NATO diz que Ucrânia pode vencer a guerra e promete apoio enquanto necessário

Encontro de chefes da diplomacia da Aliança Atlântica em tom otimista quanto à defesa de Kiev e à adesão rápida da Finlândia e da Suécia na organização, apesar das reticências turcas. Serviços de informações britânicos dizem que os russos perderam um terço das forças no terreno e estão desmoralizados.
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Impedido de se deslocar a Berlim, onde decorreu uma reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros dos países da NATO, o secretário-geral da Aliança Atlântica disse, por videoconferência, que a Ucrânia "pode vencer a guerra". Com covid, Jens Stoltenberg ouviu a chefe da diplomacia da Alemanha dizer que o país invadido irá receber ajuda militar dos 30 países "enquanto precisar". Também viu, primeiro em Helsínquia, depois em Estocolmo, os líderes da Finlândia oficializarem o pedido de adesão à NATO e a primeira-ministra sueca anunciar que o seu partido decidiu apoiar uma candidatura à organização militar, passos históricos para pôr fim ao não-alinhamento devido à invasão russa, que, segundo os serviços de informações britânicos, já perderam um terço das forças no terreno.

Aos ministros dos Negócios Estrangeiros reunidos na capital alemã, que incluía os convidados da Ucrânia, Finlândia e Suécia, Stoltenberg declarou: "A Ucrânia pode vencer esta guerra. Os ucranianos estão a defender corajosamente a sua pátria", disse, um dia depois de um general ucraniano ter afirmado que a vitória ocorrerá até ao final do ano, depois de um momento de viragem na segunda quinzena de agosto.

Para o secretário-geral da Aliança Atlântica, a Rússia não está a alcançar os objetivos estratégicos. "A guerra da Rússia na Ucrânia não está a decorrer como Moscovo tinha planeado. Eles não conseguiram conquistar Kiev. Estão a recuar de Kharkiv e a sua grande ofensiva no Donbass estagnou", concluiu, não sem pedir aos países da aliança para "continuarem a intensificar e a manter" o seu apoio à Ucrânia.

"Concordamos que não devemos, nem vamos, abrandar os nossos esforços nacionais, especialmente em termos de apoio militar, enquanto a Ucrânia necessitar deste apoio para a autodefesa do seu país", disse por sua vez Annalena Baerbock. A chefe da diplomacia alemã também mostrou solidariedade para com os países nórdicos que pretendem juntar-se e prometeu uma "adesão rápida e sem zonas cinzentas". Stoltenberg, por sua vez, indicou que a aliança procuraria fornecer a ambos garantias de segurança provisórias enquanto os pedidos são processados, incluindo através do aumento das tropas na região.

Enquanto decorria o encontro em Berlim, os líderes finlandeses Sauli Niinisto e Sanna Marin anunciavam "uma nova era" ao declarar formalmente o pedido de adesão à NATO. Pouco depois, foi a vez da chefe do governo sueco dizer que o seu partido é favorável à entrada na aliança. "O melhor para a segurança da Suécia é que nos candidatemos agora e que o façamos com a Finlândia", disse a social-democrata Magdalena Andersson.

O único entrave parece ser a posição da Turquia, cujo presidente acusou os países nórdicos de "abrigar terroristas". Em Berlim, o MNE turco Mevlut Cavusoglu foi mais diplomático e disse que Ancara pode apoiar as candidaturas se deixarem de apoiar os terroristas.

Segundo a avaliação dos serviços de informações britânicos, a ofensiva russa na região leste, para onde as tropas se reagruparam depois da derrota em Kiev, "perdeu o ímpeto". Desmoralizadas, as tropas russas não conseguiram obter ganhos substanciais e o plano de batalha de Moscovo estava "significativamente atrasado", disseram os serviços de informações da Defesa do Reino Unido. Além disso, a Rússia pode ter perdido um terço das forças de combate terrestres que lançou em 24 de fevereiro, sendo "improvável que acelerasse drasticamente" o seu avanço nos próximos 30 dias.

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Segundo o Estado-Maior ucraniano, há forças russas "com menos de 20% da sua capacidade" em certas áreas e, como tal, Moscovo planeia enviar para a frente 2500 reservistas que estarão a receber formação.

Do lado ucraniano há um importante dado. Segundo a embaixada dos Estados Unidos em Kiev, dos 90 obuses enviados pelo país para a Ucrânia, todos, à exceção de um, estão no país e "muitos estão na linha da frente". Trata-se do M-777, um obus com um alcance até 40 quilómetros e uma precisão que poderá ajudar a mudar a dinâmica da guerra. Kiev tinha pedido armamento pesado e os países da NATO estão a responder. Países Baixos, Bélgica, Alemanha, Itália e Noruega comprometeram-se a enviar mais equipamento do género e a França já tinha enviado uma dúzia de Caesar, um camião com obus incorporado.

DestaquedestaqueO desastre militar de 11 de maio, quando uns 600 militares russos terão sido mortos e mais de sete dezenas de veículos destruídos, em Bilohorivka, passou a barreira da censura.

No terreno, na região de Lviv - que fora atingida por mísseis russos pela última vez em 3 de maio -, uma infraestrutura militar em Yavoriv, perto da fronteira com a Polónia, foi "completamente destruída" por quatro mísseis russos, disse o governador Maksym Kozytsky. Não houve quaisquer baixas e as forças armadas ucranianas disseram ter destruído dois mísseis de cruzeiro sobre a região. Os mísseis terão sido lançados de submarinos da frota do Mar Negro.

Já o Ministério da Defesa da Rússia afirmou ter atingido quatro depósitos de munições de artilharia na área de Donetsk. Os ataques aéreos também destruíram dois sistemas de lançamento de mísseis e um radar, enquanto 15 drones ucranianos terão sido abatidos em Donetsk e Lugansk.

A Rússia tem tentado atravessar o rio Donets e cercar a cidade de Severodonetsk, mas tem sido repelida com pesadas perdas de equipamento, segundo o governador de Lugansk, Sergiy Gaiday. A cidade foi alvo de bombardeamentos russos, dos quais resultou a morte de dois civis.

O desastre militar de 11 de maio, quando uns 600 soldados russos terão sido mortos e mais de sete dezenas de veículos foram destruídos pela Ucrânia, quando os invasores tentavam passar uma ponte de pontão em Bilohorivka foi de tal magnitude que passou as barreiras da censura russa. Tradicionais apoiantes do Kremlin que escrevem em blogues de assuntos militares criticaram abertamente os comandos.

"A última gota de água que me esgotou a paciência foram os acontecimentos em Bilohorivka, onde, devido à estupidez - sublinho, devido à estupidez do comando russo - pelo menos um grupo tático de batalhão foi incinerado, possivelmente dois", comentou o blogger Yuri Podolyaka, que tem mais de dois milhões de seguidores no Telegram.

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