O embate de cabos de média tensão com eucaliptos está na base da acusação contra a EDP e um trabalhador pelo crime de incêndio florestal por negligência no fogo registado em Monchique, em 2018, revelou esta sexta-feira o Ministério Público..O Ministério Público (MP) da secção de Portimão do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Faro esclareceu esta sexta-feira que "deduziu acusação contra a EDP, Distribuição, S.A. e um seu trabalhador pela prática de um crime de incêndio florestal por negligência" e indicou que tem "fortes indícios" de o fogo ter tido origem no "contacto repetido de um cabo elétrico de média tensão com ramos de eucalipto"..O incêndio deflagrou a 03 de agosto de 2018 na zona de Perna Seca, no concelho de Monchique, e a acusação alega que "a EDP e o seu trabalhador não mantiveram limpa, como deviam, uma faixa de segurança adequada junto ao referido cabo", precisou o Ministério Público do distrito de Faro numa nota publicada no seu sítio na Internet.."O incêndio foi combatido por dezenas de corporações de bombeiros de todo o país, lavrou durante sete dias, consumiu uma área florestal de 26.885 hectares dos concelhos de Silves, Odemira, Portimão e Monchique, bem como 62 casas de primeira habitação, 49 de segunda habitação, matou cerca de 5.600 animais e feriu cerca de 40 pessoas", quantificou a mesma fonte..A investigação do caso foi "dirigida pelo MP do DIAP de Faro, com a coadjuvação da Polícia Judiciária", e levou à acusação da empresa elétrica portuguesa e de um colaborador pelo crime de incêndio florestal por negligência, como já tinha anunciado na quinta-feira pela própria EDP Distribuição..Em nota enviada à agência Lusa, a empresa adiantou na ocasião que "foi notificada do despacho de acusação" do processo referente ao incêndio de Monchique, "no qual a empresa e um colaborador foram acusados da prática do crime de incêndio florestal na forma negligente, embora tendo sido considerado sem intenção e sem possibilidade de prever o sucedido"..A EDP sublinhou que face às informações de que dispunha, tanto a empresa como o colaborador se mantinham "convictos de que adotaram de forma correta todos os procedimentos em vigor" e "confiantes de que o esclarecimento dos factos assim o demonstrará"..A empresa referiu ainda que iria "apreciar em detalhe o despacho" de acusação e "apresentar a defesa em tempo e local oportunos, reiterando, como até aqui, a sua disponibilidade para o apuramento das causas que conduziram a este incêndio e à forma como evoluiu"..O incêndio deflagrou no dia 03 de agosto de 2018 na zona da Perna Negra, na serra de Monchique (distrito de Faro), e foi o maior registado em 2018 em Portugal e na Europa, tendo sido dominado apenas na manhã de 10 de agosto..Aquando da constituição da empresa e do colaborador como arguidos, em fevereiro, a EDP Distribuição manifestou-se convicta de que a origem do incêndio não esteve na rede elétrica, tendo em conta que o ponto de ignição não tem nenhuma linha elétrica nas suas proximidades..Na mesma ocasião, o presidente da Câmara de Monchique disse à Lusa que o município iria constituir-se como assistente caso o processo judicial avançasse, "para poder acompanhar o mesmo e ver, caso as entidades competentes concluam por uma condenação, se consegue ser ressarcida"..O incêndio provocou também danos significativos no concelho vizinho de Silves, depois de ter afetado, com menor impacto, os municípios de Portimão, no distrito de Faro, e de Odemira, no distrito de Beja.