Ministro da Saúde de Bolsonaro frustra senadores em CPI por ser vago
Ao terceiro dia de audições na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), nesta quinta-feira (dia 6), que apura a responsabilidade do governo nas mais de 410 mil mortes por covid-19, o presidente da CPI, o senador Omar Aziz, do PSD, ameaçou interromper a audição de Marcelo Queiroga, atual ministro da saúde, por falta de objetividade nas respostas.
O cardiologista, quarto a ocupar o cargo durante a pandemia, recusou-se a entrar em detalhes sobre as condições em que encontrou o ministério após a gestão do general paraquedista Eduardo Pazuello, alinhado com Bolsonaro, e a dar a sua opinião na qualidade de ministro e de médico ao uso da cloroquina, medicamento recomendado pelo presidente da República brasileira mas rejeitado pela Organização Mundial de Saúde no combate a esta doença.
"Essa questão é técnica e tem que ser enfrentada...", disse Queiroga, antes de o relator, Renan Calheiros, do MDB, insistir, "mas o senhor compartilha da visão do presidente ou não?".
"Senador, eu sou a instância final decisória mas não tenho decisão final", repetiu o ministro.
"Como ministro da Saúde e como médico o senhor tem de responder", interrompeu então Omar Aziz, "o senhor prestou um juramento para estar aqui, se não vai responder nem vale a pena a gente estar aqui e encerro já".
"Conforme já externei, não faço juízo de valor acerca da opinião do presidente da República. Essa questão é de natureza técnica. Essa medicação, como outras, foi suscitada no tratamento da Covid. No começo, o uso compassivo foi feito em diversas instituições. E já existem estudos controlados que mostram que em pacientes mais graves não tem efeito. Em pacientes intermediários, não tem efeito", disse então Queiroga, para frustração dos senadores que o interrogavam, na sua maioria críticos da ação (ou omissão) do governo na covid-19.
Na quarta-feira, dia 5, um dos antecessores de Queiroga, o onclogista Nelson Teich afirmou que abandonou o governo menos de um mês após ter entrado por discordar da imposição da cloroquina como tratamento. E na terça-feira, dia 4, Luiz Henrique Mandetta, o primeiro dos quatro titulares da saúde em menos de um ano, acusou Bolsonaro de "desprezar a ciência" e de ter preparado um documento que alteraria a bula da cloroquina para "indicado contra covid-19".