Morte de dissidente Liu Xiaobo "mostra a crueldade" do governo chinês
A organização Human Rights Watch (HRW) disse hoje que a morte do dissidente chinês Liu Xiaobo "mostra a crueldade" do governo da China em relação aos defensores pacíficos dos direitos humanos e da democracia.
Liu Xiaobo, prémio Nobel da Paz 2010, morreu hoje aos 61 anos no hospital, onde estava desde 26 de junho devido a um cancro no fígado em fase terminal, depois de ter passado mais de oito anos preso por "subversão".
"Mesmo quando Liu Xiaobo piorou, o governo chinês continuou a isolá-lo e à sua família e negou-lhe a possibilidade de escolher livremente o seu tratamento médico", disse Sophie Richardon, diretora para a China da HRW, citada no comunicado.
"A arrogância, crueldade e insensibilidade do governo chinês são chocantes, mas a luta de Liu por uma China respeitadora dos direitos humanos e democrática continuará", adiantou.
A organização de defesa dos direitos humanos com sede em Nova Iorque insta as autoridades chinesas a "libertar imediatamente e sem condições" a mulher do dissidente, Liu Xia, e a permitir-lhe "plena liberdade de movimentos, inclusive a abandonar o país, se desejar".
A HRW recorda que Liu, antigo professor de Literatura na Universidade Normal de Pequim, "foi um crítico sem rodeios do governo chinês" e que o seu primeiro livro e ensaios "foram influentes entre os intelectuais antes de ele ser preso".
Recorda igualmente que o dissidente recebeu inúmeros prémios internacionais, além do prémio Nobel da Paz e incluindo o atribuído pela HRW, o Alison Des Forges por Extraordinário Ativismo, "pelo seu compromisso destemido com a liberdade de expressão e de reunião na China".
A Human Rights Watch assinala que "pouco se sabe das condições de detenção" do dissidente e que "as autoridades vigiaram de perto Liu ao longo da sua hospitalização, sendo difícil verificar a autenticidade de qualquer informação oficialmente divulgada".
Pede que seja investigado o modo como Liu foi tratado, sublinhando que "as normas internacionais estabelecem que todos os casos de morte sob custódia devem ser alvo de 'investigações imediatas, imparciais e efetivas sobre as circunstâncias e causas' da morte".
Segundo a HRW, as autoridades também devem tomar medidas para evitar as mortes sob custódia e a China já "permitiu que pelo menos dois outros destacados críticos do governo ficassem gravemente doentes na prisão e aí morressem ou no hospital".
Trata-se de Cao Shunli, ativista dos direitos humanos que morreu em março de 2014 num hospital de Pequim, depois de ter sido detido arbitrariamente em setembro de 2013, e de Tenzin Delek Rinpoche, um lama tibetano a cumprir uma pena de prisão perpétua por "incitar à separação do Estado" e que morreu em julho de 2015, refere o comunicado.
"Nenhum governo deveria deixar passar a morte de Liu Xiaobo sem questionar os maus tratos de Pequim em relação a esta voz crítica que defendia os direitos humanos, pedindo a liberdade de Liu Xia e pressionando pela libertação de todos os que estão presos injustamente em toda a China", disse Richardson.
"Os governos devem enviar uma mensagem clara a Pequim, de que os princípios a que Liu Xiaobo dedicou a sua vida vão desenvolver-se após a sua trágica morte", insistiu a responsável da HRW.