambição de dar aos novos jogadores a oportunidade de conhecerem profundamente a cultura do clube. Isso significa que é a pessoa certa para comandar o United no futuro", referiu o vice-presidente do clube Ed Woodward.

Jordy Cruyff, filho do malogrado treinador holandês, que foi colega de equipa de Solskjaer no United, deu recentemente uma entrevista onde apontou as principais diferenças entre o Manchester atual e o de Mourinho. "O mais importante no comportamento do Ole é que nunca coloca o seu ego à frente dos interesses do clube. É uma pessoa educada, pacata, um homem da casa. Normalmente, os jogadores que estiveram muitos anos no clube são capazes de entender o seu ADN. O Ole é um homem de paz, que não arranja conflitos nos media e que não precisa de motivar os jogadores de uma forma provocadora", indicou, deixando mais uma indireta ao treinador português: "O ADN do Manchester United é vencer, praticar um futebol de qualidade e de ataque e jogar da mesma forma em casa ou fora. Não é esperar pelo que vai fazer o adversário."

Muitos golos e um histórico

Solskjaer representou o Manchester United como jogador entre 1996 e 2007, com 126 golos marcados em 366 jogos, muitos deles como suplente - era uma espécie de arma secreta de Alex Ferguson. Um dos mais célebres (e históricos) de sempre foi na emocionante final da Liga dos Campeões de 1999, contra o Bayern Munique, em Barcelona, quando apontou aos 90"+3 o golo que permitiu aos red devils conquistar o troféu, num jogo em que o Manchester deu a volta ao marcador (de 1-0 para 1-2) no tempo de compensação.
Depois de terminar a carreira em 2007 - as últimas épocas em Old Trafford foram atribuladas devido a constantes lesões -, Ole perpetuou a sua ligação ao clube noutras funções, assumindo o cargo de treinador da equipa de reservas. Apesar de tentado por várias propostas, inclusivamente para se tornar selecionador da Noruega, manteve-se fiel ao United até janeiro de 2011, quando decidiu regressar à terra natal para treinar o clube onde se fez jogador, o Molde. Foi duas vezes campeão norueguês, mas a terceira época não correu tão bem, mesmo assim conquistou a Taça de Inglaterra.

Decidiu que estava na altura de mudar de ares e aceitou o convite a meio da época 2013/14 para tentar salvar o Cardiff da despromoção. Não conseguiu, mas mesmo assim manteve-se no cargo, acabando por ser demitido logo em setembro de 2014, após um começo em falso da equipa norueguesa. Voltou ao Molde, onde permaneceu como treinador até dezembro de 2018, mês em que não resistiu ao apelo do United para pegar na equipa de forma interina até ao final da época como consequência do despedimento de Mourinho.

"Este é o trabalho que sempre sonhei ter e estou muito entusiasmado com a hipótese de comandar o clube a longo prazo, estou confiante em conquistar o sucesso contínuo que os nossos adeptos merecem", afirmou esta quinta-feira o técnico, de 46 anos, logo após ser anunciado o seu vínculo de três épocas ao United. "Desde o primeiro dia que cheguei, senti-me em casa neste clube especial. Foi uma honra ser jogador do Manchester United e tem sido fantástica a experiência nos últimos meses", acrescentou o norueguês.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt