Moreira tem mais do dobro do potencial de voto do que rivais de PSD e PS
Rui Moreira é o claro favorito a vencer as eleições para a Câmara do Porto, de acordo com uma sondagem da Aximage para o DN, JN e TSF. O seu potencial de voto (74%) mais do que duplica o trio de principais perseguidores: Vladimiro Feliz, do PSD (29%); Tiago Barbosa Ribeiro, do PS (27%); e Ilda Figueiredo, da CDU (27%). A um mês das autárquicas, o independente é também o candidato com a menor taxa de rejeição (22%). No próximo domingo, com a publicação da segunda parte da sondagem, ficará claro como é que este potencial se poderá materializar em intenções de voto.
O trabalho de campo da sondagem decorreu entre 12 e 19 de agosto e fica claro, nos resultados, que Moreira, que se recandidata a um terceiro mandato, está nesta altura num patamar superior ao dos adversários: 74% de potencial de voto correspondem à soma dos que têm a certeza e dos que admitem votar no autarca portuense. E estão em linha com as taxas de resposta a outras questões: 64% fazem uma avaliação positiva da sua presidência; 76% estão satisfeitos com a sua gestão da pandemia; e apenas 35% admitem que o caso Selminho teve um impacto negativo na sua avaliação.
Falta de notoriedade
Falta ainda um mês para as eleições. E o período de campanha que se segue vai provocar necessariamente algumas mudanças na avaliação dos eleitores. Isso fica mais evidente quando se percebe que há muitos portuenses que não conhecem nem o socialista Tiago Barbosa Ribeiro (40%) nem o social-democrata Vladimiro Feliz (33%).
Ressalve-se, no entanto, que maior notoriedade não se traduz automaticamente em maior potencial de voto (e, finalmente, em votos nas urnas). O melhor exemplo disso está no resultado da comunista Ilda Figueiredo: só 23% não a conhecem (melhor só Rui Moreira, com 4%), mas a notoriedade traz consigo a maior taxa de rejeição (50%) entre os seis candidatos testados (movimentos e partidos que têm representação municipal).
PSD e PS têm, nesta altura, uma percentagem reduzida de apoios fidelizados (os que respondem que "votariam de certeza" num determinado candidato): têm apenas um ponto percentual de vantagem sobre a CDU, dois sobre o BE e três sobre o PAN. Quando se somam os portuenses que "poderiam votar" num determinado candidato (para assim se obter o potencial de voto), continuam a ter a companhia de Ilda Figueiredo, que aliás empata nos 27% com Tiago Barbosa Ribeiro (Vladimiro Feliz está dois pontos mais acima).
Patamar inferior
Os candidatos dos outros dois partidos com representação nos órgãos municipais estão num patamar inferior. Tanto Sérgio Alves (BE), como Bebiana Cunha (PAN) estão abaixo dos 20 pontos no potencial de voto; têm taxas de rejeição acima dos 40 pontos; e são desconhecidos de uma parte substancial do eleitorado (40%).
Neste último ponto, no entanto, têm um património comum com os cabeças-de-lista do PSD e do PS: a falta de notoriedade é particularmente aguda, para todos eles, entre as mulheres; os eleitores de 65 ou mais anos (o escalão etário mais numeroso na cidade); e os da classe social mais baixa.
Um pouco mais de três quartos dos portuenses tiveram conhecimento do caso Selminho. Recorde-se que Rui Moreira vai ser julgado pelo crime de prevaricação, em novembro, e, caso seja condenado, pode perder o mandato. Mas isso não alterou a avaliação da maioria dos portuenses: 58% garantem que não teve impacto, em particular entre os que têm 65 ou mais anos (70%); os que residem na freguesia de Campanhã (63%); e as mulheres (63%). No caso dos que se inclinam pelo voto no PSD nas próximas eleições, são 49% os que revelam o mesmo desinteresse. No caso dos eleitores do PS, são 57%. Ao contrário, um pouco mais de um terço dos inquiridos (35%) admitem que o caso teve um impacto negativo na sua avaliação. Sobretudo nas uniões de freguesia de Aldoar/Foz/Nevogilde e Lordelo/Massarelos (41%); entre os eleitores mais jovens (48%); e entre os que consideram votar no PSD (62%).
