"Não sou criminoso de guerra. Rejeito a decisão do tribunal... Bebi veneno"

General croata da Bósnia morreu após ingerir líquido de pequeno frasco em pleno Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia, depois de o juiz confirmar sentença de 20 anos de prisão
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O último julgamento no Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia (TPIJ), que ao fim de 24 anos de trabalhos fecha em dezembro, ficou marcado pelo suicídio de um dos arguidos. Slobodan Praljak, ex-comandante das forças de defesa dos croatas da Bósnia durante a guerra (1992-95), ingeriu veneno após ver recusado o seu recurso e confirmada a sentença de 20 anos de prisão. "Não sou criminoso de guerra. Rejeito a decisão do tribunal", afirmou o ex-general de 72 anos, antes de beber do pequeno frasco. "Bebi veneno", anunciou.

O juiz que presidia à audiência, Carmel Agius, suspendeu os trabalhos quando se apercebeu da situação, ordenando o fecho das cortinas que separam o tribunal do público. "Não levem o copo que ele usou quando bebeu qualquer coisa", ordenou. Os serviços de socorro foram chamados e Praljak, que após ingerir o líquido colapsou na cadeira, morreu já no hospital. As autoridades holandesas estão a investigar o caso, tendo a sala do tribunal sido decretada "cena de crime".

A investigação deverá centrar-se em saber quem providenciou o veneno (e que tipo de veneno era). Advogados e funcionários do tribunal passam por um sistema de segurança do tipo dos aeroportos, com o defensor sérvio Toma Fila a dizer que seria fácil passar um pequeno frasco com líquido, já que a segurança se centra em inspecionar objetos metálicos.

Praljak era um de seis croatas da Bósnia que viram confirmadas as sentenças, de 10 a 25 anos de prisão, proferidas em 2013. Além do ex-general, estavam em tribunal (a audiência seria retomada passadas duas horas) o primeiro-ministro da autoproclamada república croata da Bósnia, Jadranko Prlic, e outras figuras militares e policiais, Bruno Stojic, Milivoj Petrovic, Valentin Coric e Berislav Pusic. Os juízes consideraram que houve conspiração criminosa, que incluía o regime da vizinha Croácia e o então presidente Franjo Tudjman, com o objetivo de uma "limpeza étnica da população muçulmana" de partes da Bósnia para garantir o domínio croata.

Segundo o tribunal, ao ser informado de que os soldados estavam a reunir muçulmanos em Prozor no verão de 1993, o ex-comandante das forças de defesa dos croatas da Bósnia não tomou qualquer ação para o impedir. O mesmo em relação às informações de que estavam a ser planeados assassínios e ataques contra membros das organizações internacionais no terreno, assim como a destruição da ponte velha otomana de Mostar.

"O seu gesto de hoje, do qual fomos todos infelizmente testemunhas, ilustra sobretudo a profunda injustiça moral face aos seis croatas da Bósnia", disse o primeiro-ministro croata, Andrej Plenkovic. "Mostramos insatisfação e lamentamos o veredicto." Para muitos croatas, Praljak era um herói. "A contribuição do general Praljak foi de uma imensa importância, em simultâneo pela defesa da Croácia e da Bósnia contra a agressão da grande Sérvia e pela sobrevivência do povo croata no seu território histórico durante a guerra patriótica", declarou na semana passada a presidente da Croácia, Kolinda Grabar-Kitarovic.

Este não é o primeiro suicídio de réus do TPIY. O ex-autarca de Vukovar Slavko Dokmanovic, acusado de envolvimento no massacre de prisioneiros de guerra croatas na cidade, enforcou-se na cela em 1998. Milan Babic, primeiro presidente da autoproclamada república croata da Sérvia, suicidou-se da mesma forma em 2006.

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