Mulher de 81 anos vivia sozinha e incêndio 'roubou-lhe' a casa
Sozinha e sem casa onde morar. Ana Gonçalves Monteiro, de 81 anos, vivia apenas com o seu cão, em pleno centro do Porto. Ontem de madrugada foi retirada da cama por um vizinho porque, debilitada fisicamente, não se apercebeu que a sua casa estava em chamas. A Segurança Social foi notificada pela autarquia e a idosa espera agora ser realojada.
"Só não quero é ir para um lar. Seria matar-me", afirmava a chorar, desolada por ter perdido todos os bens que possuía. A casa ficou sem telhado e a porta, queimada mostrava o interior todo destruído.
Eram 02.30 quando o alerta foi dado. O inquilino da cave, um taxista que, de acordo com os vizinhos, tem problemas de álcool, deitou-se com o cigarro aceso, provocando o sinistro.
Na Travessa de Nossa Senhora da Conceição (à Rua de Camões) estiveram 27 bombeiros dos Sapadores e dos Voluntários do Porto que combateram o fogo mais de uma hora. Mesmo assim as chamas atingiram a cobertura da habitação contígua. Ana Monteiro foi salva por um vizinho que partiu as janelas e tirou a idosa que dormia já com as chamas por perto e no meio de muito fumo. O homem sofreu queimaduras ligeiras e foi assistido no local por uma ambulância do INEM.
Quem também se salvou foi King, o cão da idosa que está em casa dos vizinhos. "Se ele morresse, preferia também morrer", diz a idosa, lembrando que o animal é a sua única companhia de há muito anos, desde que ficou viúva. Com o marido, veio de Angola. Ele foi escrivão num tribunal do Porto, mas faleceu há já alguns anos. Na Travessa de Nossa Senhora da Conceição, a idosa reside há 23 anos. Foi lá que criou um filho, que agora vive afastado.
"A câmara devia ver as más condições de habitação das pessoas que moram aqui. São casas muito velhas num travessa que nem tem saída", diz Norberta Pereira, amiga da idosa e que ontem a tentava acalmar.
O proprietário, a quem Ana pagava mensalmente 200 euros para ali morar, foi entretanto avisado. "Se Rui Rio quer ganhar eleições tem de dar uma casa a esta mulher", defendia Maria João Sequeira. A autarquia, no entanto, não vai proceder ao realojamento porque, como afirmou ao DN fonte camarária, "trata-se de uma habitação privada e os realojamentos só podem ser feitos com inquilinos da câmara". Seja como for, foi contactada a Segurança Social, que concordou em fazer um realojamento temporário numa unidade hoteleira até que seja encontrada uma solução definitiva. O proprietário será, entretanto, notificado pela câmara para fazer obras.