Rui Moreira, independente
Quando se analisam os diferentes segmentos da amostra, ressaltam alguns elementos distintivos dos candidatos. Rui Moreira tem resultados muito semelhantes nas sete freguesias e uniões de freguesia (um máximo de cinco pontos percentuais de diferença no potencial de voto), com um pico em Lordelo e Massarelos (79%). A taxa de rejeição mais alta é na união de freguesias do Centro Histórico (26%). O atual presidente é o único candidato com pendor feminino (mais seis pontos entre as eleitoras). No que diz respeito a faixas etárias e classes sociais, o equilíbrio volta a ser a norma. Cruzando com a forma como os inquiridos votaram em 2017, Moreira segura quase todos os seus eleitores potenciais (92%) e ameaça fazer estragos entre os que há quatro anos votaram no PSD (73%) e no PS (49%). Repete-se, no entanto, o alerta: potencial de voto não é o mesmo que intenção de voto. Alguns dos que admitem que poderiam votar no autarca optarão, no final, por outro candidato.
Vladimiro Feliz, PSD
O ex-vice-presidente da Câmara do Porto, ao tempo da liderança de Rui Rio, também tem um problema de notoriedade (mesmo que não tão agudo como o do seu rival socialista), sobretudo entre os mais velhos (44%) e entre os mais pobres (62%). A freguesia onde obtém os melhores resultados (em potencial de voto) é a que junta Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde (zona ocidental da cidade), com 34%. A pior taxa de rejeição regista-se em Lordelo e Massarelos (43%), curiosamente a zona em que há mais eleitores que o conhecem (passa-se o mesmo com o rival socialista). Há um claro desequilíbrio masculino (mais nove pontos de potencial de voto do que entre as mulheres). Também está melhor nos dois escalões mais jovens, enquanto nas classes sociais o resultado é tanto melhor, quanto mais nos aproximamos do topo da escala (chega aos 35% nos mais ricos). Também é relativamente eficaz a manter a simpatia do eleitorado que restou ao PSD nas eleições de 2017 (77%).
Tiago Barbosa Ribeiro, PS
O deputado socialista tem um sério problema de notoriedade, como se percebe ao analisar os diferentes segmentos: em particular nas mulheres (47% não o conhecem), nos cidadãos mais velhos (49%), nos mais pobres (58%), mas também nos que residem em Paranhos (46%), a freguesia mais populosa da cidade. Ainda relativamente à geografia, é no Bonfim que revela o maior potencial de voto (32%), enquanto em Lordelo e Massarelos bate recordes de rejeição (43% dizem que nunca votariam em Tiago Barbosa Ribeiro). Está muito acima da média no potencial de voto entre o escalão dos eleitores mais novos (41%) e muito abaixo nos mais velhos (20%). Relativamente ao eleitorado do socialista Manuel Pizarro em 2017, tem a simpatia de menos de dois terços.
Ilda Figueiredo, CDU
O equilíbrio no voto potencial quando o que está em causa é o género desaparece quando a análise se centra nas freguesias. A candidata da CDU revela 20 pontos de diferença entre o maior número de simpatizantes, em Campanhã (37%), e o menor, em Ramalde (17%). O mesmo acontece na taxa de rejeição, que oscila entre os 44% de Campanhã e os 63% de Aldoar, Foz e Nevogilde. No que diz respeito às faixas etárias, o equilíbrio é a nota, embora atinja um pico de rejeição no escalão dos 50 a 64 anos (60%); enquanto o problema da falta de notoriedade só se sente nos que têm 18 a 34 anos (37% não a conhecem). Relativamente às classes sociais, o melhor resultado no voto potencial é entre a classe média baixa, e o pior resultado na taxa de rejeição na classe social mais alta (55%). Quando se tem em conta as escolhas de 2017, onde tem mais simpatizantes é entre os que votaram nos socialistas (o relatório da Aximage só individualiza os eleitores de Rui Moreira, do PS e do PSD, incluindo todos os restantes na categoria "outros", de forma a conseguir uma dimensão relativamente fiável dos segmentos).
