Escultor de civilizações, fonte de vida para toda uma vastidão imensa no nordeste do continente africano - com 6800 quilómetros de extensão é o maior rio de África, disputando com o Amazonas, no Brasil, o título de maior rio do mundo -, o Nilo encerrava até agora um grande mistério: o da perenidade do seu leito, correndo de Sul para Norte..Que forças geológicas manteriam aquele rio no seu curso imutável, condicionando com isso, de forma indelével, o próprio curso da história humana?.Esta era uma pergunta que há muito andava no ar entre os cientistas, mas sem resposta - até agora. Um grupo internacional de cientistas que estudou diferentes sedimentos do rio, incluindo as rochas vulcânicas da região planáltica da Etiópia, e depois fez simulações computacionais para traçar a vida do rio até ao passado mais longínquo, contabilizou agora pela primeira a idade do Nilo - os tais 30 milhões de anos, seis vezes mais do que se pensava..Com esse estudo, que publica hoje na revista científica Nature Geoscience , a equipa conseguiu desvendar também o mistério do rio fiel ao seu leito há 30 milhões - os mesmos da sua própria existência..Movimentos lentos no interior do manto terrestre.De acordo com a equipa liderada por Claudio Faccena, professor e investigador da universidades de Roma e de Austin (Estados Unidos), foram os movimentos da rochas no interior do manto da Terra, aquela camada geológica que fica logo abaixo da crosta terrestre, que condicionaram o leito do rio e o mantiveram praticamente imutável ao longo de toda a sua existência.."Uma das grandes questões acerca do Nilo é exatamente essa, de quando surgiu e por que motivo se manteve inalterado durante tanto tempo", afirmou Claudio Faccena, citado num comunidade da universidade de Austin, sublinhando, que a solução encontrada pelo seu grupo para poder vez essa avaliação "é muito entusiasmante."..O resultado da investigação mostra que foram os movimentos lentos das rochas no interior do manto da Terra sob aquela região do continente africano que permitiram ao Nilo manter o seu curso estável ao longo dos seus 30 milhões de anos de existência, com isso moldando também a história humana, que nos últimos milénios esteve intimamente associada ao florescimento de sucessivas civilizações naquele fértil espaço geográfico banhado pelo rio..O modelo concebido pela equipa mostrou que uma pluma subterrânea de rocha quente, no interior do manto, chegou há 30 milhões de anos à região sobre a qual se ergue o planalto da Etiópia, dando origem à erupção vulcânica cuja lava acabou por formar o próprio planalto. Essa pluma ativou uma corrente geológica que se mantém até hoje e que acabou por condicionar o curso do próprio rio..O manto da Terra é composto por rochas sólidas que se movimentam como um fluído por longos períodos e, tal como acontece nos oceanos à superfície, diferentes zonas do manto têm também movimentações diversas. Ali é tem sido mais lenta e na direção sul-norte..Foi a técnica da análise geológica das rochas e sedimentos do rio em diferentes pontos combinada com simulações computacionais que permitiu chegar aos novos dados. A equipa pretende agora aplicar esse novo método de análise a outros rios do mundo, igualmente complexos e, como o Nilo, também eles intimamente ligados à história humana, que são o Yangtzé e o Congo.