Musical, ‘ma non troppo’
E o inevitável cumpriu-se: o musical Mamma Mia!, grande fenómeno dos palcos internacionais, escrito por Catherine Johnson a partir das canções dos Abba, chega ao cinema.
Mais do que isso: surge recriado para o grande ecrã por Phyllida Lloyd, precisamente a sua primeira encenadora, em Londres, no West End, corria o ano de 1999. E regressa também a inevitável pergunta: será que é desta vez que podemos falar de um verdadeiro regresso do género? Será que, finalmente, podemos dizer que o musical volta a afirmar-se como um elemento central do cinema mais popular?
Mesmo perante toda a simpatia (ou nostalgia) que Mamma Mia! Possa suscitar, a resposta a tal ânsia é claramente negativa. E por razões que, também inevitavelmente, ultrapassam a produção específica deste filme. De facto, a idade de ouro do musical é historicamente indissociável dos estúdios clássicos de Hollywood. Quando pensamos nas glórias da década de 50 e em referências míticas como Serenata à Chuva ou A Roda da Fortuna, não evocamos apenas o excepcional talento de Gene Kelly, Fred Astaire, Cyd Charisse ou Vincente Minnelli... Estamos também a pensar da sofisticação própria dessa espantosa fábrica de produção que era a Metro Goldwyn Mayer. Ora, ao descobrirmos Mamma Mia!, deparamos com os restos de uma estética que, na verdade, independentemente das qualidades individuais dos envolvidos, já não tem uma sólida base industrial para a sustentar.
Mamma Mia! é mesmo um filme que, por um lado, opta pelo trabalho de estúdio e, depois, muitas vezes sem saber como utilizar esse espaço, “transfere” os números musicais para cenários naturais, como se essa mudança significasse “mais” cinema. Na melhor das hipóteses, assistimos a videoclips das canções dos Abba, mais ou menos imaginativos, mas desconexos e desgarrados. Se o projecto, apesar de tudo, consegue manter alguma energia, e até uma saudável auto-ironia, isso resulta sobretudo do sentido de humor de um elenco onde pontifica uma Meryl Streep que sabe como dar vida ao drama burlesco de uma mulher que se confronta com os três homens (Pierce Brosnan, Colin Firth e Stellan Skarsgard) que são os prováveis pais da sua filha (Amanda Seyfried). Isto, convém lembrar, no dia do casamento da filha.
Curiosa é a opção de ter todos os actores a cantar. Meryl Streep, Julie Walters e Christine Baranski demonstram, todas elas, talento para sustentar tal registo. Quanto a Pierce Brosnan, digamos apenas que lhe terá sido mais fácil compor a personagem do agente secreto 007...
2/5
MAMMA MIA!
PHYLLIDA LLOYD
MERYL STREEP, JULIE WALTERS, CHRISTINE BARANSKI