Noite "aterradora" em Paris revivida hoje no Canal História
Paris. Sexta-feira, 13. Ouviram-se disparos, bombas e gritos de terror. Alguns, nem tempo tiveram de gritar. O Estado Islâmico chegou e 129 pessoas sentiram-no na pele. Mas muitas questões ficaram no ar: Para onde fugiram? Quantas foram as vítimas? Como podemos pará-los? Procurar essas e outras respostas tornou-se prioridade do canal História, que agiu em parceria com a NBC News. "Conseguimos enviar produtores, operadores de câmara e suporte logístico para Paris numa questão de horas". Tudo foi orquestrado ao pormenor. "Tínhamos duas equipas destacadas, uma filmava e a outra ia arranjando testemunhas oculares e sobreviventes para entrevistarmos mais tarde".
Quem nos conta tudo isto é Sally Habbershaw, uma das produtoras de ISIS: Terror em Paris. O documentário de uma hora, filmado nos sete dias que se seguiram à fatídica noite, chega esta noite, pelas 22.00, ao canal História português, depois de se ter estreado no Reino Unido na passada sexta-feira.
Os jornalistas na frente de batalha entraram em contacto com "sete testemunhas" - entre eles o dono da sala de espectáculos Bataclan, Daniel Habrekon, e alguns médicos, como Michel Bonnot - e com "oito especialistas" em terrorismo internacional.
[citacao:Conseguimos enviar produtores, operadores de câmara e suporte logístico para Paris numa questão de horas]
As dificuldades, revela ao DN Habbershaw, foram "sobretudo jornalísticas". "Queríamos estar em cima dos acontecimentos e encontrar testemunhas credíveis. Mas tivemos de estar sempre conscientes do que se passava e lembrarmo-nos de que esta história era sobre mortes terríveis de seres humanos inocentes. É fácil perdermo-nos no drama de tudo isto. Tivemos que manter a ética de trabalho, arranjar material, filmar em diferentes formatos e cumprir prazos", explica.
"Foi uma experiência aterradora?", perguntámos-lhe. "Foi", reconheceu, "mas todos os que trabalharam no local tiveram treinos de segurança. Os jornalistas da nossa equipa em Paris já cobriram guerras na Bósnia, no Kuwait, no Iraque, na América Central... Com essa experiência, vem uma maior consciência da segurança. São grandes profissionais mas, naturalmente, o primeiro instinto de qualquer pessoa é sentir medo. Não senti-lo, é perder a noção do que se passa", frisou a responsável.
A equipa do História filmou também o cerco feito pela polícia francesa aos suspeitos, no dia 18 de novembro, quando o cabecilha dos ataques foi morto, juntamente com outros militantes do auto-proclamado Estado Islâmico. Neste especial, para além da tragédia recente, são também recordados outros avanços terroristas vivos na nossa memória, como o ataque à redação do Charlie Hebdo, em janeiro, ou o atentado em Londres.
"Todos os ataques propagandistas destroem vidas inocentes de forma a maximizar a publicidade do território ou grupo. Este nosso trabalho é muito importante, porque mostramos essa realidade mas, simultaneamente, procuramos distanciar-nos jornalisticamente de tudo isso", sublinha Sally.
Só que as emoções mudam quando a produtora despe a farda de trabalho e passa a pensar "como espectadora, mãe e pessoa que vive numa grande cidade como Nova Iorque". "É assustador. Eu tenho um filho de sete anos e hoje, por exemplo, a escola fez uma simulação de emergência para que as crianças se habituem a evacuar os edifícios rapidamente em casos como este. O meu marido acabou de me enviar um email a dizer "Vamos viver para uma ilha deserta"".
ISIS: Terror em Paris será transmitido em todos os países onde a estação A+E (que abarca o canal História) está presente. Por isso, fizemos uma última questão: "Qual o papel do jornalismo e da televisão no combate ao terrorismo?". Habbershaw respondeu de imediato. "É educar. Se as pessoas não estiverem informadas, não podem escolher lados. É quase irresponsável não perceber o que aconteceu".