Não desvalorize nem negue a existência de um sinal que muda
O período de confinamento social e o aproximar do verão, que se espera condicionado pelas medidas de proteção recomendadas pela Direção Geral de Saúde, tornam importante relembrar os cuidados a ter com a exposição solar, desta feita adaptados à realidade COVID19. O confinamento social pode significar, para algumas pessoas, menor exposição solar. Outras, pelo contrário, estão a passar mais tempo do que o habitual em varandas, jardins ou a praticar exercício físico no exterior.
Desde o início do confinamento social, o índice UV, que mede a intensidade da radiação ultravioleta emitida pelo Sol e a sua capacidade para causar queimaduras solares, alcançou repetidamente níveis elevados para os quais é recomendada especial atenção com a proteção solar. Por estes motivos, é aconselhado a todas as pessoas permanecerem vigilantes em relação à proteção da pele e ao autoexame de lesões suspeitas na pele.
Devemos evitar a exposição solar, na medida do possível, entre as 11h e as 16h. Se estamos expostos devemos proteger-nos. Devemos procurar a sombra e utilizar roupas de proteção, que incluem o chapéu de abas largas e os óculos de sol (certifique-se que fornecem 100% de proteção UV) e, sempre que possível, mangas e calças mais compridas. Aplicar uma camada generosa de protetor solar 20 minutos antes de sair e, novamente, quando sair. E depois, deve reaplicar protetor solar regularmente, pelo menos a cada duas horas. Aproveito para partilhar uma dica importante: aplique o protetor solar antes de colocar a máscara facial, sob risco de deixar áreas da face desprotegidas - recomendo, no mínimo, um SPF 30, com boa proteção UVA. E, atenção: as viseiras não protegem da radiação ultravioleta. Como a radiação ultravioleta atravessa as viseiras, mesmo que as esteja a usar, deve manter sempre os cuidados anteriormente descritos. Agora que passamos mais tempo em ambientes fechados, é instintivo procurar locais da casa que recebem mais luz natural, como janelas. No entanto, é importante ter cuidado enquanto dela desfrutamos. Está demonstrado que os raios UVA atravessam o vidro contribuindo para o aparecimento de sinais de envelhecimento prematuros, como manchas escuras e rugas, e para o cancro da pele. Recomenda-se o uso diário de protetor solar com um FPS de pelo menos 15 ou mais, em especial se trabalhar ao lado de uma janela. Pode ainda proteger-se colocando uma proteção na janela durante o horário de pico do sol (das 11h às 16h) ou instalando uma pelicula de proteção UV.
Por último interessa clarificar dois mitos recentes. Primeiro, a exposição solar, por mais intensa que seja, não previne o contágio por COVID19 nem é tratamento em caso de infeção. Em segundo lugar, a radiação UV não deve ser usada para desinfetar as mãos sob risco de provocar irritação da pele.
O cancro da pele pode ser dividido em três categorias diferentes, carcinoma basocelular, carcinoma espinocelular e melanoma maligno. As estimativas indicam que, por ano, surgem 12.000 novos casos de cancro da pele em Portugal, mil dos quais, melanomas que provocam cerca de 250 mortos anualmente. Estes dados são verdadeiros focos de alerta para a necessidade de se fazer autoexame dos sinais, assim como a vigilância dos sinais das pessoas do nosso agregado familiar.
Todos os meses, procure algo de novo, diferente ou incomum na sua pele. Procure o sinal que não existia e que tenha começado a crescer, o sinal que se tenha modificado ou que seja diferente de todos os outros sinais, a ferida que não cicatriza.
Não deve desvalorizar qualquer destes sinais de alerta. Não deve negar a sua existência. Não deixe de procurar ajuda devido à pandemia. As unidades de saúde têm condições para receber, diagnosticar e tratar em segurança os doentes não COVID, pelo que não deve adiar a sua consulta.
Em caso de cancro da pele, no futuro próximo a lesão estará maior e será mais difícil de tratar. O atraso no tratamento do cancro da pele pode fazer a diferença entre a cura e a morte.
Coordenador da Unidade de Cancro de Pele da CUF Oncologia Sul e Secretário Geral da Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo (APCC)