Novo ciclo de Costa: mais economia e combate aos lóbis
António Costa subiu ontem ao palco da FIL, em Lisboa, para se dizer um otimista que não desconhece as dificuldades. Para trás ficaram - e um vídeo exibido um pouco antes sublinhou-o - as medidas imediatas com que o governo cavou o fosso para o executivo anterior: a reversão de cortes nos rendimentos, a devolução dos feriados, a adoção por casais homossexuais ou o aumento do salário mínimo.
Para trás ficou esta agenda de curto prazo. Agora os tempos serão outros - o de fazer crescer a economia. "Temos de resolver e responder e superar os bloqueios estruturais", explicou o secretário-geral do PS no discurso de 63 minutos com que encerrou o 21.º Congresso socialista.
No cenário (e nas palavras de Costa) mudou o slogan: a frase "Prometemos, cumprimos", que estava no palco, deu lugar a "Cumprir a esperança" - e essa é a "principal tarefa" do governo daqui para a frente.
O líder socialista recuperou os seis pilares do Programa Nacional de Reformas, apresentado no final de abril, como a "nova estratégia" que guiará o governo. E daí ao anúncio de medidas foi um passo: um programa de qualificação de adultos; uma nova prestação para cidadãos com deficiência; e um programa lançado já hoje para as empresas startup, para além do programa "Industrialização 4.0".
A estes anúncios, Costa antecipou que o programa de manuais escolares gratuitos arranca já com o próximo ano letivo - e neste momento tirou da cartola um elogio ao ministro da Educação. "É por isso que temos um ministro que tem a coragem de enfrentar os lóbis e dizer que o dinheiro tem de ser bem gerido e deve ser aplicado onde é necessário."
O Congresso levantou-se para a maior ovação dos três dias de trabalhos, depois de durante a manhã uma manifestação ruidosa de trabalhadores de colégios privados se ter colocado em frente à porta da reunião magna socialista (ver p. 4).
Costa abriu um parêntesis: "Acho graça, porque às vezes ouço dizer que o PS está num desvio radical e esquerdista, quase querendo competir com o Bloco de Esquerda. Mas, como já ando aqui há muitos anos e sempre fui um moderado social-democrata, recordo-me sempre que tudo aquilo que ouço agora dizer sobre Tiago Brandão Rodrigues não é sequer metade do que disseram quando António Arnaut lançou o SNS", declarou, para nova ovação.
António Costa notou que, desde 2000, o país vive "uma longa e prolongada estagnação", sem capacidade de responder "aos bloqueios estruturais que nos têm acompanhado sem solução". O líder do PS defendeu que "o maior défice" é o da "qualificação dos adultos". "É por isso que em setembro iremos lançar um programa que se chama Qualifica para que não seja a bandeira de ninguém, mas de todos."
Costa temperou o discurso eurocético que se entranha no PS. "Bem sei que por vezes é difícil ser socialista no quadro da União Europeia (UE), mas há uma coisa sobre a qual não tenho a menor das dúvidas: é que fora do quadro da UE é impossível ser socialista", atirou. E é dessa Europa que o líder do PS espera que não venham sanções, elogiando Marcelo Rebelo de Sousa por se bater na Europa contra a penalização de que o país poderá ser alvo por ter tido um défice em 2015 superior em duas décimas aos 3% impostos pelo Tratado Orçamental. "É com muito gosto que tenho visto o Presidente da República bater-se em Portugal e em Berlim pela causa de Portugal e para que nenhuma sanção seja aplicada", disse.
Para Costa, a aplicação dessas sanções seria algo "incompreensível", "absurdo" e uma "enorme injustiça" para os portugueses, prosseguiu. E desafiou todos os partidos, da direita à esquerda, para que "aprovem por unanimidade" no Parlamento "uma resolução contra a aplicação de sanções a Portugal".
Porta aberta para apoiar Moreira
Sem nomear um município nem um autarca em particular, António Costa escancarou ainda a porta ao apoio à recandidatura de Rui Moreira no Porto. Saudando as experiências em que o PS acolheu nas suas listas movimentos independentes de cidadãos, disse que o contrário também "é natural" quando a gestão nesses municípios estiver a correr bem.
No final, com um sorriso nos lábios, admitiu que é um otimista. "Tem-me feito bem à saúde." Acrescentou: "Se pudesse prescrever uma receita: sejam otimistas!" "O país é capaz", apontou. "E vai ser capaz de vencer esta crise, se for capaz de se bater na Europa, sem bravatas e sem subserviências", rematou.