Morreu Hosni Mubarak, o último "faraó" do Egito

O homem que liderou os destinos do Egito durante 30 anos até em 2011 ser derrubado por uma revolta popular tinha 91 anos.
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Após 30 anos no poder no Egito, em 2011 Hosni Mubarak foi derrubado por uma revolta popular no âmbito da Primavera Árabe. Morreu nesta terça-feira no hospital militar de Galaa, no Cairo. Tinha 91 anos.

A morte de Mubarak foi confirmada à AFP pelo seu cunhado, o general Mounir Thabet. Este garantiu que o funeral será organizado pela presidência do Egito.

Condenado a prisão perpétua por não ter impedido as forças de segurança de matar mais de 800 manifestantes durante a revolta popular, foi transferido para a prisão de Tora, nos arredores sul do Cairo. As imagens do antes todo-poderoso Mubarak a ser julgado em tribunal dentro de uma espécie de jaula correram mundo.

Em 2017, aquele que era conhecido como o último "faraó" do Egito foi libertado, tendo sido ilibado da maior parte das acusações.

Em janeiro, o ex-presidente foi submetido a uma cirurgia e o neto colocou uma foto com ele no Instagram.

Nascido numa pequena aldeia da província de Menofya, no delta do Nilo, em 1928, Mohammad Hosni Said Mubarak formou-se aos 21 anos na Academia Militar Egípcia. No mesmo ano, em 1949, transitou para a Força Aérea. Pilotou Spitfires e tornou-se instrutor de voo. Foi na Força Aérea que assistiu ao golpe que levou o general Gamal Abdel Nasser ao poder em 1952. Sete anos depois, e já passada a crise do canal de Suez, foi para a União Soviética aprender a pilotar bombardeiros.

Já chefe do Estado-Maior da Força Aérea durante a Guerra do Yom Kippur, em 1973, Mubarak tornou-se uma figura de destaque devido ao papel da aviação egípcia no conflito. Figura fundamental no planeamento do ataque de surpresa contra as forças israelitas que deu início ao conflito, tornou-se um herói nacional. Em 1974, foi promovido a marechal. Um ano depois, seria escolhido para a vice-presidência do país.

Após o assassínio de Sadat em 1981 e durante as décadas de 1980 e 1990, Mubarak venceu três eleições sem oposição, a primeira das quais, um referendo sobre a sua ascensão a presidente, com 98% dos votos. Só em 2005 é que a oposição foi a votos, após intensa pressão internacional.

A 1 de fevereiro de 2011, dez dias antes da queda do seu regime pela força dos protestos da Praça Tahrir, Hosni Mubarak afirmou num discurso à nação que tencionava morrer no Egito. A sua promessa de não disputar um quarto mandato presidencial não chegou para acalmar a ira dos manifestantes e o "faraó" acabou mesmo por cair, anunciando a sua demissão.

Casado com Suzanne Mubarak, tinha dois filhos, Alaa e Gamal Mubarak. Este último foi, durante muito tempo, falado como o mais provável sucessor do pai na liderança dos destinos do Egito. Ambos estiveram detidos por manipularem a bolsa de valores, mas foram ilibados no passado sábado.

Um sobrevivente

Ao longo das três décadas em que esteve no poder, Mubarak foi reconhecido como um sobrevivente em todos os sentidos, tanto político como físico, ao escapar ileso de pelo menos seis tentativas de assassinato.

A 6 de outubro de 1981, assistia ao lado do então presidente egípcio Anwar Sadat a uma parada militar no Cairo. Sadat seria assassinado nesse dia por radicais islâmicos. Oito dias depois, Mubarak, na altura vice-presidente, tornava-se o sucessor de Sadat.

O militar transformava-se no rosto de um regime autoritário que os egípcios encararam durante décadas como uma dinastia de estilo faraónico. O estilo rígido e austero como conduziu o país deu estabilidade interna ao Egito durante anos e a aliança privilegiada que manteve com os EUA foi um garante para a influência externa do país.

Pouco mais de um ano depois da queda de Mubarak, Mohamed Morsi era eleito presidente nas primeiras eleições democráticas no país. Mas o islamita durou menos de um ano no poder. Entre protestos nas ruas, seria derrubado num golpe militar liderado pelo general Abdel Fattah al-Sisi.

Detido e condenado à morte por espionagem, Morsi acabaria por morrer no hospital após desmaiar em pleno tribunal, em junho de 2019.

Sisi, chefe das Forças Armadas e ministro da Defesa na altura do golpe, foi eleito presidente já depois de abandonar o uniforme. E lançou uma campanha contra a Irmandade Muçulmana, entretanto ilegalizada. Reeleito em 2018, Sisi tem contado com o apoio do Ocidente, a começar pelos EUA de Donald Trump, sendo elogiado pelos esforços para manter os acordos de paz com Israel.

Desde que chegou à presidência, Sisi não só devolveu poderes aos militares como é por vezes comparado a Mubarak, devido a alguns tiques ditatoriais: uma recente revisão constitucional permite-lhe ficar no poder até 2030 e aumentou a sua influência sobre os tribunais.

Num comunicado sobre a morte de Mubarak, Sisi manifestou a sua "profunda tristeza" e saudou "um dos heróis e comandantes da guerra de 1973 que devolveu a dignidade e o orgulho à nação árabe".

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