Nova era na moda: dança de cadeiras deixa agora cair a CEO da Chanel

Depois da Dior, da Balenciaga e da Lavin, que perderam os seus diretores criativos, Maureen Chiquet deixa a casa francesa
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Maureen Chiquet, até agora a CEO da casa Chanel, deixou o lugar no final de janeiro, engrossando assim a lista de nomes que nos últimos tempos deixaram os seus cargos nos principais impérios de marcas de moda de luxo. A norte-americana deixa a casa francesa - onde estava desde 2003 - devido a "diferenças de opinião acerca da direção estratégica da empresa", de acordo com um comunicado da marca. O lugar é ocupado agora por Alain Wertheimer, um dos donos da Chanel. O irmão Gérard é o outro sócio. Os dois estão na lista dos homens mais ricos de França. Esta saída é a mudança mais surpreendente, mas não é a única, e marca aquilo que parece ser o início de uma nova era no mundo da alta-costura.

O ano passado, três diretores criativos das maiores casas de moda também deixaram os seus cargos: Alber Elbaz, da Lanvin, Alexander Wang, da Balenciaga e Raf Simons, da Dior, foram baixas de peso, mas a saída de Maureen Chiquet deixou o mundo da moda boquiaberto. Maureen era uma das mais antigas líderes da indústria de alta-costura e uma das poucas mulheres que tinham alcançado -e mantido - posições de topo neste negócio multimilionário. Também não era de esperar que a casa Chanel fosse uma das atingidas por esta sede de mudança. Afinal, a família Wertheimer controla a marca desde 1924 e o designer Karl Lagerfield tem mantido o seu posto desde 1984 , o que é considerado um recorde numa função conhecida pela sua alta rotatividade.

O anúncio da saída de Maureen aconteceu um dia depois da Chanel ter apresentado a sua coleção de alta-costura na semana de Moda de Paris. A marca de luxo francesa não adiantou mais informações acerca das "diferenças" que terão estado na origem desta saída da sua competente CEO, limitando-se a agradecer, no mesmo comunicado, "os serviços prestados" e desejando-lhe "sorte nos futuros projectos". Mas os elogios foram feitos. A Chanel agradeceu o trabalho realizado por Maureen Chiquet ao longo de nove anos, salientando que esta "conduziu a expansão internacional da marca, aumentou o seu posicionamento no mercado de luxo e ainda fez crescer o negócio em todas as suas categorias". Então, o que terá acontecido?

Maureen Chiquet, de 52 anos, começou a sua carreira como diretora criativa para o gigante de cosméticos francês L"Óreal. Regressou aos EUA para integrar a GAP e em 2003 juntou-se à filial da Chanel na América. Em 2007 chegou ao topo, sendo nomeadada CEO de uma empresa que não está cotada em Bolsa e nunca revela oficialmente os seus resultados. De acordo com o Bloomberg, em 2014 a Chanel encerrou o ano com um volume de negócios de 6300 milhões de euros e um lucro de 1300 milhões de euros. A estratégia estaria a resultar.

No caso da marca espanhola Balenciaga, o divórcio de Alexander Wang, o seu diretor criativo desde 2012, é justificado pela fama do próprio Wang. Contratado depois da tumultuosa saída de Nicolas Ghèsquiere, que permanecera 15 anos no mesmo lugar, a Balenciaga esperava reposicionar-se no mercado asiático. Alexander é norte-americano de origem asiática e fala inglês e mandarim com a mesma fluência. Wang surgira num videoclipe da cantora Madonna, lançara uma coleção com o seu nome e soubera sempre atrair os famosos certos. Era a parceria perfeita, mas o sucesso do designer - e da sua própria coleção - começara a fazer sombra à Balenciaga. No s círculos mais restritos deste negócio já se discutia que a marca espanhol apretendia fazer algo que a Gucci testara, e com bons resultados: contratar alguém menos conhecido. O mesmo terá acontecido com Raf Simons, que esteve três anos e meio à frente da direção criativa da Dior e que também não renovou contrato. Simons fez um comunicado de imprensa em outubro de 2015, justificando a sua saída com a necessidade de concentrar-se "em outros interesses", como a sua "própria marca de roupa".

A francesa Lanvin acabaria por enfrentar o mesmo problema -e na mesma altura, no final de 2015 - quando Alber Elbaz decidiu deixar a direção criativa da marca, onde estava há 14 anos. A sua saída estaria ligada a divergências - tal como acontece agora com Maureen Chiquet - com a proprietária da marca, a magnata de Taiwan, Shaw-Lan Wang. Wang, que comprara a Lanvin em 2011, estreara-se no mundo da moda mas já estava a pensar em vender a empresa. Elbaz queixara-se da "falta de estratégia e inversão da empresa, sobretudo em relação mercado asiático. Terá sido o que aconteceu com Maureen Chiquet? Este pode ser o mundo dos holofotes, mas o segredo ainda é a alma do negócio.

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