Morreu o estilista francês Hubert de Givenchy
Hubert de Givenchy, o criador da casa francesa com o seu apelido, morreu este sábado, aos 91 anos, no seu castelo da Renascença, perto de Paris. "É com grande tristeza que informamos que Hubert Taffin de Givenchy morreu", afirmou Philippe Venet, o parceiro do estilista, num comunicado à AFP.
O estilista, um gigante de 1,98 cm, ficou famoso por ter ajudado a criar o mito do "pequeno vestido preto". Se bem que esta peça de vestuário tenha começado com Coco Chanel, o estilo de Givenchy popularizou-o. "O pequeno vestido preto é o mais difícil de conseguir, porque é preciso mantê-lo simples", afirmou.
Vestiu Jackie Kennedy enquanto foi primeira-dama dos EUA e, entre outras, Audrey Hepburn.
Concebeu o guarda-roupa icónico do filme Breakfast at Tiffany's e também de Funny Face. A atriz inspirou o seu primeiro perfume, L'Interdit. Foi a sua musa e uma amiga próxima. A amizade prolongou-se por 40 anos.
Era um aristocrata. Nasceu Hubert James Marcel Taffin de Givenchy, em 1927, filho do marquês Lucien e Béatrice Taffin de Givenchy. O pai morreu quando ele tinha dois anos. Cresceu admirando profundamente a mãe, uma mulher sofisticada, de quem herdou a elegância natural e um físico de estrela de Hollywood, como descreve o jornal francês Le Monde. O avô tinha uma fábrica de tapetes, e uma enorme coleção de tecidos e roupas que o fascinavam em criança. Só podia admirá-los se tivesse boas notas, dizia o avô. O seu interesse pela moda começou quando teria 10 anos.
"Sou feliz, porque tive o trabalho que sonhei em criança", declarou numa conferência de imprensa, há vários anos, falando das suas clientes e de uma das pessoas da moda que mais admirou, Cristóbal Balenciaga, com quem trabalhou e aprendeu o ofício. Foi com as criações esculturais do estilista espanhol que decidiu o seu destino, longe da advocacia que a família lhe destinava.
Com 17 anos, instala-se em Paris. Estamos em 1945 e o jovem inscreve-se no curso da Escola de Belas Artes já decidido a trabalhar nas casas de alta-costura da capital francesa.
Hubert de Givenchy faz roupas com "precisão cirúrgica, não de mais, não de menos", escreveu a revista Madame Figaro, citada pelo britânico The Guardian. O seu nome foi sinónimo de moda durante os últimos 50 anos.
1952 é o ano em que faz a sua primeira coleção de alta-costura. Dois anos depois, lança a primeira coleção de pronto-a-vestir.
Com a sua casa quis ajudar a definir um novo conceito de elegância e sofisticação. Como outros nomes do design da moda de quem foi contemporâneo, mostrava gosto pelo design de moda como pelo design de interiores ou pela arte.
Em 1988, a maison com o seu apelido passou para as mãos do conglomerado de marcas de luxo LVMH (Louis Vuitton Moët Hennessy) por 45 milhões de dólares. Nesse dia, Givenchy disse adeus a 36 anos de independência, mas abriu a porta a uma expansão da marca. Manteve-se como diretor criativo até à reforma, em 1995.
Por ali viriam a passar jovens estilistas que se viriam a revelar novas estrelas da indústria. John Galliano, Alexander McQueen e Julien McDonald. Nenhum deles conseguiu, no entanto, pôr a marca no mapa. Esse trabalho só viria a ser conseguido por Riccardo Tisci, a partir de 2005.
O italiano trouxe uma inspiração gótica para o design Givenchy tornando a marca de novo relevante. Após 12 anos de trabalho, em 2017, Tisci passou o testemunho a Clare Waight Keller, a primeira mulher a dirigir a marca.
A designer britânica tem explorado os desenhos gráficos do fundador em campanhas a preto e branco e trabalhado os conceitos de masculino e feminino. Um dos seus primeiros pedidos foi encontrar-se com o fundador.
"Uma personalidade maior do mundo da alta-costura francesa e um cavalheiro que simbolizava o chique e a elegância parisiense por mais de 50 anos", disse a LVMH em comunicado. "Profundamente triste"; declarou-se o presidente da empresa, Bernard Arnault
"Ele esteve entre os designers que colocaram Paris firmemente no coração do mundo da moda pós-1950 ao mesmo tempo que criava uma personalidade única para a sua marca de moda. Tanto nos seus prestigiantes vestidos longos como na roupa de dia, Hubert de Givenchy juntou duas raras qualidades: ser inovador e intemporal", acrescentou Arnault.
"A minha é a mais bela profissão da moda: fazer os outros felizes com uma ideia", disse Hubert de Givenchy há um ano, na inauguração da exposição com o seu nome no Museu da Renda e da Moda de Calais.
Depois da reforma, manteve-se ligado às artes e antiguidades, como especialista da leiloeira Christie's, Versalhes e o Museu do Louvre. Geriu durante vários anos o ramo francês do World Monuments Fund.
Uma portuguesa entre as suas clientes
As suas roupas vestiram mulheres como a princesa Grace do Mónaco, Bunny Mellon, a duquesa de Windsor, Baby Paley, Gloria Guiness, Jane Fonda e a portuguesa São Schlumberger, casada com o magnata do petróleo Pierre Schlumberger.
A Casa Givenchy, que mantém 'online' a próxima coleção primavera-verão, prestou igualmente homenagem ao seu fundador, saudando "uma personalidade incontornável no mundo da alta-costura francesa, símbolo da elegância parisiense durante mais de meio século".
"A sua abordagem da moda e a sua influência perduram", escreve a casa Givenchy. "A sua obra permanece pertinente, hoje, como outrora".
Uma retrospetiva das coleções de Hubert de Givenchy foi feita no ano passado, em França, assinalando os 65 anos da fundação da casa de alta-costura.
O Museu do Design e da Moda (MUDE), em Lisboa, detém exemplares de Givenchy, no seu acervo de alta-costura, entre os quais um vestido de 'cocktail', com uma túnica negra.
Sobrevivem-lhe o parceiro, Philippe Venet, e os seus sobrinhos. "As cerimónias fúnebres celebrar-se-ão na intimidade mais estrita", informou a família. A pedido de Hubert de Givenchy, as flores devem ser substituídas por donativos à Unicef.