Nancy Pelosi já está em Taiwan. China promete lançar "ações militares"
O avião que transporta a líder do Congresso norte-americano, Nancy Pelosi, chegou esta terça-feira a Taiwan, para uma visita oficial, apesar de a República Popular da China ter avisado os Estados Unidos sobre as consequências desta visita, garantindo que Washington vai ter de "pagar o preço" pela deslocação Pelosi que considera ser um "ataque".
"Os Estados Unidos vão certamente arcar com a responsabilidade (consequências) e vão ter que pagar o preço pelo ataque à soberania e segurança da China", afirmou Hua Chunying, porta-voz da diplomacia da República Popular da China em conferência de imprensa.
À chegada a Taiwan, Nancy Pelosi disse que sua controversa visita demonstra o forte compromisso de Washington com a ilha autogovernada, que a China vê como parte de seu território. "A visita de nossa delegação do Congresso a Taiwan honra o compromisso inabalável dos Estados Unidos em apoiar a vibrante democracia de Taiwan", disse mais importante legisladora americana numa declaração.
Pelosi, a mais alta autoridade eleita dos EUA a visitar Taiwan em 25 anos, afirmou que a sua viagem "de forma alguma" contradiz a política oficial dos EUA, que reconhece "uma China" e não reconhece oficialmente Taiwan como um Estado independente. No entanto, acrescentou que "a solidariedade da América com os 23 milhões de habitantes de Taiwan é mais importante hoje do que nunca, pois o mundo enfrenta uma escolha entre autocracia e democracia". "Os Estados Unidos continuam a se opor aos esforços unilaterais para mudar o status quo", firsou, numa clara referência à pressão de Pequim sobre Taipei.
A China considerou que a visita de Nancy Pelosi "à região chinesa de Taiwan" demonstra uma atitude "extremamente perigosa" dos Estados Unidos e anunciou que vai efetuar exercícios navais militares a partir de quinta-feira.
Num comunicado divulgado pela agência noticiosa oficial Xinhua, o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês afirma condenar veementemente a visita de Pelosi, que "desconsiderou as severas advertências" de Pequim, e "envia sinais errados" às "forças separatistas que procuram a independência de Taiwan".
"É uma grave violação ao princípio de uma só China. Tem um grande impacto nas relações políticas entre a China e os Estados Unidos e infringe gravemente a soberania e a integridade territorial da China, prejudicando gravemente a paz e a estabilidade em todo o estreito de Taiwan", lê-se no comunicado, que adianta que Pequim já apresentou "fortes protestos" contra os EUA.
"Há apenas uma China no mundo. Taiwan é uma parte inalienável do território da China, e o Governo da República Popular da China é o único governo legal que representa toda a China. Isso foi claramente reconhecido pela Resolução 2758 da Assembleia Geral das Nações Unidas de 1971", argumenta-se no comunicado.
Por outro lado, a Xinhua noticiou também que o exército chinês vai realizar entre quinta-feira e domingo exercícios navais militares, que incluem fogo real, em seis áreas marítimas em redor da ilha de Taiwan.
No comunicado, o Ministério da Defesa chinês observou que, desde a fundação da República Popular da China, em 1949, 181 países estabeleceram relações diplomáticas com Pequim "com base no princípio de uma só China".
"O princípio de uma só China é um consenso universal da comunidade internacional e uma norma básica nas relações internacionais", insistiu.
Para Pequim, Taiwan é uma das questões "mais críticas e sensíveis" nas relações bilaterais com Washington. "Este Governo dos EUA [de Joe Biden] prometeu repetidamente defender a política de uma só China e parar de apoiar a 'independência de Taiwan'. No entanto, as ações e declarações recentes foram no caminho oposto dessas promessas", acrescenta-se no comunicado.
