Neta de Winston Churchill defende que a estátua do avô talvez tenha que ir para um museu

A estátua do primeiro-ministro inglês foi vandalizada em Londres e em Praga, à semelhança de outras figuras históricas associadas ao colonialismo e ao racismo, na sequência das manifestações antirracistas que marcaram a semana um pouco por todo o mundo. Emma Soames, neta de Churchill, diz que o avô estaria mais seguro num museu.
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Não foi derrubada, como a do traficante de escravos Edward Colston em Bristol, Inglaterra, mas foi pintada. "Was a racist" ["Era um racista"] escreveram os manifestantes na estátua erguida em homenagem a Winston Churchill, o homem que ocupou por duas vezes o cargo de primeiro-ministro do Reino Unido e dirigiu os destinos do país durante a Segunda Guerra Mundial. A acusação foi apagada e a estátua na Praça do Parlamento, em Londres, tapada com lonas e guardada por polícias.

A neta de Winston Churchill, não negando a controvérsia de algumas das visões do avô, disse, em entrevista à BBC, que se sentia chocada por ver o monumento em sua homenagem coberto e envolto em tal polémica e que talvez fosse melhor colocá-lo num museu, para o proteger, caso as manifestações continuem.

Emma Soames disse ainda à estação de televisão britânica que o histórico primeiro-ministro britânico era um "homem complexo", mas era considerado um herói por milhões de pessoas.

"É extraordinariamente triste que o meu avô, que era uma figura tão unificadora neste país, pareça ter-se tornado um ícone por ser controverso. Chegámos a um ponto e que a história é vista unicamente através do prisma do presente", disse Emma Soames à BBC, reconhecendo que o avô defendia pontos de vista que "particularmente agora são encarados como inaceitáveis, mas não o eram no seu tempo."

A ativista do movimento Black Lives Matter, Imarn Ayton, concorda que estátuas de colonialistas e racistas devem ser retiradas do espaço público e transferidas para museus.

"Penso que é uma solução em que todos ganham. Deixamos de ofender a população negra e preservamos a história", disse à BBC.

O primeiro-ministro Boris Johnson, que na sexta-feira mandou cobrir a estátua de Churchill de forma a protegê-la de mais atos de vandalismos, diz, citado pela BBC, que apesar de as visões defendidas pelo seu histórico antecessor serem "inaceitáveis para nós hoje", este continua a ser uma figura heroica que salvou o país de uma "tirania racista e fascista".

"Não podemos editar ou censurar o nosso passado. Não podemos fingir que temos uma história diferente", escreveu Johnson, a propósito da remoção de estátuas a figuras históricas controversas.

Winston Churchill, que nasceu em 1874, morreu em 1965, e dirigiu os destinos da Grã-Bretanha durante a segunda guerra mundial era um defensor do império colonial e da superioridade dos colonizadores face aos povos indígenas. E não se coibia de o dizer.

A destruição e vandalização de estátuas erigidas a figuras associadas ao colonialismo, esclavagismo e racismo têm marcado os protestos antirracistas que em todo o mundo foram desencadeados pela morte do afro-americano George Floyd à mão da polícia nos EUA.

No sul de Inglaterra, em Poole, as autoridades municipais mandaram remover a estátua de Robert Baden-Powell, o fundador do movimento escotista, que tem mais de 54 milhões de membros em todo o mundo, por causa das simpatias nazis do antigo herói de guerra britânico, que morreu em 1941.

Em Hamilton, na Nova Zelândia, foi também retirada, pela Câmara Municipal, a estátua do capitão britânico John Hamilton, que deu o nome à cidade, depois de um líder do povo Maori ter ameaçado derrubá-la, uma vez que glorifica o poder colonial britânico e representa um homem que oprimiu e tentou dizimar o povo nativo Maori, no século XIX.

Em Portugal, a semana foi marcada pela vandalização da estátua do padre António Vieira, jesuíta e nome maior da literatura portuguesa, que, não obstante ter sido uma voz crítica da forma como os colonizadores portugueses tratavam os povos indígenas do Brasil, foi pintado de vermelho, com os dizeres "descoloniza". As três crianças indígenas aos seus pés terão sido a razão da pichagem, de imediato mandada limpar pela Câmara Municipal de Lisboa.

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