Nani é o mais recente laço a ligar o futebol português e o soccer norte-americano. A chegada deste jogador português ao Orlando City reforça uma ligação que remonta aos inícios do século XX, com a vaga de emigração portuguesa para os Estados Unidos que fez que muitos apelidos lusos integrassem as primeiras seleções norte-americanas, teve Eusébio como campeão na era dourada do soccer(nuns anos 1970 marcados pelos famosos Cosmos de Pelé, Beckenbauer e... Seninho) e, já neste século, viu Abel Xavier chegar até Hollywood como pioneiro português da atual MLS..O antigo capitão do Sporting reforça uma das mais recentes equipas da Major League Soccer norte-americana. Admitido na liga em 2015, o Orlando City ainda não conseguiu sequer um acesso aos playoffs e na época passada terminou mesmo no último lugar da conferência Este..Com o brasileiro Flávio Augusto da Silva, um self made man que ficou rico a montar uma rede de academias de inglês no Brasil, como acionista maioritário, a equipa da cidade da Disney teve o antigo internacional canarinho Kaká como primeira grande estrela, mas a sua curta história na MLS não conheceu ainda muitas páginas de sucesso..Nani assinou contrato de três anos como "Jogador Designado" do Orlando City, uma regra da MLS que permite a cada equipa contratar três jogadores por valores acima do teto salarial estabelecido - e que na época passada se fixou em cerca de quatro milhões de euros por plantel..Será ele a estrela principal numa equipa que tem ainda outro português: João Moutinho. Não o médio com quem Nani jogou em Alvalade e na seleção portuguesa (e que atualmente joga pelo Wolverhampton), mas um defesa também ele formado no Sporting e que no ano passado foi a primeira escolha do draft da liga (pelo LA Galaxy). Dois ex-leões, portanto, para reforçar uma equipa de Lions, a alcunha desta equipa de Orlando..Além de Nani e Moutinho, o contingente luso da MLS conta ainda com o avançado Pedro Santos (ex-Sp. Braga), ao serviço do Columbus Crew desde 2017, e o médio André Horta (ex-Benfica e Sp. Braga), no Los Angeles FC..Em Orlando, espera-se que Nani lidere estes leões até aos playoffs da liga pela primeira vez. O título afigura-se com uma meta bem mais utópica, apesar do carácter bastante democrático de uma MLS que em 23 edições já conheceu 13 campeões diferentes - nos últimos quatro anos, por exemplo, todos os campeões foram inéditos. Mas desde que o soccer voltou a ter uma liga profissional nos Estados Unidos, com a criação desta MLS em 1996, nenhum português conseguiu repetir o feito obtido por Eusébio em 1976..Eusébio campeão em Toronto.O melhor jogador de Portugal do século XX aproveitou a boleia de António Simões no pós-25 de Abril para uns bons contratos de fim de carreira no eldorado que era, naqueles anos 1970, a antiga North American Soccer League (NASL), que entre 1968 e 1984 atraiu as maiores figuras do futebol internacional em fase final de carreira. Como Eusébio.."Eu fui primeiro, mas logo a seguir o Eusébio também foi e jogámos juntos em Boston. O meu contrato era 1500 dólares, cash, por jogo, o Eusébio recebia 2000. E ganhei mais dinheiro em três meses do que em três anos no Benfica", contou recentemente António Simões, à revista Sábado..O Pantera Negra Eusébio, já com 33 anos e castigado por várias operações aos joelhos, foi então jogar primeiro para Boston, onde até há bem pouco tempo teve uma estátua em frente ao Gillete Stadium (paga por um emigrante português e entretanto transferida para o Lusitano Stadium, em Ludlow). Mas foi em Toronto, em 1976, que ajudou o Toronto Metros-Croatia a ganhar o título de campeão. Na final (ou melhor, Soccer Bowl), contra o Minnesota Kicks, a equipa canadiana venceu por 3-0. E o primeiro golo foi de Eusébio, de livre direto..Seninho no Cosmos de Pelé.Nessa era dourada do soccer ficaram famosos, sobretudo, os New York Cosmos de Pelé, Beckenbauer e... um tal de Seninho, extremo português com velocidade de Speedy Gonzalez que Pelé fez questão de ter como colega em Nova Iorque depois de ter visto o então jogador do FC Porto marcar dois golos ao Manchester United em Old Trafford, numa eliminatória da Taça dos Campeões em que os portistas tombaram os ingleses. "Recebi um telefonema do Pelé, que me perguntou de que é que eu estava à espera para me mudar para Nova Iorque", contou Seninho ao DN, em 2017..Nos EUA, além do futebol, teve a oportunidade de conhecer pessoalmente grandes estrelas do espetáculo, como "os Rolling Stones, Diana Ross, Aretha Franklin, Robert Redford, Muhammad Ali ou Sylvester Stallone". "O Cosmos era da Warner Bros e nós convivíamos com os grandes artistas americanos", recordou o antigo jogador sobre esses tempos glamorosos da NASL..Foram vários os portugueses que atravessaram o Atlântico nesses anos em busca do ouro americano. Os arquivos identificam Manuel Mendoza (Mendonça), nascido em Angola e com passagens anteriores por Espanha e França, como o primeiro jogador com nacionalidade portuguesa a jogar na NASL, logo na primeira edição, em 1968, pelo Cleveland Stokers. Mas o primeiro grande nome a sair de Portugal para o soccer foi José Henrique, o popular Zé Gato que defendeu a baliza do Benfica. Depois, por lá passaram também nomes como Diamantino Costa, Manuel Fernandes, Jordão, Humberto Coelho, Toni e até Vítor Baptista (fez um jogo pelo San Jose Earthquakers)..Souza e Gonsalves, pioneiros no Hall of Fame.Mas muito antes disso, ainda na primeira metade do século XX, já o toque lusitano dera vida ao futebol jogado com os pés na América, com várias equipas amadoras fundadas por comunidades de emigrantes. Ficou mais famoso o Ponta Delgada Soccer Club, fundado por açorianos, que ganhou várias vezes a National Amateur Cup..E ficaram famosos também alguns lusodescendentes que vestiram a camisola da seleção dos EUA, entrando mesmo para o Hall of Fame do Soccer, como Billy Gonsalves, que fez parte da seleção americana nos Mundiais de 1930 e 1934, e John Souza, estrela do Mundial de 1950, onde ajudou os EUA a bater a favorita Inglaterra, marcou dois golos e integrou o onze ideal da prova..Abel Xavier com Beckham em LA.Na atual MLS, coube a Abel Xavier as honras iniciais da representação portuguesa. O antigo internacional teve em Los Angeles o palco ideal para uma personalidade camaleónica e excêntrica, jogando ao lado do inglês David Beckham nos Galaxy, em 2007. Além do futebol, aproveitou a vizinhança de Hollywood para uma incursão pelo cinema e pelo mundo da moda. Foi lá que terminou a carreira de jogador, aos 36 anos, em 2008..Depois de Abel Xavier, só em 2012 voltou a haver portugueses na MLS. E desde então não tem havido liga norte-americana sem representantes lusos: David Viana, José Gonçalves, Yannick Djaló, Paulo Renato, Rafael Ramos, Nuno André Coelho, João Meira, João Pedro, Pedro Santos, João Moutinho e André Horta. Uma lista a que se junta agora Nani, em Orlando.