"Não está de todo descartada a hipótese de uma colonização de Marte"
Porque é que o Planeta Vermelho exerce um fascínio tão grande e tão antigo sobre a humanidade?
As razões são muito antigas e as mais remotas explicam-se pelo simples facto de Marte ser, como alguns outros planetas, visível a olho nu. Por ser um ponto vermelho, e por isso diferente dos outros planetas visíveis a olho nu, cativou atenções e suscitou desde logo a criação de primeiras ficções. Uma segunda razão tem que ver com o facto de estar próximo. Quando, no século XVII, o telescópio entra em cena e começamos a poder observar um pouco melhor aquele disco vermelho, começam a surgir as primeiras interpretações possíveis para as imagens que, com o progresso da ótica, se vão tornando mais nítidas nas observações de Marte.
O Nuno, sendo jornalista e crítico musical, escreveu em 2015 o livro Os Marcianos Somos Nós, dedicado a este planeta. De onde vem o seu fascínio particular por Marte?
O meu caso particular tem que ver com o [livro e série televisiva] Cosmos, do Carl Sagan, que dedicava um episódio inteiro a Marte, no qual se mostrava como a história de um planeta se podia contar com a ciência mas também com a ficção. A história da nossa relação com Marte faz-se não só com as descobertas científicas mas com as muitas ficções que ali foram projetadas. Foi a ficção sobre Marte que atraiu homens para a ciência, como o próprio Carl Sagan. E o conhecimento científico também foi moldando as ideias presentes nas ficções sobre Marte.
Há uma ideia que parece ser recorrente nas ficções em torno de Marte: a existência de vida naquele planeta, mais do que noutros do sistema solar...
Houve nas ficções fantásticas dos séculos XVIII e XIX muitos olhares sobre os outros planetas, tendo-os todos como habitados. Havia vida em todos os lados. Aos poucos, a ciência foi-os descartando. E Marte, por ter características mais semelhantes às nossas - pelo menos julgava-se isto até há um tempo - manteve-se. Mas as primeiras ficções fantásticas imaginam vida em todo o lado. Floras exuberantes, faunas bizarras. Ainda hoje, no presente, sobre a vida em Marte a única coisa que podemos dizer é: "Não sabemos." As possibilidades de vida microbiana, subterrânea ou no passado estão ainda à espera de poderem ser comprovadas ou refutadas. Se bem que essa não seja mais neste momento uma das prioridades dos programas científicos. Nem da própria ficção científica.
[destaque:Nuno Galopim ficou fascinado com Marte depois de ter visto Cosmos, de Carl Sagan]
Com a chegada a Marte de uma missão da Agência Espacial Europeia, sente-se um pouco mais marciano?
Sinto-me marciano sempre que uma sonda lá chega. Porque aos poucos o que estes programas estão a fazer é a lançar bases de estudo para um eventual futuro em que aquele mundo possa ser explorado: não está de todo descartada a hipótese de uma colonização. Pode acontecer. Se houver capacidade para economicamente produzir recursos em Marte, a colonização será possível. É claro que não se fala nisso e fala-se de missões tripuladas para o ano de 2030. Até ver, foi lá o Matt Damon e poucos mais.
Há empresas como a SpaceX a falar em turismo marciano. Inscrevia-se nessas viagens?
Não, de modo algum me inscreveria num programa privado: há uma diferença substancial entre um programa espacial oficial, científico, e uma organização privada. O lucro estará certamente como objetivo primário a garantir na iniciativa privada. O respeito e o cuidado pela vida dos intervenientes será uma prioridade das missões oficiais.
Então já não conta ir a Marte?
Não. Acho que já passei o limite de idade para me inscrever nestes programas oficiais.