No adeus a Putin, Merkel recebe flores e pede liberdade para Navalny

Em conferência de imprensa conjunta, a chanceler alemã, que deixa o cargo após 16 anos, disse ter insistido na libertação do opositor. A resposta de Putin foi um rotundo "não".
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À chegada ao Kremlin, a chanceler alemã Angela Merkel defendeu o diálogo com a Rússia, apesar das suas "diferenças profundas". Mas no final do encontro com o presidente Vladimir Putin, na sua última visita a Moscovo antes de deixar o poder nos próximos meses, Merkel disse aos jornalistas ter pedido ao chefe do Estado russo que liberte o opositor Alexei Navalny, no aniversário do seu envenenamento.

"Uma vez mais, pedi ao presidente russo a libertação de Alexei Navalny [atualmente detido na Rússia] e deixei claro que vamos continuar a fazê-lo", afirmou Merkel numa conferência de imprensa conjunta.

Um apelo que foi imediatamente rejeitado por Putin. Em resposta a Merkel, o líder russo afirmou que Alexei Navalny não foi detido "pelas suas atividades políticas", mas sim por "uma infração criminal com parceiros estrangeiros".

O caso de Alexei Navalny, cujo envenenamento, pelo qual o opositor e o Ocidente responsabilizam o poder russo, é um caso delicado nas relações germano-russas.

Berlim recebeu Navalny quando ele estava em coma, há um ano, e foram os cientistas do exército alemão que identificaram o veneno utilizado, uma substância neurotóxica desenvolvida pelos militares da época soviética.

Em janeiro, e após um período de convalescença na Alemanha, Navalny regressou à Rússia e seria imediatamente detido.

Posteriormente, foi condenado a dois anos e meio de prisão no âmbito de um processo de fraude que, segundo denuncia o opositor russo, tem motivações políticas.

As autoridades russas passaram os últimos meses a desmantelar a rede de Navalny antes das eleições legislativas de setembro. As organizações do opositor foram classificadas e enquadradas como "extremistas"; sites de internet ligados a ele, bloqueados; e os seus aliados, postos em liberdade condicional.

Militante anticorrupção, Navalny é conhecido, especialmente, pelas suas investigações sobre o estilo de vida e a malversação financeira das elites económicas russas, incluindo Putin e os seus próximos.

Ontem, Putin garantiu que "a luta contra a corrupção é muito importante" e que a Rússia fará "todo" o possível para erradicá-la. Enfatizou, porém, que "não pode ser usada para fins políticos".

Numa mensagem publicada nas suas redes sociais, a partir da prisão Navalny agradeceu a todos os que salvaram a sua vida e disse que continuará a sua luta. E num artigo publicado em três jornais europeus - o britânico The Guardian, o alemão Frankfürter Allgemeine Zeitung e o francês Le Monde -, Navalny repreendeu os líderes ocidentais por relegarem a luta contra a corrupção para um item de "agenda secundária" e disse que a corrupção desempenha um papel essencial nas falhas políticas, incluindo no Iraque e no Afeganistão. "Foi precisamente o facto de o Ocidente ter "ignorado" a corrupção total no Afeganistão que tornou este fator crucial na vitória dos talibãs", escreveu Navalny.

Quanto a Merkel, depois de depositar flores no túmulo do soldado desconhecido em Moscovo, foi recebida no Kremlin pelo próprio Putin, que a esperava com um ramo de flores. "Embora tenhamos profundas divergências, conversamos. E deve continuar assim", disse Merkel, que nos 16 anos no poder teve uma relação complexa e ambígua com o presidente russo.

Merkel, que fala russo e cresceu na Alemanha de Leste, e Putin, que fala alemão pelos seus anos de serviço no KGB na Alemanha de Leste, sempre reivindicaram ter estabelecido uma verdadeira relação de trabalho, apesar das suas diferenças.

Nesta 20.ª viagem oficial à Rússia, Merkel encerra a relação com a constatação do fracasso num assunto que estabeleceu como prioridade: a resolução do conflito entre Rússia e Ucrânia, em ponto morto. A chanceler alemã viajará amanhã para Kiev, onde se reunirá com o presidente Volodimir Zelenski.

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