No Minnesota onde Trump perdeu uma refugiada foi eleita
Uma bofetada de luva branca. É como se pode caracterizar a vitória de uma ex-refugiada, muçulmana e democrata, que se tornou a primeira deputada americana de origem somali na América conservadora e anti-imigração de Trump.
Ilhan Omar, 34 anos, ganhou a corrida para a Câmara dos Representantes pelo estado do Minnesota, um dos poucos onde o Partido Democrata venceu, ainda que por muito curta margem. Hillary Clinton conseguiu 46,8% dos votos no Minnesota enquanto Donald Trump atingiu os 45,4%.
Mas, mais do que isso, a vitória de Ilhan Omar é a derrota do presidente eleito numa das bandeiras que ergueu com mais vigor, o medo dos muçulmanos. Ainda em plena campanha eleitoral, no último domingo, o agora presidente eleito tentou ganhar os eleitores do Minnesota apelando ao alegado pavor que teriam dos imigrantes somalis. Trump avisou, nesse evento, para "os largos números de somalis que invadem o vosso estado sem o vosso conhecimento", como registou a imprensa norte-americana.
O largo sorriso de Ilhan Omar quando soube que tinha sido eleita simboliza a história a ser feita, com um subtexto de fina ironia. De pé, na sede do distrito 60 de Minneapolis, que a elegeu, Ilhan fez um discurso de vitória conciliador.
"Os meus vizinhos e todos os que estão nesta sala representam o que queremos ser enquanto nação: unidos na nossa diversidade. Residentes no país há muito tempo, os imigrantes e estudantes africanos uniram-se e envolveram-se no progresso político. Falamos dos temas que nos preocupam e estamos ligados num futuro que queremos criar."
Ilhan Omar chegou aos Estados com 12 anos, em fuga da guerra civil que devastou a Somália. Antes de chegar à América passou quatro anos num campo de refugiados no Quénia, segundo recordou o jornal The Star Tribune.
Imigrou para os Estados Unidos era ainda uma pré-adolescente que falava muito pouco inglês. A família de Ilhan instalou-se na zona de Cedar-Riverside em Minneapolis.
Omar tornou-se uma mulher ativista, mãe de três filhos, que recentemente exercia o cargo de diretora de iniciativas políticas na organização Women Organizing Women, um grupo dedicado a apoiar as mulheres estrangeiras na sua integração nas comunidades que integram quando chegam aos EUA.
Ciente de que agora está na América de Trump, a deputada somali não parece querer desviar-se dos seus objetivos de inclusão: "Vamos continuar a construir um distrito, estado e nação mais prósperos e equitativos, onde cada um de nós possa ter oportunidades e onde todos avançamos em conjunto."