Morales já chegou ao México. "O governo mexicano salvou-me a vida"

O jato militar mexicano que transportava o ex-presidente improvisou uma rota para chegar ao México, depois de vários países terem impedido a passagem do avião no seu espaço aéreo. "Foi tudo muito difícil e tenso", descreveu o ministro dos Negócios Estrangeiros mexicano.
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O ex-presidente boliviano Evo Morales já chegou ao México, onde obteve asilo político, depois da sua demissão por causa de protestos por fraude eleitoral. E ainda no aeroporto da Cidade do México deixou uma promessa: "Enquanto estiver vivo, continuarei na política. A luta continua. Todas as pessoas no mundo têm o direito de se libertarem da discriminação e da humilhação."

Nas declarações que fez à imprensa, citadas pela BBC, Morales aproveitou ainda para agradecer o apoio do presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, a quem diz que deve a vida. "O governo mexicano salvou-me a vida."

Evo Morales foi recebido pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Marcelo Ebrard, que escreveu no Twitter que o ex-presidente da Bolívia chegou ao México "são e salvo".

A viagem revelou-se atribulada, uma vez que foi negada a passagem do jato militar mexicano no espaço aéreo peruano e foi necessário alterar a rota. Também não foi possível atalhar caminho pelo Brasil e pelo Equador, porque estes países fecharam o seu espaço de voo ao avião militar mexicano. O jato onde Morales seguia foi ainda forçado a fazer uma paragem não programada no Paraguai para reabastecer.

As autoridades bolivianas começaram por dar permissão à operação de resgate político de Evo Morales nesta segunda-feira, tendo o avião partido do Peru nessa altura, mas entretanto teve de regressar à base por ter sido revogada a permissão. Horas mais tarde, a Bolívia voltaria a dar luz verde à saída do ex-presidente, mas nessa altura já o Peru não permitiu o regresso.

"Foi tudo muito difícil e tenso", concluiu o chefe da diplomacia do México, Marcelo Ebrard.

Violência nas ruas e a demissão

A Assembleia Legislativa da Bolívia recebeu na segunda-feira a carta de renúncia de Evo Morales, em que o presidente diz esperar que o seu gesto evite mais violência e permita "paz social" no país que governou durante 13 anos.

Jeanine Añez, uma advogada opositora de Morales, reivindicou o direito de assumir interinamente a chefia do Estado até à realização de novas eleições, dadas as demissões do vice-presidente da República e dos presidentes e vice-presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados.

A Bolívia sofre uma grave crise desde a proclamação de Evo Morales como presidente para um quarto mandato consecutivo nas eleições de 20 de outubro, uma vez que a oposição e os movimentos da sociedade civil alegam que houve fraude eleitoral. A situação no país piorou desde que Evo Morales renunciou ao cargo de presidente no domingo, com vários roubos, incêndios e outros tumultos em grande parte do país.

As principais cidades permanecem praticamente desertas durante a noite passada, depois de novos episódios de violência terem sido registados durante o dia em locais como La Paz e El Alto. A Agência Boliviana de Informação anunciou que o comandante das Forças Armadas do país, Williams Kaliman, já ordenou operações conjuntas com a polícia, utilizando "força proporcional" contra os grupos que praticam atos de violência.

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