Sérgio Aires, BE
O candidato do Bloco de Esquerda tem um problema de notoriedade entre as mulheres (46% não o conhecem) e de rejeição entre os que o conhecem melhor, ou seja, os homens (47% nunca votaria em Sérgio Aires, mais dez pontos do que entre as mulheres). O seu melhor resultado no potencial de voto é em Campanhã (26%) e a mais alta taxa de rejeição verifica-se em Aldoar, Foz e Nevogilde. Quando o que está em causa são os escalões etários, está acima da média na simpatia dos dois escalões mais jovens e na rejeição entre os dois mais velhos. Relativamente aos segmentos de voto de 2017, onde arranca mais simpatizantes potenciais é entre os eleitores socialistas (23%) e onde a rejeição maior é entre os sociais-democratas (58%).
Bebiana Cunha, PAN
A deputada do partido animalista e ambientalista tem um desequilíbrio de género semelhante ao do candidato bloquista: é desconhecida entre as mulheres (45%) e rejeitada entre os homens (46%, mais sete pontos que no eleitorado feminino). A freguesia em que consegue o melhor resultado no potencial de voto é a do Bonfim (26%) e onde gera mais rejeição é em Campanhã (48%). Nos segmentos etários, a simpatia é bastante acima da média nos mais jovens (37%), com maior rejeição nos dois escalões mais velhos (quase 50 pontos), a par de maior desconhecimento entre os que têm 65 ou mais anos (46%). Relativamente ao voto de 2017, a situação é a oposta do bloquista: mais simpatia entre os sociais-democratas (20%) e maior rejeição entre os socialistas (53%).
A ação social e o apoio à pobreza são a maior prioridade para o próximo mandato. Foi o que disseram 19% dos inquiridos, numa pergunta de resposta espontânea (sem lista para escolher), com destaque para quem vive no Bonfim (26%) e para os portuenses que têm entre 50 e 64 anos (24%) ou que têm 65 ou mais anos (20%).
O emprego foi a segunda prioridade mais citada pela generalidade dos inquiridos (17%), sendo a mais importante para quem vive em Lordelo e Massarelos (24%) e em Ramalde (20%); bem como para os que têm 18 a 34 anos (25%) ou 35 a 49 anos (20%).
A habitação acessível (11%) foi a terceira prioridade mais apontada pelos portuenses, com destaque para os que pensam votar no PS nestas eleições autárquicas (21%). Destaca-se também a preocupação dos habitantes da união de freguesias do Centro Histórico nesta matéria (15%).
A segurança só mobiliza 7% dos portuenses, mas em Lordelo e Massarelos a preocupação com a execução de políticas nesta matéria duplica (14%). O mesmo se passa com a saúde, que só foi referida por 6% dos inquiridos, mas é uma prioridade importante para quem vive em Campanhã (12%).
Exatamente dois terços dos portuenses (66%) acham que o concelho do Porto está "bem". Quase a mesma percentagem (62%) até considera que está "melhor" do que há cinco anos. Mas a satisfação reduz-se quando se pergunta sobre a situação do "bairro": já são apenas 52% os que dizem que a situação está "melhor".
O inquérito da Aximage para DN, o JN e a TSF, incluiu perguntas em que as personagens e as suas políticas ficaram "de fora". Mas não houve alterações substanciais na avaliação dos eleitores. A percentagem de notas positivas à gestão de Rui Moreira (64%) é praticamente igual, quer aos que revelam satisfação com a atual situação da cidade (66%) quer aos do que defendem que a situação melhorou (62%).
O mais notável talvez seja o facto de entre os eleitores do PSD e do PS a satisfação também ser maioritária. E é assim quer quando se tem em conta a forma como os portuenses votaram em 2017 quer quando se avalia como anunciam que votarão em 2021.
