Morreu Michel Legrand, compositor francês que triunfou em Hollywood
O músico e compositor Michel Legrand, de 86 anos, criador de várias bandas sonoras de filmes da Nouvelle Vague francesa, morreu esta madrugada, na companhia da sua mulher, a atriz Macha Méril, anunciou hoje o seu assessor de imprensa. Ao longo de mais de 50 anos de carreira, ganhou três Óscares e trabalhou com personalidades como Ray Charles, Orson Welles, Frank Sinatra, Jean Cocteau, Jacques Demy, Charles Trenet ou Édith Piaf.
"Um compositor de génio, o seu talento inesgotável, celebrado em todo o mundo, despertou tantas emoções", reagiu o ministro da Cultura francês, Franck Riester, no Twitter.
Estabeleceu-se como orquestrador para outros artistas, mas na década de 1960 começou a compor bandas sonoras para cinema com o surgir da corrente artística da Nouvelle Vague, trabalhando com realizadores como Jacques Demy (Lola, A grande pecadora, Os chapéus de chuva de Cherburgo, As donzelas de Rochefort...), Agnès Varda (Duas horas na vida de uma mulher) ou Jean-Luc Godard (Uma mulher é uma mulher).
"Como alguns deuses hindus, Michel é um ser multiforme. Temos a impressão de que nenhuma disciplina musical lhe resiste", escreveu o compositor Stéphane Lerouge no prefácio da autobiografia de Michel Legrand publicada em 2013, J'ai le regret de vous dire oui.
"No dia em que fizermos o balanço da sua contribuição para a música, descobriremos um criador que a França pode ter subestimado", acrescentou.
Em 1966, no auge da popularidade em França, decide estabelecer-se nos Estados Unidos. "É um risco real deixar a França, aterrando em Hollywood sem qualquer compromisso real", escreveu na sua autobiografia, chamando a este passo "um jogo de roleta russo".
Foi outro compositor, Henry Mancini, quem lhe abriu as portas de Hollywood e deu a oportunidade de escrever a música de O grande mestre do crime (The Thomas Crown Affair), com Steve McQueen e Faye Dunaway.
Legrand ganhou três Óscares pela canção Les moulins de mon cœur, retirado de O grande mestre do crime, em 1969; depois por Verão 42, de Robert Mulligan, em 1972; e por fim por Yentl, de e com Barbra Streisand, em 1983.
Em 1972, é entrevistado e toca L'été 42:
O crítico e realizador Thierry Jousse faz um resumo da sua carreira neste trabalho para o Arte:
Compositor de A princesa com pele de burro (Peau d'âne), filme de 1970 de Demy com Catherine Deneuve e Jean Marais, tinha criado temas novos para acompanhar a versão teatral da história, que está em cena no Théâtre Marigny, em Paris. Na primeira representação de Peau d'âne em palco, o compositor recebeu uma ovação de pé de mais de 20 minutos. O espectáculo continua em cena.
"Um gigante da música acaba de nos deixar. Um músico de renome mundial. Ele continua presente entre nós, todos os dias em Marigny", declarou a companhia teatral num comunicado.
Em abril, Legrand voltaria aos palcos. Tinha agendados dois concertos no Grand Rex de Paris, acompanhado pelo acordeonista Richard Galliano, a soprano Natalie Dessay, o saxofonista Michel Portal e o guitarrista Sylvain Luc.