Dono da Fidelidade terá sido detido pelas autoridades chinesas
O dono e fundador do grupo chinês Fosun está desde ontem incontactável. Segundo a imprensa chinesa, o milionário Guo Guang-chang terá sido detido pela polícia chinesa no Aeroporto de Xangai. Não há, porém, informações disponíveis sobre se o empresário de 48 anos é suspeito de algum crime ou se será testemunha numa investigação. Segundo a Forbes, rumores do seu desaparecimento circularam nas redes sociais durante toda a tarde de ontem. A publicação avança que não são conhecidas as causas do desaparecimento do milionário chinês nem se terá sido detido na sequência de uma investigação a suspeitas de corrupção, mas indica que este tipo de "desaparecimentos públicos normalmente acontece antes de um anúncio oficial".
Ontem, o DN procurou esclarecimentos junto da assessoria de imprensa da Fosun em Portugal, onde o grupo tem investido nos últimos anos, mas não obteve qualquer resposta aos contactos telefónicos. A Fosun conta com uma participação de 5,3% na REN através da seguradora Fidelidade - que comprou à Caixa Geral de Depósitos em 2014 - e detém a Luz Saúde (ex-Espírito Santo Saúde). O conglomerado chinês esteve também em negociações com o Banco de Portugal para ficar com o Novo Banco. Apesar de não ter sido escolhida, a Fosun ficou entre as três finalistas e quando a negociação entre o Banco de Portugal e a Anbang (vencedora da corrida) falhou, o grupo de Guo Guangchang foi chamado a sentar-se à mesa com Carlos Costa. O negócio acabou por não acontecer.
As suspeitas
Em agosto, a agência chinesa Xinhua adiantou que a Fosun estava a ser investigada num processo sobre favorecimento que pode configurar corrupção. Segundo o jornal inglês Finantial Times, o caso envolvia suspeitas entre duas empresas: Fosun e Shanghai Friendship Group, liderado pelo empresário Wang Zongnan, entretanto condenado a 18 anos de prisão por desfalque e subornos. Wang terá cedido benefícios à Fosun e também terá havido favores no sentido inverso, de acordo com a mesma agência.
No caso da Fosun, o que estaria em causa na investigação era a venda de duas vivendas pela companhia imobiliária da Fosun. A operação foi feita em 2003, quando a família de Wang Zongnan comprou os imóveis por 2,1 milhões de yuans, cerca de 300 mil euros - 2,7 milhões de yuans (387 milhões de euros) abaixo do preço de mercado.
Na altura, o grupo de Guang-chang reagiu às suspeitas em comunicado: "Consideramos que os preços de venda dos imóveis se encontravam dentro do intervalo de desconto razoável oferecido pelas imobiliárias num ambiente económico de extrema recessão vivido na altura." E negou qualquer favorecimento na ligação ao grupo de Wang: "A Fosun nunca procurou benefícios inapropriados da cooperação existente com a Shangai Friendship Group; não houve lugar a qualquer proveito de Wang para o grupo."
No ano passado, o Hurun Report, uma publicação chinesa conhecida por divulgar a lista dos mais ricos no país, colocou Guo em 32.º lugar na lista dos chineses milionários, com uma fortuna avaliada em 3700 milhões de euros. Já a Forbes situa-o em 11.º lugar entre os mais ricos, com um património de 6,3 mil milhões. Ainda assim, muito longe do seu amigo Jack Ma, o fundador da Alibaba - empresa de vendas online com uma fortuna avaliada em 20 mil milhões de euros -, que o aconselhou a praticar tai-chi. Segundo as informações disponíveis, Guo Guang-chang foi estudante de Filosofia na Universidade de Fudan, em Xangai, com uma bolsa do Estado. Para fazer dinheiro, vendia pão no dormitório universitário. Em 1999, já era presidente de uma empresa que faturava milhões e continuava a investir no conhecimento, tendo um MBA da mesma universidade. Hoje, dirige uma das maiores empresas da China.
As compras em Portugal
Em Portugal, os investimentos começaram em maio de 2014, com a compra de 80% do capital da seguradora Fidelidade. Uma aquisição das seguradoras do grupo da CGD - a valer 30% do negócio segurador em Portugal -, que permitiu ao Estado encaixar mil milhões de euros. Quatro meses depois desta primeira compra, o grupo avançou com uma proposta para a Espírito Santo Saúde, que detinha o Hospital da Luz. Durante o processo de compra, realizada através da Fidelidade, a Fosun jogou uma importante cartada, subindo em dez cêntimos a proposta inicial de 4,72 euros por ação, superando o concorrente, a Angeles (grupo mexicano). Os chineses pagaram 478 milhões pela compra.
Em setembro deste ano, a negociação com a Fosun para a compra do Novo Banco falhou depois de o grupo ter apresentado um valor de cerca de metade do que pedia o Banco de Portugal. Notícias publicadas na altura indicam que o grupo apenas estava disposto a pagar 1,5 mil milhões, longe dos 3,9 mil milhões que o Estado meteu no Fundo de Resolução para garantir a injeção de que o banco precisava.