Mourinho foi despedido do Chelsea há três anos. Hoje vive dias difíceis em Old Trafford
Cumprem-se esta segunda-feira precisamente três anos que José Mourinho foi despedido do Chelsea pela segunda vez. Ao início da tarde daquele dia 17 de dezembro de 2015, o clube londrino emitiu um comunicado a anunciar a saída do treinador, na sequência de uma derrota com o Leicester (2-1) e depois de a equipa ter perdido nove dos 16 jogos disputados na Premier League. Hoje, tal como há três anos, o setubalense vive dias difíceis ao serviço do Manchester United.
O Chelsea anunciou na altura que Mourinho saiu por mútuo acordo. Mas o português fez questão de revelar que tinha sido... despedido: "O senhor Abramovich decidiu despedir-me. Não foi mútuo acordo. Foi uma decisão do dono e fui informado dessa decisão. Aceitei-a de uma forma bem-educada e assinámos os papéis. Fi-lo de forma calma e respeitosa".
Três anos depois, a situação de José Mourinho no Manchester United não é um mar de rosas (longe disso) e o fantasma do despedimento paira a cada jornada que passa. Como agora, depois da derrota no fim de semana na casa do rival Liverpool, por 3-1. Mesmo assim o cenário não é tão desolador como há três anos: Mourinho deixou o Chelsea na 16.ª posição, apenas com 15 pontos contabilizados em 16 jornadas.
O clube de Old Trafford é sexto classificado na Premier League, com 26 pontos somados nas 17 jornadas já cumpridas na Liga inglesa - está já a 19 do líder Manchester City. Soma sete vitórias, cinco empates e cinco derrotas. Outro fator preocupante é o número de golos que a equipa sofre: 29, mais um do que em toda a temporada passada. E nos cinco desafios já realizados com os cinco primeiros classificados não venceu um. A consolação está no facto de ter passado aos oitavos de final da Liga dos Campeões, onde agora vai medir forças com o Paris Saint-Germain.
A derrota com o Liverpool assinalou um outro marco negativo, já que que o Manchester United igualou o pior arranque de temporada desde a época 1990/91 - 26 pontos em 17 jogos. Nesse ano, a equipa então treinada por Alex Ferguson terminou o campeonato no sexto lugar, a 24 pontos do campeão Arsenal.
"Se me perguntam se podemos ganhar o título, claro que não, é irreversível. Ainda podemos chegar ao quarto lugar, mas não vai ser fácil. De certeza que vamos terminar nos seis primeiros, mas o máximo que poderemos ambicionar é um dos lugares de acesso à Liga dos Campeões", desabafou Mourinho depois da derrota em Anfield Road.
O momento é complicado e as críticas são uma constante, pois a equipa, além dos maus resultados, tem acumulado exibições fracas. Os adeptos do Manchester United estão cansados e uma das hashtags mais utilizadas depois da derrota com o Liverpool foi #JoseOut.
Nos programas televisivos de análise desportiva, quase todos com antigos internacionais ingleses, as críticas ao Manchester United e a Mourinho são uma constante. "Mais cedo ou mais tarde, Mourinho vai sair. Eu prefiro que seja no final da época. Mas ver a direção do clube tão apática... é incrível como lhe propuseram um contrato de longa duração sabendo o que habitualmente sucede a Mourinho nas suas terceiras temporadas. O clube está sem rumo e não sabe o que fazer com Mourinho. Despedi-lo agora custa uma fortuna", assinalou Gary Neville, antigo capitão do Manchester United e atual comentador da Sky Sports.
Ryan Giggs, um dos históricos jogadores do Manchester United, preferiu disparar na direção do avançado Lukaku. "Costumávamos ter avançados como o Eric Cantona que transformavam bolas más em bolas boas. Agora temos avançados como o Lukaku, que transformam bolas boas em bolas más", atirou em declarações no programa Optus Sport, da televisão australiana.
"A grande decisão em torno do Manchester United é se Mourinho deve sair antes ou só no final da época. É uma equipa suficientemente boa para ganhar o campeonato? Não. É uma equipa para estar no sexto lugar? Não. Mourinho é um treinador de top, mas as coisas não lhe estão a correr bem no Manchester United. A única forma de algo mudar no clube é haver mudança no banco", disse por sua vez o ex-jogador Jamie Carragher à Sky Sports.
Roy Keane, também antigo jogador do Manchester United, é da opinião que "Mourinho não está a conseguir retirar o melhor dos seus jogadores". "Mas é preciso ponderar e analisar muito bem as coisas, porque o caminho mais fácil é sempre despedir o treinador. Não concordo que ele saia antes do final da época. O Pep Guardiola também não ganhou nada no seu primeiro ano no City. E depois pediu quatro defesas à direção do clube e deram-lhe."
Média de vitórias não anda longe de Ferguson
Uma possível indemnização milionária é apontada como uma das justificações para a família Glazer (proprietária do clube) não despedir José Mourinho. Isto porque o treinador português tem contrato válido até ao verão de 2020 com o Manchester United e caso fosse demitido iria receber cerca de 30 milhões de euros de indemnização.
José Mourinho assumiu o cargo de treinador do Manchester United no início da temporada 2016/17. E a verdade é que olhando à média de vitórias, o treinador português apresenta registos melhores do que os seus antecessores e anda perto dos números de Alex Ferguson.
Nos 144 jogos oficiais já disputados em todas as competições, Mourinho venceu 84, o que dá uma média de 58,3% de triunfos. Louis van Gaal, o holandês que dirigiu o clube de Old Trafford antes do português, conseguiu 54 vitórias em 103 jogos, ou seja, uma média de 52,4%. Um registo muito parecido com o que foi conseguido por David Moyes, em 2013/14 - o técnico que rendeu Alex Ferguson somou 27 vitórias em 51 jogos, o que perfaz uma média de 52,9.
Se recuarmos aos tempos de Alex Ferguson, que comandou o clube entre 1986 e 2013, a média de triunfos do técnico escocês é de 59,6%, correspondente a 625 vitórias num total de 1500 jogos.
Ryan Giggs treinou de forma interina o United em 2014, entre os reinados de David Moyes e Louis van Gaal, mas como apenas orientou a equipa em quatro jogos (duas vitórias, um empate e uma derrota) a contabilidade não entra nestas contas.
ALEX FERGUSON (1986/2013)
1500 jogos
895 vitórias
338 empates
267 derrotas
Títulos: 13 campeonatos, 5 Taças de Inglaterra, 4 Taças da Liga, 10 Supertaças de Inglaterra, 2 Ligas dos Campeões, 1 Supertaça Europeia, 2 Mundiais de Clubes.
DAVID MOYES (2013/14)
51 jogos
27 vitórias
9 empates
15 derrotas
Títulos: 1 Supertaça de Inglaterra.
LOUIS VAN GAAL (2014/2016)
103 jogos
54 vitórias
25 empates
24 derrotas
Títulos: 1 Taça de Inglaterra.
JOSÉ MOURINHO (2016/?)
144 jogos
84 vitórias
32 empates
28 derrotas
Títulos: 1 Liga Europa, 1 Taça da Liga inglesa e uma Supertaça de Inglaterra.