"Amo imperialista", "deputado titubeante". Maduro ataca EUA e Guaidó

Ministro da Defesa diz que "não é uma guerra entre irmãos que solucionará os problemas, é através do diálogo", deixando claro que as Forças Armadas não farão nada fora da Constituição. Militares mantêm apoio a Maduro. Guaidó ganha apoios internacionais
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Na abertura do ano judicial, no Tribunal Supremo de Justiça, órgão que a oposição diz estar nas mãos do regime, Nicolas Maduro reivindicou a legitimidade das últimas eleições que lhe deram a vitória. "A democracia venezuelana é exemplar", garantiu. E atacou os EUA, através do secretário de Estado, Mike Pompeo, a quem chamou "amo imperial". "Eles são os líderes da operação", acusou, denunciando o envolvimento dos EUA nos protestos contra ele.

De Guaidó, Maduro disse ser um "deputado titubeante, muito muito assustado que assume de maneira mais informal, vulgar, ser ele o presidente".

Maikel Moreno, presidente do tribunal, reiterou o reconhecimento absoluto ao presidente Maduro e a rejeição à declaração de Guaidó como presidente interino.

Horas antes, o ministro da Defesa da Venezuela, o general Vladimir Padrino reiterou o apoio a Maduro e garantiu: "As Forças Armadas não aceitarão jamais um presidente imposto". O militar denunciou a realização de um "golpe de Estado" com a autoproclamação de Juan Guaidó como presidente interino do país.

Numa intervenção na televisão venezuelana, o ministro e antigo chefe do Estado Maior do Exército Bolivariano condenou como "um facto gravíssimo e aberrante" a tentativa de Guaidó de "instalar um governo paralelo no país".

"O que aconteceu ontem [quarta-feira] é um condenável. Um homem levantando a mão, autoproclamando-se presidente. É um assunto gravíssimo que atenta contra o Estado de direito", frisou na sua intervenção, acusando a extrema-direita de tentar fragmentar e dividir o país.

"As FAB estão aqui para evitar a todo o custo um confronto entre os venezuelanos. Não é uma guerra entre irmãos que solucionará os problemas, é através do diálogo. Nada faremos fora da Constituição", disse o ministro. "Nunca deixaremos de estar do lado do povo da Venezuela. A guerra é o instrumento dos apátridas que querem ver-nos em confrontos e matando-nos uns aos outros", acrescentou.

O El País lembra, numa coluna de opinião de Juan Jesús Aznarez, que em 2017 quase metade dos ministros (14 em 33) pertencem às Forças Armadas, assim como as várias purgas na cúpula militar desde o golpe de Estado falhado contra Hugo Chávez em 2002.

Apoios a Guaidó

Padrino criticou ainda os governos internacionais que apoiaram Guaidó. Os EUA foram os primeiros a apoiar o presidente da Assembleia Nacional, que se declarou presidente interino durante as manifestações contra Maduro de quarta-feira.

Hoje, Washington exortou os países do continente americano a seguir os seus passos, reconhecendo Guaidó como presidente interino da Venezuela na Organização dos Estados Americanos (OEA). Vários países da região já o fizeram.

Na intervenção no conselho permanente da OEA, com sede em Washington, o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, advertiu ainda o "regime ilegítimo" de Maduro contra "qualquer decisão de usar a violência para reprimir uma transição democrática pacífica", apelando às forças de segurança venezuelanas "para protegerem" Guaidó.

Pompeo também terá anunciado a entrega de 20 milhões de dólares de ajuda humanitária ao presidente interino. Algo que Guaidó apresentou no Twitter como "resultados concretos para todos os venezuelanos".

Além disso, os EUA querem garantir que o dinheiro das vendas do petróleo venezuelano vão diretamente para a gestão do presidente interino e não para Maduro.

União Europeia pede eleições

A União Europeia mantém uma posição dúbia, com a chefe da diplomacia europeia a recusar dizer quem Bruxelas reconhece como presidente da Venezuela, defendendo contudo que "apoia totalmente a Assembleia Nacional como a instituição eleita democraticamente, cujos poderes têm de ser restaurados e respeitados". Os apelos são para a realização de eleições livres. A União Europeia não reconhece o mandato de Maduro, considerando que as eleições de maio não foram livres.

Mas cada um dos países da União Europeia tem apresentado o seu apoio. Portugal, através do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, disse que "a profunda crise económica e social e até humanitária que se vive hoje na Venezuela só pode ser resolvida se for superado o impasse, o bloqueio político", reiterando que isso "só pode ser resolvido através de eleições".

Na quarta-feira à noite tinha sido mais contundente: "Este regime tem de entender que a sua hora acabou e que é necessário realizar, no prazo de tempo mais breve possível, eleições justas e livres."

Já o Reino Unido apoiou Guaidó, considerando-o "a pessoa certa para levar a Venezuela para a frente. Apoiamos os EUA, o Canadá, o Brasil e a Argentina para que isso aconteça", afirmou hoje o ministro dos Negócios Estrangeiros, Jeremy Hunt, em Washington.

Nicolás Maduro, por seu lado, conta com o apoio de Rússia, China, Turquia, Bolívia, Nicarágua e Cuba, entre outros. O México também não reconhece Guaidó e o governo de Andrés Manuel López Obrador ofereceu-se para mediar a situação.

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