Morreu o realizador italiano Bernardo Bertolucci
O realizador italiano Bernardo Bertolucci morreu em Roma aos 77 anos, avança o jornal La Repubblica . Bertolucci, que dirigiu filmes como O Último Tango em Paris ou Os Sonhadores, morreu segunda-feira de manhã vítima de cancro, confirmou a sua relações públicas, Flavia Schiavi.
Bertolucci venceu o Óscar de melhor realizador com o filme O Último Imperador, de 1988, depois de ter sido indicado para o prémio em 1974 com controverso O Último Tango em Paris. Poeta, produtor, guionista e cineasta era considerado um dos mestres do cinema italiano, tendo no entanto trabalhado bastante também em Hollywood. É, aliás, o único realizador italiano vencedor de um Óscar.
Bernardo Bertolucci nasceu a 16 de Março de 1940 na cidade italiana de Parma. O pai, Attilio, era professor de história da arte, poeta e escritor, mas também um crítico de cinema e exerceu sobre ele grande influência. Aos 15 anos, começou a dedicar-se à escrita, tendo chegado a ganhar diversos prémios literários, entre eles o Prémio Viareggio atribuído a uma primeira obra. No entanto, abandonou o curso de Literatura Moderna na Universidade de Roma para se dedicar ao cinema. A entrada nesse novo reino deu-se pela mão de Pier Paolo Pasolini, que, retribuindo a ajuda que o pai de Bertolucci lhe prestara na publicação do seu primeiro livro, o contratou para assistente de realização do seu primeiro filme, Accatone.
É assim que em 1962, aos 21 anos, realiza a sua primeira obra, La Commare Secca, um mistério policial em torno do assassinato de uma prostituta, baseado num argumento de Pasolini e por ele bastante influenciado. O filme, todavia, foi um fracasso de público e crítica. O seguinte, Antes da Revolução, já ganhou prémios em Cannes, onde foi saudado pela crítica francesa como uma "homenagem à escola dos Cahiers. A influência de Godard permaneceria em Partner (1968), uma adaptação livre de O Duplo, de Dostoiévski.
Seguem-se obras como A Estratégia da Aranha (1970) e O Conformista (1970), que lhe valeu uma nomeação para o Óscar de Melhor Argumento Adaptado, O Último Tango em Paris (1972), protagonizado por Marlon Branco e Maria Schneider, e 1900 (1976), com interpretações de Burt Lancaster, Donald Sutherland, Robert De Niro e Gérard Depardieu.
"Depois da fase socialista dos anos 60/70, os anos 80 assinalam uma progressiva mudança ideológica e artística em Bertolucci, sendo que o filme que abre essa década, A Tragédia de Um Homem Ridículo (1981), expressa já um certo desencanto com o Marxismo", escreveu o crítico do DN Nuno Carvalho num texto publicado em 2008, quando o realizador foi homenageado no Estoril Film Festival. "Juntamente com esse esmorecer ideológico, nasce no autor de A Lua o desejo de ser mais popular, a vontade de um sentido mais comercial para os seus filmes. Apesar de sempre haver resistido às tentações do cinema popular, Bertolucci sentia que fazia filmes regidos por uma certa ideia de "rigor" que afastava as pessoas das salas."
São desta nova fase filmes como o épico O Último Imperador (1987), vencedor de nove Óscares da Academia de Hollywood, incluindo o de Melhor Filme e Melhor Realizador, Um Chá no Deserto (1990), com John Malkovich e Debra Winger, e O Pequeno Buda (1993), com Keanu Reeves.
Entre os últimos filmes de Bertolucci encontramos Beleza Roubada (1996), Assédio (1998), Os Sonhadores (2003), com Michael Pitt, Eva Green e Louis Garrel.