O 20.º duelo que traz de volta o calor da luta pelo título

Red Devils de José Mourinho estão a oito pontos do City de Pep Guardiola. United não perde em Old Trafford há 40 jogos, mas os citizens ainda só cederam um empate nesta liga
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Depois de três épocas consecutivas na sombra (do Chelsea, em duas delas, e do surpreendente Leicester noutra), Manchester voltou esta temporada a reclamar o centro do poder do futebol inglês, no raio de sete quilómetros que separam os estádios dos vizinhos City e United. Uma rivalidade histórica que se projeta na luta pelo topo da tabela e sobe este domingo (16.30, SportTV3)ao palco em Old Trafford, amplificada por aquela que é também, provavelmente, a maior rivalidade pessoal entre dois treinadores no futebol contemporâneo. Sim, esta história não seria a mesma sem José Mourinho e Pep Guardiola, que protagonizam hoje o 20.º duelo oficial nos bancos.

Tanto o técnico português como o espanhol tiveram de ultrapassar um primeiro ano atípico em Manchester, arredados da luta pelo título - e se Mourinho ainda compensou isso com as conquistas da Taça da Liga e da Liga Europa, Guardiola completou mesmo a primeira temporada sem troféus na carreira -, mas voltaram esta época à "normalidade" a que os seus currículos habituaram os adeptos.

Pep lidera o City no melhor arranque de sempre da liga inglesa, com apenas um empate concedido em 15 jornadas; Mourinho persegue-o com um United que voltou a fazer de Old Trafford uma fortaleza histórica, tendo igualado o recorde do clube de jogos consecutivos sem perder em casa (40), que remontava aos tempos do lendário Sir Matt Busby (1966). Mais: o United soma por vitórias os sete jogos disputados como anfitrião nesta Premier League; e o City tem sete triunfos em sete deslocações. Na tabela, as respetivas campanhas traduzem-se em oito pontos de diferença, a favor dos citizens, o que reforça a importância do embate desta tarde sobretudo para os red devils.

Mourinho sabe-o e, como tal, terá de fazer uso de toda a sua gama de recursos para encurtar a distância para o rival. Se a atípica temporada anterior, em termos desportivos, pode ter contribuído para uma versão mais pacífica dos duelos entre os dois técnicos, que conseguiram passar o primeiro ano como vizinhos em Manchester sem qualquer fricção pública, o regresso aos papéis de principais competidores pelo título faz "temer" uma nova escalada de tensão neste choque de estilos que atingiu o ponto alto (ou baixo, dependendo do critério) naquelas duas épocas de coabitação em Espanha, como treinadores de Barcelona (Guardiola) e Real Madrid (Mourinho) - que incluiu aquele intenso período de 18 dias com quatro clássicos disputados em três competições diferentes (Liga, Taça e Champions), entre 16 de abril e 3 de maio de 2011.

Gémeos, diz Pep

Nos últimos tempos, o português começou a aquecer a preparação para este dérbi ao dizer-se "nada surpreendido" com o facto de Guardiola ter ficado impune após acesa discussão com um jogador do Southampton, Nathan Redmond, no final de um jogo. Depois, logo após ter cumprido a missão europeia a meio desta última semana, com uma vitória sobre o CSKA, insinuou que o treinador espanhol estava a fazer bluff sobre uma possível lesão de David Silva.

O aquecimento verbal seguiu nas conferências de imprensa de lançamento do jogo desta tarde. Guardiola, que viu o seu City sofrer a primeira derrota oficial da temporada em Donetsk, ante o Shakhtar de Paulo Fonseca, surpreendeu ao dizer-se "gémeo" de Mourinho. "Admito que é um prazer ir a Old Trafford. Vou desfrutar a visita. Já estou ansioso para o arranque do jogo e vou fazer tudo para que ganhemos. Nisso eu e José Mourinho somos praticamente gémeos. Eu quero ganhar tanto como ele", referiu, acrescentando que, apesar das diferenças de estilo, "nunca" irá "criticar os outros treinadores pela forma de jogar das respetivas equipas". E esclareceu ainda que David Silva vai mesmo a jogo, como o técnico português já previa.

Já Mourinho arriscou uma pressão mais alta no jogo de palavras. Primeiro reagiu às preocupações de Pep sobre a superioridade física do Manchester United nos lances de bola parada com uma tirada satírica: "Não me parece que Kompany vá ter muitas dificuldades nos lances aéreos com Mata." Depois, resgatou uma acusação antiga, já utilizada em Espanha, de que os jogadores de Guardiola "caem muito facilmente". E até deixou um reparo às "manifestações políticas" do catalão, que tem usado uma fita amarela na roupa nos jogos recentes, em apoio aos independentistas catalães presos. "Não sei se as regras o permitem", questionou o luso.

A expectativa cresce para se perceber se o relacionamento entre os dois técnicos poderá descer, em Inglaterra, ao nível a que desceu em Espanha, com episódios como a revolta de Guardiola numa conferência de imprensa contra "o puto jefe" Mourinho, antes das meias-finais da Champions 2010-11, ou a infeliz agressão do português ao então adjunto Tito Vilanova, na segunda mão da Supertaça espanhola de 2011, entre outros incidentes vários ao longo de uma intensa batalha de dois anos que levou o técnico catalão a abandonar o Barça em junho de 2012 para um ano sabático, antes de rumar ao Bayern de Munique. Pep Guardiola promete que no final da partida de hoje haverá "troca de cumprimentos" entre ambos, "naturalmente".

A Bela e o Monstro

Mas para lá do relacionamento pessoal entre os técnicos, o grande interesse recai mesmo na batalha futebolística no relvado, entre dois estilos antagónicos que a história tem vindo a catalogar - justa ou injustamente - como uma espécie de "Bela (o futebol técnico e de posse das equipas de Guardiola) e o Monstro (o futebol mais agressivo e pragmático das equipas de Mourinho)" do futebol. A discussão sobre a abordagem ideal ao jogo por parte do técnico português, e do seu Man. United, para conseguir levar a melhor sobre o rival e reanimar a luta pelo título fez correr muita tinta ao longo da semana, com colunistas e comentadores divididos entre o que será melhor: o tradicional "autocarro" ou uma tática de ataque.

Isso fica para descobrir esta tarde, a partir das 16.30, em Old Trafford, onde a última equipa visitante a sair com uma vitória foi... o City, a 10 de setembro do ano passado, naquele que foi o primeiro duelo entre Mourinho e Guardiola na Premier League.

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