Michael Douglas: "Não percebo nada disto dos super-heróis"

Numa ronda para promover <em>Homem-Formiga e a Vespa</em>, de Peyton Reed, já nos cinemas, o ator fala ao DN, em exclusivo nacional, da sua ignorância sobre <em>comics</em>, da preocupação com o futuro da democracia e das consequência do<em> #MeToo</em>. Uma lenda de Hollywood sem medo da palavra F.
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Há diferenças entre os filmes do universo Marvel (Vingadores, Ant-Man, Capitão América, etc.) e os da DC Comics? Claro que as há, mas não é o pobre Michael Douglas quem as vai explicar: "Não faço a mínima ideia. Não percebo nada disto dos super-heróis. Fazer estes filmes cheios de efeitos visuais e fundos em croma é mesmo novidade para mim. Devo dizer que se torna muito complicado representar - temos de estar sempre a aceitar as ordens do realizador que nos pede para olhar para ali e ir para a esquerda mais um centímetro. Nem imagina como é surreal estar a contracenar com o Paul Rudd do tamanho de uma formiga!"

Em Homem-Formiga e a Vespa, Douglas volta a ser o Dr. Hank Pym, o cientista engenhocas que criou o fato da Vespa e do Homem-Formiga. Um homem obcecado em reencontrar a mulher (Michelle Pfeiffer) que poderá estar perdida numa realidade microscópica. O ator oscarizado tenta de forma leve dar alguma dignidade à coisa.

Em Paris, quando se encontra com o DN no dia da final do Mundial da Rússia, parece mais interessado em bola mas a sua simpatia permite a exposição de um grau de honestidade rara em estrelas de Hollywood. Ajuda também ter sido uma lenda da produção (Voando sobre Um Ninho de Cucos foi produzido por ele) e estar agora com uns respeitáveis 73 anos, quase 74.

"Tudo está a mudar em Hollywood com a cultura do streaming. Só neste ano, a Netflix está a investir oito mil milhões de dólares em conteúdos. O certo é que o cinema pode estar a morrer mas eu continuo a gostar de ir a uma sala de cinema. Por exemplo, adoro ver filmes em salas IMAX, que continuam cada vez mais fortes", comenta com porte de velho sábio. Há nele uma sinceridade que convence.

Mais à frente, volta a Homem-Formiga e a Vespa, filme que muitos entendem como uma mensagem de Hollywood para agradar a feministas. Ao fim e ao cabo, a verdadeira heroína do filme é Vespa, a filha do Dr. Hym. "Filme feminista!?", pausa para pensar... continua: "Sei lá, isto são apenas duas horas de diversão muito cara. O que digo é que é ótimo termos heroínas. Acho muito bem ter aparecido o movimento #MeToo, que já conseguiu operar uma mudança substancial em Hollywood. É espantoso como a paridade é agora uma realidade."

Quando se fala do seu passado como ator, Michael garante que tem uma "percentagem" positiva de escolhas corretas, mas é-lhe sempre difícil renegar o seu papel como produtor: "Houve uma altura em que não me deixavam ser ator e produtor. Quando produzi Starman para o John Carpenter não fui aprovado como ator, teve de ser o Jeff Bridges. Por outro lado, após o sucesso de Wall Street e de Atração Fatal, pensei naquele ditado "cuidado com aquilo que desejas" - e foi de mais. Era areia de mais para a minha camioneta."

Foram os anos 1990 e o seu poder em Hollywood era único. Depois, quando tentou a via do cinema independente, não fez dinheiro e zangou-se. Agora diz-nos fuck bem alto: "Fuck, é por isso que agora fui para a Netflix. Uma pessoa faz um filme e constrói um público! Não é preciso investir, perder uma data de tempo a produzir e promover o filme e depois ficar angustiado quando na segunda semana de exibição é retirado dos cinemas."

Irresistível falar com Michael Douglas e não referir o pai, Kirk, o último dos ídolos "clássicos" vivos da velha Hollywood. Kirk está com 102 anos e, segundo o filho, o melhor conselho que recebeu dele foi para tratar bem da forma física. "No outro dia estive com ele. Agora tem um personal trainer novo. Lembro-me de um anterior, há uns dez anos... o Mike. Pelos vistos, morreu recentemente e perguntei a idade dele ao meu pai - tinha 94 anos! Ou seja, aos 90 estava a ser treinado por um tipo mais velho do que ele quatro anos! O meu pai faz-me rir... Mas tinha razão: quando se é velho é bom estar em boa forma."

Nos próximos tempos não vamos ver muito de Michael Douglas num plateau. Revela que quer agora dedicar-se às próximas eleições estatais nos Estados Unidos. Diz que o clima que se apreende pelas notícias norte-americanas é "cancerígeno" e que é importante garantir uma vitória no Congresso para o partido democrático. "Para além de todos os problemas no nosso país, preocupa-me o que está a acontecer em Itália, na Turquia, na Polónia e na Hungria, onde surgem problemas de direitos democráticos. Não podemos tomar como garantida a ideia da democracia..." Olhar carregado: "Os pesadelos da Guerra Fria parecem estar a voltar para nos aterrorizar. Estou muito preocupado com o nosso futuro."

Um produtor de Hollywood

É uma faceta menos visível, mas Michael Douglas joga e jogou grande parte do seu nome como produtor. Antes de se tornar estrela como ator de cinema, foi como produtor, nos anos 1970, de Voando Sobre Um Ninho de Cucos, de Milos Forman, e O Síndroma da China, de James Bridges, que ganhou notoriedade. Já depois do encontro com o DN em Paris, foi anunciado que está a produzir o remake de Starman - O Homem das Estrelas, filme de John Carpenter, de 1984. Nesta moda das versões novas dos filmes dos eighties é Shawn Levy, das comédias À Noite no Museu, quem dirige.

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