O "chefe Castro" para os mais velhos. O "senhor Castro" ou o Castro para os mais novos. Um jornalista sério e rigoroso, um homem simpático e generoso, para todos que partilharam com ele a redação do Diário de Notícias. O jornalista António Castro morreu esta sexta-feira, aos 84 anos de idade, e foi a enterrar este sábado no Cemitério do Alto de São João.."Para mim, durante anos e anos, o António Castro era sinónimo do homem do Desporto no DN, fosse ou não naquele momento ele o editor. Tantas reportagens feitas cá dentro e lá fora, tantas horas a fechar páginas. E a memória do Castro, o chefe Castro, valia também muito para os jornalistas mais novos. Fica a memória de um grande profissional e de um homem bom", recorda Leonídio Paulo Ferreira, diretor interino do DN..Grande parte da profissão exerceu-a na secção do Desporto, que, também chefiou durante muitos anos. António Castro deixou o DN em finais de 2003, o último cargo foi o de Editor de Fecho, há muito que tinha passado a idade limite de 65 anos para se reformar..As suas qualidades de "organização" e o facto de ser "sempre muito rigoroso no que fazia", argumentam os seus camaradas, levaram a que fosse escolhido para um cargo de supervisão de cada edição, para garantir que o jornal chegasse todos os dias à banca com a melhor qualidade..Jornalista especializado em desporto, era uma enciclopédia viva, acabando por acompanhar alguns dos mais importantes eventos desportivos ao longo da profissão, nomeadamente os Jogos Olímpicos e os europeus de futebol..Vestiu até ao fim a camisola do DN, como antes vestira a do Mundo Desportivo, onde iniciou a profissão. E tantas vezes comentava como tinha sido bem recebido no diário matutino, o que até o surpreendeu..Entrou no DN em 1980, vindo do Mundo Desportivo, onde foi Chefe de Redação, que, entretanto, tinha fechado. "Tinha uma grande tristeza pelo fecho do Mundo Desportivo. O DN foi o filho que adotou completamente, que ajudou a criar e pelo qual vestiu a camisola. Dizia-me muitas vezes que tinha sido recebido com muito carinho, que não esperava ser tão bem recebido", conta o jornalista Silva Pires, que partilhou com António Castro os mais variados graus da profissão, desde a secretária até à chefia..Mas Silva Pires conheceu-o ainda antes de se iniciar na profissão, uma vez que o chefe Castro fazia parte da geração do seu pai, Fernando Pires, o chefe Pires. E algumas vezes reuniram lá em casa, partilhando até o gosto musical pelos The Beatles. "Era um excelente profissional, sério, muito leal, a que a gente chama de 'um camarada'. Sóbrio, low profile, nada ambicioso, esperava sempre que chegasse a sua vez. Era uma pessoa que toda a gente gostava, de bom trato, educado"..Mais tarde, Silva Pires lembra-se de regressarem a casa depois de fecharam cada edição do DN, na altura, na sede do Marquês de Pombal, por volta das 05:00. Tem esta história para contar: "Um dia, despedimo-nos e o chefe Castro viu o carro do meu pai a passar e pensou: "Este não está bem, viemos a pé, despedimo-nos e pegou no carro?" O carro tinha sido roubado"..Os camaradas de António Castro repetem os elogios e também referem que era um conservador. A que acrescentam dois traços fundamentais de personalidade. António Castro tanto era capaz de dar um puxão de orelhas a quem não fizesse bem o seu trabalho como de dar um abraço. E não era preciso que passassem mais de cinco minutos entre um momento e outro.."Era um misto de alguém extremamente duro e de extremamente simpático. Tanto podíamos ser repreendidos por algum erro de edição, como cinco minutos depois estava a pôr um braço no ombro e a rir-se, um tipo de personalidade muito comum na época dele. Tanto fazia uma tempestade como dava uma boa risada. E não se conseguia perceber pela expressão, eu nunca conseguia perceber se estava a brincar ou se estava a testar", recorda João Céu e Silva..O grande repórter do DN lembra-se de um homem "afetivo, carinhoso e simpático", que estava "estava sempre disponível para ajudar os mais novos", sempre pronto "a passar os seus conhecimentos"..Destaca, ainda, "que era uma pessoa extremamente responsável. Para ele, "não havia brincadeiras com o jornalismo e levava isso ao máximo, obrigava a confirmar os factos, a reconfirmar, era extremamente rigoroso na informação, não permitia facilitismos"..O jornalista Humberto Costa, de quem Castro foi coordenador da secção do Desporto, bate na mesma tecla. "Garantia que a informação que se dava era rigorosa, muito exigente. Não deixava que alguém desse uma informação sem a fundamentar muito bem, às vezes, deixava de dar as notícias por causa disso"..Quando as coisas não tinham o rigor que exigia, era certo e sabido que quem cometeu o erro ia ouvir. "Chateava-se e meia hora depois já estava a falar bem. Era uma pessoa com um coração de outro. Um belíssimo chefe e muito bom camarada"..Muitos episódios se recordam naquela secção de Desporto, mas Humberto Costa sublinha um que melhor caracteriza o comportamento de António Castro como profissional e chefe. "Acompanhei toda a preparação dos jogos de Portugal para o Europeu de Futebol de 2000. Quando se trata da fase final [na Bélgica e Países Baixos], decidiu mandar o Bertolino de Carvalho, que era o segundo na chefia do Desporto. Percebi a opção, mas não deixei de ficar chateado e disse-lhe isso. No dia seguinte, foi ter comigo e disse: "Faça a mala que você também vai". Disse aquilo com um olhar de contentamento, de quem estava mais alegre do que eu. Acho que foi inédito no DN, irem dois jornalistas a uma fase final"..Muitos outros camaradas recordam António Castro, até porque é dos jornalistas que mais tempo permaneceu no DN. E que, de uma forma ou outra mantinham o contacto, nem que fosse através do Facebook..Carlos Ferro lembra-se de António Castro quando entrou para o DN e para a secção de Desporto, na altura, já não como chefe direto. Castro foi assumindo outras responsabilidades, aliás, estava sempre disponível para o que dele precisassem no DN, salientam os outros profissionais.."Era super bem-educado, com um grande conhecimento sobre as matérias, ajudava todos, muito rigoroso". O coordenador do DN remata: "Gostava do DN, vestia verdadeiramente a camisola. Mesmo depois de ter saído, continuava a manter a ligação ao DN, preocupava-se com o DN..O DN apresenta as sentidas condolências à mulher e aos dois filhos.