Morreu a primeira mulher portuguesa a integrar um Governo

Maria Teresa Cárcomo Lobo foi nomeada subsecretária de Estado da Saúde em agosto de 1970 por Marcelo Caetano. Morreu este mês no Rio de Janeiro, aos 89 anos.
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A notícia da morte de Maria Teresa Cárcomo Lobo foi avançada em Portugal pelo embaixador (jubilado) Francisco Seixas da Costa, com uma nota na sua página pessoal no Facebook. E está confirmada em sites brasileiros, nomeadamente da Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ).

Nascida em 18 de fevereiro de 1929 em Malanje, Angola, Maria Teresa Cárcomo Lobo licenciou-se em Direito em Lisboa. Em 21 de agosto de 1970 foi nomeada pelo então presidente do Conselho, Marcello Caetano, para subsecretária da Saúde e Assistência, tornando-se na primeira mulher portuguesa a desempenhar um cargo governativo. O seu discurso de posse ainda consta nos arquivos da RTP.

Em julho de 1973 deixou o Governo e depois do 25 de Abril partiu para o Brasil, de onde nunca mais regressaria, como aconteceria com vários outras figuras de destaque no Estado Novo (começando pelo próprio Marcello Caetano). Morreu no passado dia 8, sendo sepultada no dia seguinte. No site do Parlamento português encontra-se um currículo bastante completo da sua carreira profissional e política até 1974. Antes de chegar ao governo de Marcello Caetano, Maria Teresa Cárcomo Lobo havia passado por Macau e Moçambique. No Brasil, chegou a juíza federal e foi dirigente da ACRJ.

No Facebook, Francisco Seixas da Costa - que foi embaixador no Brasil - recordou que a nomeação da jurista para o Governo foi então considerada como "uma novidade, quase 'histórica'". "Aquela cabeleira enfunada, muito da época, foi uma imagem que encheu então os jornais e a televisão, passando subliminarmente como uma 'prova' da 'abertura' marcelista."

Na mesma nota, o diplomata salientou a origem indiana da jurista e o facto de essa circunstância ter servido, a partir dos anos 50, como uma "notória 'via' de ascensão na sociedade portuguesa (mas não apenas no seio do regime)". Segundo contou, na sua passagem pelo Brasil conviveu com várias figuras portuguesas ligadas ao Estado Novo que escolheram aquele país como porto de abrigo depois do 25 de Abril. Mas não o fez com Maria Teresa: "Tive francamente pena". No Brasil, disse ainda Seixas da Costa, a jurista teve um "percurso profissional de mérito".

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