Museu do Tesouro Real tem 22 mil pedras preciosas do tempo da monarquia

Afastado do circuito turístico de Belém, o espaço inaugurado há um ano já recebeu 85 mil visitantes. Lá dentro, alberga uma caixa-forte cujas portas pesam cinco toneladas e que guardam a preciosa coleção das joias da coroa.
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Ouro, diamantes e esmeraldas vitrine após vitrine. Assim é a experiência de visita ao Museu do Tesouro Real, instalado na ala poente do Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa, desde junho de 2022. Aberto ao público há pouco mais de um ano, o espaço que alberga a coleção de joias da coroa ainda "está a construir a sua notoriedade" no circuito turístico da cidade. "Este primeiro ano, que foi de lançamento, atingimos mais de 85 mil visitantes", conta Nuno Vale, diretor-executivo, enquanto acompanha o DN numa visita às instalações.

O número está abaixo das expectativas inicialmente avançadas, aquando da inauguração, que apontava para 275 mil visitantes por ano. Porém, como recorda o responsável, o museu "não está no corredor turístico" de Belém e isso significa que é preciso "ter uma atitude mais ativa" para conquistar quem por ali passeia.

"Isto é um grande desafio. Colocámos um tuk tuk em Belém que traz os visitantes de forma gratuita", exemplifica. Ainda assim, já mais de 45 nacionalidades estiveram na Ajuda para viajar pela história da monarquia contada através das joias, com o Brasil, Reino Unido, França, Espanha e Estados Unidos a liderar a lista. Os portugueses continuam a representar cerca de 80% das visitas. "É nosso objetivo posicionar este museu a nível internacional como uma coleção ao nível das melhores", reforça Nuno Vale.

A primeira pedra para a construção do que viria a ser anos mais tarde o Palácio da Ajuda foi lançada em 1795 pelo príncipe regente D. João. A ambição de dar à coroa uma residência à altura dos mais luxuosos palácios europeus foi sendo interrompida pelo decurso da história - primeiro, as invasões francesas; depois a guerra entre absolutistas e liberais. E, mais tarde, o fim da monarquia. Tudo isto ditou o abandono de um projeto por concluir, resumido a menos de metade do inicialmente projetado.

Quem passa hoje na Calçada da Ajuda consegue ver registado no chão o círculo que assinala o que deveria ter sido o centro do palácio, virado ao Tejo, mas que nunca chegou a acontecer.

Em 2016, porém, um esforço conjunto da Câmara Municipal de Lisboa, da Associação do Turismo de Lisboa e da Direção-Geral do Património Cultural permitiu, por fim, rematar a construção da ala poente para ali instalar o Museu do Tesouro Real. A obra custou 31,4 milhões de euros e tornou possível, pela primeira vez, a exposição permanente da coleção de joias da coroa. "Toda a coleção estava dispersa e guardada, não era acessível ao público", recorda Nuno Vale.

Cerca de 40 minutos foi tempo suficiente para, a 2 de dezembro de 2002, fazer desaparecer seis peças de joalharia da coleção do Palácio Nacional da Ajuda, que as tinha emprestado ao museu de Haia, nos Países Baixos.

O roubo continua por resolver, mas o Estado português recebeu uma indemnização de 6,1 milhões de euros, valor que, em parte, foi utilizado para financiar a construção do novo museu. É ali que está instalada "uma das maiores caixas-fortes do mundo", um cofre de grandes dimensões onde está exposta a coleção nacional ao longo de três andares e 11 núcleos.

A entrada faz-se através de uma porta com cinco toneladas, que conduz os visitantes a um ambiente escuro em que as personagens principais são as peças de joalharia, as 22 mil pedras preciosas, a prata de aparato, as insígnias régias e tantos outros tesouros.

O ouro e os diamantes do Brasil dão começo a uma exposição com "um valor incalculável". "Só em valor de mercado, são muitos milhões de euros. Mas depois tem de se multiplicar o fator histórico da peça, de quem a usou e a raridade da própria peça", contextualiza o diretor-executivo.

O que o Museu do Tesouro Real guarda nas suas vitrines à prova de bala é apenas uma parte do que terá sido, ao longo de séculos, a riqueza da coroa portuguesa. A larga maioria das peças expostas é posterior ao terramoto de 1755 e ao incêndio de 1794 na Real Barraca, dois momentos responsáveis pela destruição do tesouro nacional.

"De qualquer forma, temos aqui mil peças. Isso é uma parte ínfima de tudo aquilo que existiu, mas é uma coleção muito significativa", assegura. Para Nuno Vale, existem três peças particularmente relevantes e icónicas: a coroa, porque "é emblemática no sentido simbólico"; o Tosão de Ouro, "pela qualidade da ourivesaria e por ser uma peça lindíssima e extravagante"; e, por fim, a Tiara das Estrelas, por ter sido usada pela rainha D. Maria Pia.

O Museu do Tesouro Real está aberto todos os dias, entre as 10.00 e as 19.00 horas, com bilhetes que custam entre 7 e 10 euros. As crianças até aos seis anos não pagam entrada.

dnot@dn.pt

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