Mundo virtual precisa de mais segurança real

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A segurança online é um desafio para os consumidores, mas muito em especial para as populações mais envelhecidas e com menor literacia digital. A cibersegurança ganhou com a pandemia uma urgência ainda maior, dado que a nossa vida passou em boa parte a ser feita online, não só para trabalhar mas também para comprar todo o tipo de bens e serviços.

Tendo o recurso à rede digital global vantagens que largamente superam os perigos, e sendo as plataformas e ferramentas online um dos principais meios para o exercício da liberdade de expressão e do direito à informação, vantagens a que se somam as necessidades adicionais de uso resultantes da pandemia, a verdade é os portugueses com mais de 50 anos são os europeus que menos utilizam a Internet.

Entre nós, são 27 por cento os que o fazem, por comparação com os mais de 45 por cento da média europeia. Ao todo, e este número será impressionante e até chocante para muitos, cerca de 30 por cento dos portugueses nunca tiveram acesso à Internet, sendo abismal a diferença entre as áreas urbana e rural.

Ao mesmo tempo, 23 por cento dos portugueses revelaram, num estudo europeu de 2020, que não fazem compras online por terem receios ligados à segurança dos pagamentos online, sendo o nosso país o estado-membro mais reticente nestas transações na União Europeia.

Ao longo do último ano, denunciámos de várias maneiras que no primeiro confinamento, a partir de março de 2020, dispararam as mensagens com propostas fraudulentas, incluindo promessas de cura do novo coronavírus. Receamos agora que, durante este segundo confinamento, estejam a regressar em força os esquemas do mesmo tipo, mascarados das mais variadas, criativas e superficialmente credíveis formas - promovendo campanhas de angariação de fundos para combate à doença, testes de despiste da covid-19, plataformas de informação sobre a evolução da pandemia, campanhas de vacinação comparticipadas pelo SNS, ou ainda a redução nos preços da água, gás e luz, remetendo para um documento no portal das Finanças, entre diversos exemplos.

Já o dissemos mas vale a pena repetir porque este é um problema central: infelizmente, mesmo quando há legislação em vigor, a nossa cultura de exigência, enquanto consumidores, está longe do nosso apetite como compradores. E continua atrás de outros mercados mais evoluídos nesta matéria. Quando alguma coisa corre mal numa compra pela Internet, em 2021, em Portugal, muitos consumidores nem sequer apresentam queixa. Indicam-no também os nossos números das reclamações, sendo aquelas que nos chegam relativas ao comércio eletrónico ainda uma percentagem baixa do total.

Insistimos por isso que, para termos um ambiente comercial mais saudável e mais confiável, é preciso que os portugueses ganhem o hábito da exigência em qualquer situação, reclamando sem hesitação, ou até vergonha, sempre que se sintam enganados. O caminho que já percorremos na melhoria dos comportamentos nas compras físicas (sem isso, não teríamos os direitos que temos hoje), é imperativo que o façamos igualmente no comércio online.

Por isto mesmo, a DECO PROTESTE, cumprindo o seu papel de organização de defesa do consumidor, associou-se agora à Google para a criação do Net & Siga (disponível em www.netesiga.pt), uma plataforma que reúne informações sobre como garantir a segurança ao fazer compras online ou usar as redes sociais, o homebanking e os serviços online do Estado.

Acima de tudo, este é um projeto para reforçar a literacia digital dos portugueses com mais de 50 anos, uma população que foi forçada pela pandemia a uma conversão acelerada ao digital. Um reforço através da informação e da divulgação dos cuidados a ter para uma utilização segura da Internet, bem como da exposição dos casos mais flagrantes de fraude online.

No atual contexto de pandemia, as compras online são em muitos casos uma linha de salvação em pleno confinamento. Sem esquecer, claro está, que a segurança online começa nos equipamentos de acesso à internet - smartphone, computador, router. As vantagens da utilização da internet continuam a ultrapassar os perigos - sempre desde que sejam tomadas as devidas precauções.

Responsável pelas Relações Institucionais da DECO PROTESTE

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