Se tivermos em conta outro tipo de segmentos, são os habitantes de Lordelo e Massarelos os mais satisfeitos (pelo menos três quartos dos eleitores). Ao contrário, os mais descontentes são sempre os que vivem em Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde (21% acham que a a situação é má; 26% que está pior do que há cinco anos).
Socialistas insatisfeitos
Quando se desce a um nível mais próximo da zona onde vivem as pessoas, no entanto, o nível de satisfação não é o mesmo. A satisfação cai dez pontos percentuais para 52%, mesmo que algumas tendências se mantenham: os habitantes das freguesias de Lordelo e Massarelos e os mais jovens mais satisfeitos; e os que vivem na união de freguesias ocidental mais insatisfeitos.
É também nesta matéria que se encontra um raríssimo exemplo de um segmento em que há mais gente insatisfeita (37%) do que satisfeita (36%): os eleitores que pretendem votar no candidato socialista nestas eleições.
Não é apenas com a gestão de Rui Moreira que a maioria dos portuenses está satisfeita. Também no que diz respeito ao desempenho dos presidentes das juntas de freguesia a avaliação é genericamente positiva (52%). A insatisfação é minoritária (15%).
Quem tem mais razões para sorrir é o atual presidente da Junta de Paranhos, a mais populosa da cidade e a única que o PSD venceu nas eleições de há quatro anos: 72% dos habitantes dão-lhe nota positiva. Mas pode haver um pequeno escolho: Alberto Machado não se pode recandidatar, por causa da lei de limitação de mandatos, e o cabeça-de-lista social-democrata será desta vez Miguel Seabra.
Onde há menos fregueses a fazer uma avaliação positiva ao atual autarca (39%) é na União de Freguesias do Centro Histórico (Cedofeita, Miragaia, Santo Ildefonso, São Nicolau, Sé e Vitória). É também a segunda onde há mais avaliações negativas (19%). Há quatro anos, venceu António Fonseca, pelo movimento de Rui Moreira (foi o pior resultado entre as cinco conquistas dos independentes). Neste ano, no entanto, o autarca mudou-se de armas e bagagens para o Chega, partido da direita radical pelo qual será cabeça-de-lista à câmara municipal. O que abre novas perspetivas ao PS, que foi o segundo partido mais votado em 2017, a cinco pontos da lista do movimento de Rui Moreira.
É apenas mais um ponto do que no Centro Histórico, mas onde há mais avaliações negativas ao presidente da junta de freguesia é em Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde (20%). A atual líder do executivo é Ana Furtado, que substituiu Nuno Ortigão, falecido em abril, ambos eleitos pelo movimento de Rui Moreira. Que aposta, desta vez, em Tiago Mayan Gonçalves, membro da Iniciativa Liberal e candidato pelo mesmo partido à Presidência da República nas eleições de janeiro passado. Foi nesta freguesia que os independentes tiveram a sua maior votação para uma junta de freguesia em 2017 (50,17%).
A sondagem foi realizada pela Aximage para o DN, JN e TSF, com o objetivo de avaliar a opinião dos portuenses sobre temas relacionados com o poder autárquico.
Universo: indivíduos maiores de 18 anos residentes no Porto. Amostragem por quotas, obtida a partir de uma matriz cruzando sexo, idade e freguesia, a partir do universo conhecido, reequilibrada por género, idade e freguesia.
A amostra teve 820 entrevistas: 185 entre os 18 e os 34 anos, 195 entre os 35 e os 49, 201 entre os 50 e os 64,
e 239 a inquiridos
com 65 ou mais anos.
Entrevista telefónica por CATI Computer Assisted Telephone Interviewing, tendo o trabalho de campo decorrido entre os dias 12 e 19 de agosto de 2021. Erro probabilístico: para o total de uma amostra aleatória simples com 820 entrevistas, o desvio padrão máximo de uma proporção é 0,017 (ou seja, uma "margem de erro" a 95% de 3,42%).
Responsabilidade do estudo: Aximage Comunicação e Imagem Lda., sob a direção técnica de Ana Carla Basílio.
rafael@jn.pt