Novos partidos investem nas candidaturas para se implantarem no país

Dos novos partidos, é o de André Ventura que mais candidaturas apresenta às autárquicas de 26 de setembro, seguido do IL. Politólogos sublinham o "esforço notável" destas forças políticas.
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Os novos partidos, sobretudo o Chega, estão a fazer um enorme investimento nas eleições autárquicas de 26 de setembro e as candidaturas multiplicam-se por todo o país, seja a solo ou em coligação.

José Adelino Maltez justifica este movimento através da "fórmula mágica" que o PS e o PSD usaram a partir de 1974, o da "implantação" no terreno, que os mais pequenos agora querem replicar. "Os partidos até podem ter nascido de uma reunião, mas foi a sua implantação no país que lhes deu capacidade de resistência", sublinha o politólogo.

Assim, vamos às contas. O Aliança anunciou esta semana que vai concorrer a 33 dos 308 concelhos do país nas eleições autárquicas de setembro, mas apenas com listas próprias em três municípios e em coligação nos restantes 30.

O partido que já foi liderado por Pedro Santana Lopes - e que não teve sucesso nos atos eleitorais a que se candidatou, no caso as europeias e legislativas - terá uma participação algo modesta nas autárquicas deste ano. Sendo que uma das 30 alianças que estabeleceu é a de Lisboa com Carlos Moedas, na coligação Novos Tempos.

Na maioria das coligações que integra, o Aliança junta-se ao CDS-PP (20) e ao PSD (17), apresentando-se ainda aos eleitores em acordos concelhios com o PPM, PDR, MPT, RIR e Nós Cidadãos.

O partido concorre em 12 dos 18 distritos do continente (Beja, Braga, Bragança, Castelo Branco, Coimbra, Évora, Faro, Lisboa, Porto, Setúbal, Viana do Castelo e Vila Real) e na Região Autónoma da Madeira.

Dos novos partidos, o Iniciativa Liberal, com um deputado no Parlamento, aventura-se mais, com 46 candidaturas próprias e mais seis em coligação, como em Arouca com PSD, CDS e PPM, Faro com PSD, CDS, PPM e MPT, Mealhada com PSD, CDS, PPM e MPT e São João da Madeira com PSD e CDS. E dá o seu apoio ao movimento de cidadãos liderado por Rui Moreira no Porto. Ao todo, a IL vai contar com listas a 43 câmaras municipais e assembleias municipais.

Em Lisboa, Carlos Moedas também tentou um entendimento com o partido de João Cotrim Figueiredo, mas não foi a bom porto. O IL decidiu avançar com uma candidatura própria, Miguel Quintas, que três dias depois de ter anunciado que avançava desistiu da corrida. O papel acabaria por ser assumido logo de seguida por um dos fundadores do partido, Bruno Horta Soares.

Já o partido de André Ventura joga pesado neste tabuleiro autárquico. O Chega vai concorrer a "cerca de 220 municípios" do país, anunciou o líder daquela força na segunda-feira, sublinhando que o partido vai a votos sozinho para avaliar o seu "impacto", mas sem excluir acordos pós-eleitorais.

Questionado sobre acordos pós-eleitorais, o líder e deputado único do Chega frisou que o partido vai sozinho a votos no país todo "para ver qual é o impacto real que o Chega tem" e porque não quer colocar-se "debaixo de nenhum outro partido".

"Sim, estaremos disponíveis para coligações quando isso for para afastar o PS do poder, não, não estaremos disponíveis para vender o nosso ADN e a nossa identidade, por isso é que vamos sozinhos ao país todo", disse.

Ventura disse ainda que "o Chega tem o objetivo de ser a terceira força política nacional" e ficar à frente "quer do BE quer da CDU em número de votos" a nível nacional. De acordo com o líder, se o partido conseguir este resultado "pode alavancar a direita em Portugal", mas apenas se os outros partidos "fizerem o seu trabalho e cumprirem o seu papel".

O PAN, que é das novas forças o que tem mais representação parlamentar - são agora três deputados, depois de Cristina Rodrigues se ter desvinculado da bancada -, concorre a 43 câmaras municipais, com três coligações - Aveiro: Coligação Viva Aveiro (PAN + PS) Cascais: Coligação Todos Por Cascais (PAN + PS + Livre), Madeira: Coligação Confiança (PAN, PS, BE, MPT, PDR e Nós, Cidadãos!) e um candidato independente à Câmara de Vila Nova de Gaia.

