Místicos e tribais tomaram Sines
Em Bengala (Índia e Bangladesh) existe uma tradição de séculos de músicos que são uma espécie de dervixes e de bardos ao mesmo tempo. Os Baul aliaram o misticismo do sufismo ao hinduísmo e o resultado, pelo menos pelo que foi dado a ver por Parvathy Baul, no Centro de Artes de Sines, é uma viagem espiritual. Mousumi Parial - é este o nome da mulher que agora responde por Parvathy Baul - apresenta-se sozinha em palco. Mas não precisa de mais ninguém: com um ektara (instrumento de uma só corda) na mão direita e um duggi (tambor) na mão esquerda, estarrece quem a vê, ao conciliar o canto, os dois instrumentos e a dança. Durante os minutos de cada tema, Parvathy rodopia, e os seus cabelos, que quase tocam o chão, parecem a única ligação à terra.
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Em sentido oposto, dir-se-ia que os sul-africanos BCUC foram o combustível para se atear a dança generalizada no Castelo. Musicalmente os sete músicos do Soweto não trazem grandes subtilezas nem complexidades. Mas a energia, o ritmo e a atitude que transpiram cola-se ao público de imediato, que responde em euforia. Com três homens nas percussões e um guitarra baixo a servir três vozes, os BCUC saíram como os vencedores da noite. "Don"t stop the music" (não parem a música), cantaram e fizeram todos cantar.
Após este concerto esgotante, a maliana Fatoumata Diawara e a marroquina Hindi Zahra tinham o papel difícil de manter a fasquia das demasiadas pulsações por minuto. A princípio temeu-se o pior: baixo ritmo, guitarradas excessivas, temas em inglês para agradar ao mainstream da world music. Mas à medida que o tempo avançou, a maliana (que canta e toca guitarra) pegou nas rédeas do espetáculo e conseguiu dar a volta. Quando pôs a guitarra de lado e dançou fez, também ela, lembrar o rodopio dos dervixes. Corpo e espírito elevados, em mais um momento especial no FMM.