Morreu André Gonçalves Pereira, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros

De origem goesa, advogado, professor, foi ministro dos Negócios Estrangeiros nos governos de Pinto Balsemão, morreu esta segunda-feira de vítima de doença prolongada. Tinha 83 anos. Marcelo lembrou "amigo de longa data".
Publicado a
Atualizado a

André Gonçalves Pereira, 83 anos, advogado, professor, discípulo de Marcelo Caetano, foi ministro dos Negócios Estrangeiros nos governos de Pinto Balsemão, morreu esta segunda-feira de vítima de doença prolongada, noticiou o Expresso.

Já esta noite, Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou, numa nota publicada na página da internet da Presidência da República, a sua "inteligência e brilho". "O Presidente da República apresenta as suas condolências à família do Professor Doutor André Gonçalves Pereira. Jurista de excecionais inteligência e brilho, professor emérito de Direito Internacional Público, causídico de prestígio nacional e internacional", lê-se.

Ministro dos Negócios Estrangeiros no segundo Governo de Francisco Pinto Balsemão, André Gonçalves Pereira "foi defensor de um Estado de Direito Democrático", acrescentou o Chefe do Estado.

Marcelo Rebelo de Sousa endereçou as condolências à família do antigo ministro e deixou ainda "um último abraço reconhecido, já com saudade".

De origem goesa,Gonçalves Pereira doutorou-se com 25 anos e chegou a professor catedrático aos 32, em 1970. Pelo meio, com 30 anos, foi nomeado para administrador da Gulbenkian. Com um percurso assim, não admira que o DN o destacasse, em agosto do ano passado, num artigo sobre "as elites goesas em Portugal", entre médicos, políticos e influentes.

Na altura, o advogado explicava que "Goa é um caso raro de uma cultura europeia e cristã com grande importância no Oriente". André Gonçalves Pereira, já aqui nascido depois de o pai vir, jovem, estudar Direito em Lisboa e por cá ficar, antecipava a explicação para este sucesso, remetendo-o para a estratégia dos conquistadores.

"Quando os portugueses lá chegaram [a Goa] já havia uma civilização, com duas forças em conflito, a hindu e a muçulmana. Afonso de Albuquerque e João de Castro intervieram a favor dos hindus, contra os muçulmanos, nossos inimigos seculares. Assim, os portugueses não aparecem tanto como conquistadores, mas como aliados, o que não sucedeu noutras colónias. Não chegámos como ocupantes, convivemos com uma civilização e por isso Goa era diferente de África."

Antigo chefe da diplomacia, Gonçalves Pereira lembrava-se então das palavras do primeiro-ministro de Goa, quando visitou a Índia, enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros, acolhido que foi de braços abertos. Estava feliz por o receber depois de uma luta de 400 anos. Foi nessa viagem que visitou a grande casa senhorial da família, habitada pelas primas "que eram completamente portuguesas e assinavam o Diário de Notícias, que recebiam com 15 dias de atraso mas faziam questão de ler".

Para lá das memórias pessoais, que se confundiam com a sua visão política, Gonçalves Pereira deixou uma marca no Direito, depois de ter escrito o Manual de Direito Público, juntamente com Fausto de Quadros. À política só chegou depois do 25 de Abril, quando do segundo governo da Aliança Democrática (AD), com Francisco Pinto Balsemão a primeiro-ministro. O fundador do jornal Expresso é um dos seus amigos mais próximos.

Era advogado desde 1959. Filho do também advogado António Armando Gonçalves Pereira, o goês que veio para Lisboa, e de mãe francesa, Viviane Marie Delaunay.

Freitas lamenta morte de "ótimo amigo, excelente colega"

"Tenho muita pena de receber esta notícia porque ele era um ótimo amigo, um excelente colega e considerado um dos melhores professores da Faculdade de Direito de Lisboa", refere uma nota escrita enviada à Lusa por Freitas do Amaral, que fez parte dos governos da AD, entre 1979 e 1983.

"Mantivemos contacto frequente até recentemente. A minha mulher e eu apresentamos sentidas condolências a toda a família, em especial à sua mulher e ao seu irmão", adianta a mesma nota.

[notícia atualizada às 22.50 com a nota de Freitas do Amaral]

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt