Ninguém sai vivo da piscina de Penélope

O coletivo Artistas Unidos estreia, hoje, no Teatro da Politécnica, mais uma peça de Enda Walsh. Uma piscina com evocações de Homero e James Joyce.
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Mais de cem homens reuniram-se junto à varanda de uma mulher para tentarem conquistar. Vinte anos depois restam apenas quatro. Entre alianças e ódios decidem formar uma empresa. Objetivo: conquistar a bela e inacessível Penélope. Esta tragédia com vestígios de absurdo e metáfora política estreia-se hoje no Teatro da Politécnica, em Lisboa, pelos Artistas Unidos.

Numa piscina vazia, como muitas que abundam neste Portugal que de repente se descobriu pobre, habitam quatro homens, ou o que resta deles. Vivem como mendigos, comportam-se como animais, enlouquecem aos poucos. A peça chama-se 'Penélope' mas os protagonistas são os seus "patéticos admiradores que contra todas as evidências continuam a acreditar que serão bem sucedidos" explica Jorge Silva Melo.

O encenador regressa ao dramaturgo irlandês Enda Walsh (que o grande público conhece do filme 'A Fome', de 2008 protagonizado Michael Fassebender), depois de ter encenado A Farsa da Rua W e Acamarrados.

Quem olha aquelas quatro figuras ( João Vaz, José Neves; Pedro Carraca e Pedro Luzindro) a deambular dentro de um buraco enquanto inventam formulas ridículas para seduzirem Penélope dificilmente não se lembrará de À Espera de Godot, a emblemática peça de outro irlandês, Samuel Beckett.

Porém, nesta Penélope o absurdo e o desamparo são sublinhados de uma forma mais crua e menos metafórica, com uma piscina com televisão, grelhador e aparelhagem de musica. Da sua inacessível varanda a mulher de Ulisses prefere assistir ao espetáculos dos seus admiradores a matarem-se uns aos outros através de um ecrã de televisão.

Ela não parece comover-se e o sacrifício daqueles homens torna-se ainda mais risível e vão. "Sempre me interessei pelos pretendentes, nunca são explorados na arte. Eles são o contrário da procura heroica. São o patético", diz Enda Walsh.

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