Morreu a diva russa da ópera Galina Vishnevskaya
"Quando senti o avião no ar, chorei lágrimas de felicidade'. Porque se sentia enfim em segurança. Quem o disse foi Galina Vishnevskaya, descrevendo o dia, em julho de 74, em que deixou a então URSS com as duas filhas (o marido viajara umas semanas antes). Era o adeus à pátria daquela que, junto com Irina Arkhipova, era a maior diva da cena operática soviética; e daquela que, junto com o marido, o lendário violoncelista (depois também ma- estro) Mstislav Rostropovitch, formava o casal de ouro da cena artística do seu país.
Faleceu anteontem, segunda-feira, perto de Moscovo. Para a posteridade ficam a Fundação Vishnevskaya-Rostropovitch (ajuda hospitais pediátricos em toda a Federação Russa), uma fundação de apoio a cantores reformados do Teatro Bolshoi e uma academia, em Moscovo, para jovens cantores líricos. Fica também o seu livro de memórias: Galina, a Russian story (1984) - que inspirou a ópera Galina, de Marcel Landowski, estreada em Lyon, em 1996.
Ficam as gravações, onde se destacam um Boris (1987), dirigido pelo marido (também a gravou com Karajan); o Onegin de 1955, dirigido por Khaikhin; a Guerra e Paz, de 1961, dirigida por Melik-Pashayev (gravá-la-ia de novo em 1983, com o marido); Katerina Izmailova, de 1978, com o marido a dirigir (também gravou a versão original: Lady Macbeth de Mtsensk); a Dama de Espadas (1976, com o marido); Iolanta (1984), etc.
Britten escreveu para ela a parte de soprano do seu Requiem de Guerra e o ciclo O Eco do Poeta; Shostakovitch orquestrou para ela os Cantos e Danças da Morte, de Mussorgsky e escreveu a parte de soprano da sua Sinfonia n.º 14 a pensar nela.
Mas também ficará o filme Alexandra, de Sokhurov (que realizou um documentário sobre o casal), estreado em Cannes, em 2007; e outro, de 1993, baseado em contos de Ostrovsky; e uma Catarina, a Grande, a que deu corpo no teatro.