Nova líder de Taiwan em rota de colisão com Pequim
A nova presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, toma hoje posse como primeira mulher a dirigir a ilha, que Pequim considera uma província secessionista, numa atmosfera onde se acentuam os elementos de tensão. O seu governo tem como prioridade a aprovação de uma lei que visa controlar as relações comerciais com a República Popular da China (RPC), o que esta já criticou de forma inequívoca.
A nova lei, dita de supervisão, prevê que qualquer representante do governo de Taiwan só pode iniciar, desenvolver e concluir negociações com a RPC, após luz verde do Parlamento de Taipé, a capital da ilha. Na prática, em todos os setores de atividade económica, nada pode ser concretizado sem a aprovação prévia da Assembleia onde a formação da presidente, o Partido Democrático Progressivo (PDP), hoje empossada detém a maioria.
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A ideia inicial da lei surgiu no âmbito dos protestos estudantis de 2014 em que foi criticado o Kuomintang (KMT, Partido Nacionalista Chinês), então no poder, por tornar Taiwan excessivamente dependente da economia chinesa e das trocas comerciais com Pequim. Uma das razões da histórica derrota eleitoral do KMT nas presidenciais e legislativas de janeiro assentou num projeto de acordo comercial que o partido agora na oposição pretendia celebrar com Pequim.
O PDP suspeita que o reforço e intensificação das relações entre a ilha e a China continental é parte da estratégia da RPC para tornar, aprazo, inevitável a integração.
Em 1948, durante a guerra civil entre o governo do KMT e a guerrilha comunista liderada por Mao Tsé-tung, os primeiros refugiaram-se em Taiwan, mantendo a República da China, fundada em 1912 por Sun Yat-sen, enquanto em Pequim Mao proclamava a RPC. Desde então, esta considera a ilha uma província secessionista. Na atualidade, o PDP, cuja base eleitoral assenta em pessoas já nascidas na ilha, não tem cessado de afirmar a consciência de uma identidade própria entre os cidadãos de Taiwan, cultural, política e social, não dependente de qualquer vínculo com a China continental. Uma atmosfera reforçada com o desaparecimento da geração que se refugiou na ilha no final dos anos 40, com o então presidente Chiang Kai-shek. O que só pode provoca ira entre os governantes de Pequim.
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Receios na liderança chinesa
Não terá sido mero acaso que, pouco antes da tomada de posse de Tsai Ing-wen, a RPC tenha realizado manobras militares na costa sudeste face a Taiwan. Embora as autoridades de Pequim afirmem tratar-se de exercícios anuais, o facto de o PDP deter, pela primeira vez, a presidência e o governo, não pode deixar de originar alguns receios na liderança chinesa. Em especial após o momento alto vivido na vigência do governo do KMT, em que se verificou uma aproximação sem precedentes entre os governos de ambos os lados do Estreito da Formosa. Uma época que teve o seu momento alto quando o presidente cessante de Taiwan, Ma Ying-jeou, e o seu homólogo de Pequim, Xi Jinping, se encontraram em Singapura, em novembro de 2015.
Agora, círculos empresariais em Taiwan antecipam "um severo golpe para o crescimento da frágil economia" da ilha, declarava ontem à Reuters o presidente do Conselho para o Desenvolvimento Comercial e Industrial, Liao Wan-lung. Do lado de Pequim, a crítica é idêntica, só que expressa de forma distinta. "Devemos opor-nos aos obstáculos criados pelo homem" nas relações entre a RPC e Taiwan, dissera em março um porta-voz da agência de Pequim responsável pelas relações bilaterais.
Para a nova presidente e para o seu partido é fundamental assegurar a soberania da ilha. Como justificou ontem à Reuters o líder da bancada parlamentar do PDP, Wu Ping-jui, "a feitura desta lei não irá ser feita como Pequim quer. A presidente Tsai Ing-wen garantiu que irá manter o statu quo. O que significa para o PDP é que Taiwan é soberanamente independente e não será controlado pela China". O KMT, na oposição, já anunciou que votará contra a lei.
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