Nesse sentido, o Governo chinês insta os Estados Unidos a "cumprir as promessas", a "interromper qualquer intercâmbio oficial com a região chinesa de Taiwan, e a "parar de interferir nos assuntos internos da China". "Qualquer tentativa injusta de reverter a história, tornar Taiwan um problema ou pôr em perigo a soberania e a integridade territorial da China está destinada ao fracasso e terá um preço a pagar", ameaçou.
Numa outra resposta a esta visita o Exército de Libertação do Povo Chinês (ELP)prometeu lançar "ações militares direcionadas".
"O Exército de Libertação do Povo Chinês está em alerta máximo e lançará uma série de operações militares direcionadas para defender a soberania nacional e a integridade territorial e, ao mesmo tempo, frustrar de forma determinada a interferência externa e as tentativas separatistas para a independência de Taiwan", disse Wu Qian, o porta-voz do ELP, em comunicado.
Logo após a chegada de Pelosi a Taiwan, o porta-voz da Casa Branca, John Kirby, garantiu em entrevista à CNN não haver "qualquer violação da soberania" chinesa. "Não há razão para que isso entre em conflito. Não há mudança em nossa política. Isso é absolutamente consistente com ela", disse.
Kirby minimizou a notícia de que caças chineses cruzaram o Estreito de Taiwan em direção à ilha pouco antes da aterragem do avião que transportava Nancy Pelosi. "Os Estados Unidos não serão intimidados por ameaças", garantiu, para depois acrescentar: "Temos sérios compromissos de segurança na região. Levamos esses compromissos a sério". O porta-voz da Casa Branca acrescentou ainda que Washington garantirá que Pelosi tenha uma "visita segura e protegida" a Taiwan.
O interesse desta viagem foi enorme, tendo o voo sido acompanhado pelo site especializado em trajetos de aviões Flightradar24, que foi seguido por cerca de 200 mil pessoas.
O voo com o código SPAR19 "está agora no espaço aéreo de Taiwan", avançou a página de internet norte-americana Flightradar24, que permite seguir a rota de avião em tempo real com base no seu código de voo, numa mensagem publicada cerca das 15.10 (hora de Lisboa) na rede social Twitter, tendo depois sido assinalado também o momento da aterragem.
De acordo com a mesma fonte, mais de 200 mil pessoas seguiram a rota do avião que transportava Nancy Pelosi através do site, para confirmar se aterraria em Taiwan. "Devido ao interesse sem precedentes em seguir [o voo com o código] SPAR19, os serviços do Flightradar24 estão em sobrecarga", pelo que "alguns utilizadores podem ter problemas para aceder ao site", referiu a empresa.
O voo, que partiu de Kuala Lumpur às 15.42 horas (8.42 em Portugal) sem especificar o destino levou a bordo a líder do Congresso norte-americano e sobrevoou as Filipinas, aproximou-se da ilha de Taiwan pelo sul, não sobrevoando o território chinês.
A imprensa norte-americana avançou, na semana passada, a possibilidade de a viagem à Ásia de Pelosi passar por Taiwan, sendo que tanto representantes militares como civis chineses têm alertado para as possíveis consequências da visita da responsável norte-americana.
Um vídeo transmitido esta terça-feira nas redes sociais mostra imagens alegadamente gravadas nas praias de Pingtan, perto de Xiamen, com veículos militares a desfilar perante o olhar atónito dos banhistas.
Nancy Pelosi está na Ásia em visita oficial e, até agora, anunciou que a visita passará por países como Singapura, Malásia - de onde partiu hoje -, Indonésia, Coreia do Sul e Japão, sem nunca referir Taiwan.
A China reivindica soberania sobre a ilha e considera Taiwan uma província rebelde desde que os nacionalistas do Kuomintang se retiraram para lá, em 1949, depois de perder a guerra civil contra os comunistas.
Taiwan, com quem o país norte-americano não mantém relações oficiais, é uma das principais fontes de conflito entre a China e os EUA, principalmente porque Washington é o principal fornecedor de armas de Taiwan e seria o seu maior aliado militar em caso de conflito com o gigante asiático.