Morreu a artista Helena Almeida

A artista portuguesa tinha 84 anos. Representou Portugal na Bienal de Veneza em 1982 e 2005, na de São Paulo em 1979 e na de Sydney em 2004.
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A artista plástica, um dos grandes nomes da arte contemporânea, morreu aos 84 anos, noticiou nesta quarta-feira a agência Lusa, que cita a Galeria Filomena Soares, que representa Helena Almeida.

Filha do escultor Leopoldo de Almeida, Helena Almeida nasceu em Lisboa em 1934. Estudou Pintura na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa. Em 1964 continua os seus estudos em Paris, com uma bolsa da Fundação Gulbenkian. Expõe em nome próprio pela primeira vez em 1967, a Galeria Buchholz. "A partir de 1975 a temática do seu próprio corpo é desenvolvida através da manipulação de meios como a pintura, o desenho, a gravura, a instalação, a fotografia e o vídeo", nota o Museu de Arte Contemporânea - Museu do Chiado na sua nota biográfica.

Conhecemo-la vestida de preto naquelas obras suas que dizia não serem autorretratos.

Representou Portugal na Bienal de Veneza em 1982 e 2005, na de São Paulo em 1979 e na de Sydney em 2004. A sua obra foi exibida em museus e galerias como a Coleção Berardo e o Museu Calouste Gulbenkian, em Lisboa, a Galerie les filles du calvarie, Paris, John Hansard Gallery, Southampton, Inglaterra; Fundación Telefónica, Madrid, Espanha, Helga de Alvear, Madrid, Pinacoteca de São Paulo, Brasil, Filomena Soares, Lisboa, Thomas Erben Gallery, Nova Iorque, e Tate Modern, em Londres.

A sua última grande exposição antológica em Portugal foi Helena Almeida: A minha obra é o meu corpo, o meu corpo é a minha obra em 2016, no Museu de Serralves. O Museu Jeu de Paume, em Paris, e o Wiels em Bruxelas também lhe dedicaram grandes exposições.

Nessa altura, no Porto, Helena Almeida confessava: "Nunca fiz as pazes com a tela, o papel ou qualquer outro suporte. Creio que o que me faz sair do suporte, através de volumes, fios e de muitas outras formas, foi sempre uma grande insatisfação em relação aos problemas do espaço."

Em entrevista ao Expresso na mesma altura, considerou que em Portugal havia desinteresse pela sua obra. "Há. A minha obra é vista de outra maneira noutros sítios."

Na mesma ocasião, explicava que não queria ser chamada de fotógrafa, apesar de a fotografia ser um dos meios que mais trabalhou - normalmente os disparos eram feitos pelo seu marido, o arquiteto e artista Artur Rosa. "Não. Isto não tem que ver com fotografia. Tem que ver porque é o meio. Só tem que ver com pintura." Normalmente, as suas obras nasciam dos seus desenhos. Depois habitava as telas, as pinturas. Pintura Habitada ou Tela Habitada são, aliás, títulos de algumas das suas séries mais emblemáticas.

"Ando em círculo; os ciclos voltam. O trabalho nunca está completo, tem de se voltar a fazer. O que me interessa é sempre o mesmo: o espaço, a casa, o teto, o canto, o chão; depois, o espaço físico da tela, mas o que eu quero é tratar de emoções. São maneiras de contar uma história", afirmou em entrevista a Isabel Carlos, curadora e ex-diretora do Museu de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian.

Sobre o facto de Artur Rosa ter fotografado praticamente todos os seus trabalhos no seu ateliê, que já fora do seu pai, Helena Almeida explicou, um dia, numa entrevista à curadora Isabel Carlos: "É sempre ele. Porque é importante que as fotografias aconteçam no lugar físico em que eu as pensei e projetei."

"E, como tal, tem de ser alguém próximo de mim. Mas antes faço sempre desenhos das situações que quero fotografar. Aliás, a partir da década de 80 passo a usar o vídeo para experimentar, porque um gesto pode ser muito enganador: uma mão mais para o lado é já outra coisa. Então, ensaio primeiro com a câmara [...]. Eu quero a fotografia tosca, expressiva, como registo de uma vivência, de uma ação", acrescenta, citada pela Lusa.

Na obra de Helena Almeida, a primeira vez que surge a imagem do casal é em 1979, na obra Ouve-me, uma sequência de oito fotografias a preto e branco, ao modo de um storyboard, em que o rosto dos dois artistas surge frente a frente.

A exposição O Outro Casal. Helena Almeida e Artur Rosa, sobre a obra de Helena Almeida, centrada nos registos em que aparece com o marido, esteve patente desde junho ao passado dia 9, na Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva, em Lisboa.

Em Madrid foi inaugurada recentemente a mostra Dentro de Mim, de Helena Almeida, na galeria madrilena Helga de Alvear. Também está patente uma exposição sua na Tate Modern até 4 de novembro.

Quase no final da entrevista ao Expresso, Helena Almeida dizia: "Espero que tenha contribuído de uma maneira original para a arte do meu tempo."

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