E há ainda o Volt, que avança sozinho para três câmaras - Lisboa, Porto e Tomar - e com duas coligações, uma em Coimbra com o Movimento Somos Coimbra de José Manuel Silva, ex-bastonário da Ordem dos Médicos, que também reúne o apoio do PSD e CDS; e em Oeiras com o Movimento Evoluir Oeiras de cidadãos independentes, encabeçado por Carla Castelo, e que também congrega o BE e o Livre.

O líder do Volt Portugal, Tiago Matos Gomes, que é o cabeça de lista em Lisboa, afirma ao DN que o partido apostou na capital, Porto e Coimbra precisamente para ajudar a dar a conhecer a nova força durante a campanha eleitoral. Em coligação, o Volt acabaria por diluir-se e foi preciso concentrar os recursos naquelas três autarquias.

André Freire assinala o "esforço notável" que estes novos partidos estão a fazer nestas eleições autárquicas. "São eleições que exigem muito dos partidos, dado a escala de candidatos que têm de ser apresentados, quer à representação de género e ainda a questão financeira", frisa ao DN.

O professor do ISCTE realça ainda o facto de os partidos mais pequenos terem dificuldades na disputa de poder nas câmaras mais pequenas, que têm um número de vereadores muito reduzido e que tendencialmente geram maiorias absolutas.

É neste sentido que enquadra a posta de partidos como IL, o PAN, o Aliança e o Volt nos grandes centros urbanos e nas capitais de distrito. Uma lógica a que escapa o Chega com as suas mais de duas centenas de candidaturas.

"O Chega quer marcar terreno e pode haver sítios onde as pessoas estão descontentes com o status quo, mas duvido que se traduza em grandes resultados", afirma André Freire.

Mas mantém que "não é brincadeira nenhuma o número de candidaturas que apresentam", o que "revela ousadia e capacidade de mobilização de pessoas para ir a votos". Recorda, por exemplo, que o Bloco de Esquerda, partido com muito maior representação parlamentar, apenas conseguiu uma câmara, em Salvaterra de Magos, que perdeu em 2013 para o PS.

José Adelino Maltez também considera o esforço destes partidos mais jovens "interessante". "Vão acabar os anos dos pequenos partidos sem autarcas", afirma e projeta os resultados: "vamos supor que conseguem um número razoável de eleitos, isso dá-lhes solidez e estrutura".

Pega no exemplo do Chega e diz que André Ventura "aprendeu isso no PSD", quando foi vereador em Loures, viu que o poder autárquico ajuda os "partidos a resistir em tempos de crise". E é isso que procura no sistema autárquico, crescer e resistência. O politólogo destaca o facto de concorrem por esta força considerada de extrema-direita dissidentes de vários partidos, entre os quais PS e PSD. "Vamos ver como serão os resultados, mas no final destas eleições o Chega poderá ficar mesmo implantado no país", considera, apesar de não prever que exceda os 5% de votos à escala nacional.

José Adelino Maltez vê nesta movimentação dos pequenos e novos partidos um sinal muito positivo da democracia portuguesa. "Estas autárquicas estão a revelar muita vitalidade no sistema português e as autarquias são a zona mais dinâmica da democracia".

O poder autárquico ainda se reparte muito entre PS (158), PSD (98) e CDU (24), com o CDS a ter conquistado cinco autarquias nas últimas eleições. As últimas autárquicas também deram o poder a 17 independentes saídos de movimentos de cidadãos, entre os quais Rui Moreira, no Porto. Moreira é mesmo uma exceção, já que a maioria dos independentes que conquistaram câmaras tinham passados partidários.

Há quatro anos, os independentes representaram a quarta força política a nível autárquico com 6,7% dos votos obtidos em todo o país. Foram eleitos em Aguiar da Beira, Vila do Conde, Peniche, Águeda, Anadia, Vizela, Borba, Estremoz, Redondo, Oeiras, Portalegre, Porto, Vila Nova de Cerveira, São João da Pesqueira, Ribeira Brava, São Vicente e Calheta.

paulasa@dn.pt

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