O vice-presidente norte-americano, Mike Pence, afirmou esta segunda-feira que os EUA vão continuar a apoiar o presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, até que se restabeleça a liberdade no país. O governo dos EUA anunciou a imposição de sanções contra os governadores de quatro estados venezuelanos (Apure, Vargas, Carabobo e Zulia), congelando os ativos que possam ter no país, reiterando contudo que "todas as opções continuam em cima da mesa"..Pence defendeu que a violência do fim de semana, durante a tentativa de fazer entrar ajuda humanitária na Venezuela, reforça a decisão dos EUA de apoiar o opositor frente ao presidente Nicolás Maduro.."Há uns dias, enquanto o mundo observava, o tirano em Caracas dançou, enquanto os seus carrascos queimaram camiões de alimentos e medicamentos e assassinaram pessoas", disse Pence. "O sábado foi um dia trágico para as famílias de quem perdeu a vida e nós estamos de luto com eles. Também foi um dia trágico para o povo da Venezuela, só um dia mais na travessia da Venezuela da tirania para a liberdade", acrescentou..A visita de Pence a Bogotá acontece dois dias depois de o governo de Nicolás Maduro ter impedido a entrada de ajuda humanitária oriunda sobretudo dos EUA, através da fronteira com a Colômbia e o Brasil, por considerar que é uma intromissão e um ato camuflado de preparação para uma intervenção militar na Venezuela.."O socialismo está a morrer e a liberdade e a prosperidade e a democracia renascem diante dos nossos olhos. O presidente [Donald Trump] pediu-me que transmitisse uma mensagem, presidente Guaidó: Estamos consigo. E estaremos até que a liberdade e a democracia regressem", disse. "Maduro é um usurpador que não tem direito legítimo ao poder e devia ir-se embora. A luta na Venezuela é entre ditadura e democracia", acrescentou..O vice-presidente lembra que os EUA já aplicaram sanções a meia centena de venezuelanos ligados ao regime, assim como à empresa estatal de petróleo, a PDVSA. Esta segunda-feira, mais quatro nomes foram acrescentados à lista -- o de quatro governadores apoiantes do regime, próximos do presidente venezuelano. .Pence pede aos países do Grupo de Lima que congelem os ativos da PDVSA que existem nos seus respetivos países e que passem o controlo para o governo de transição de Guaidó. "São passos importantes, os de bloquear a Maduro o acesso aos milhões que roubou ao povo venezuelano", referiu..Pence diz que vai intensificar o trabalho que tem sido feito, nomeadamente a nível da ajuda humanitária que faz chegar aos países vizinhos. Anuncia ainda o apoio de 56 milhões de dólares para os "países aliados" da reunião.."Todas as opções estão sobre a mesa", refere, numa referência a uma intervenção militar dos EUA, repetindo o apelo de Trump aos militares para que passem para o lado de Guaidó e aproveitem a amnistia que este está a prometer. Pence diz que quase 200 membros das forças armadas venezuelanas já "desertaram do regime de Maduro"..Na reunião do Grupo de Lima o foco tem sido contudo numa resposta de não-intervenção. "Vamos manter a linha de não-intervenção, acreditando na pressão diplomática e económica para buscar uma solução. Sem aventuras", disse o vice-presidente brasileiro, Hamilton Mourão..Uma mensagem também para aqueles países que apoiam Maduro (entre eles Rússia ou China): "Reconsiderem o apoio ao tirano." E diz que aqueles que continuam a apoiar "só conseguirão isolar-se mais no mundo"..O minuto de silêncio de Guaidó.O presidente encarregado, Juan Guaidó, começou a sua intervenção a pedir um minuto de silêncio pelo "massacre" que sofreu o povo venezuelano no sábado. Segundo a Assembleia Nacional venezuelana, dominada pela oposição, pelo menos quatro pessoas morreram nos confrontos durante o fim de semana, quando se tentava fazer entrar ajuda humanitária na Venezuela.."Há 200 anos que Simón Bolívar deu início ao caminho de independência, de liberdade", disse Guaidó, alegando que o desafio agora é "recuperar a democracia". O presidente interino deixou claro que esta "não existe agora" na Venezuela. "Hoje o regime de Maduro pensa que bloquear a ajuda humanitária foi uma conquista", lamenta. "Dançam sobre os túmulos dos indígenas", refere, em relação aos mortos do fim de semana, que eram de uma comunidade indígena.."Não há dilema entre a guerra e a paz, é a paz que deve prevalecer. O dilema é entre gerar pressão política determinada ou permitir massacres como os que acontecem hoje na Venezuela", defende Guaidó, lamentando que não tenha sido feito o suficiente a partir de 2015, quando a oposição ganhou a Assembleia Nacional.."Hoje é Maduro quem usurpa funções e põe um custo dramático a uma transição política na Venezuela que nos leve a umas eleições realmente livres", reiterou Guaidó, que assumiu a liderança da Assembleia Nacional no início do ano (ao abrigo de um acordo de partilha de poder entre os vários partidos da oposição).."Num dia, o mundo viu o que a Venezuela tem vindo a sofrer há anos. Num dia, de maneira vil e sádica, viu quando se queimam alimentos e medicamentos frente a pessoas com fome e a pessoas doentes. A boa notícia é que a Venezuela resistiu, o povo resistiu e pede ajuda e cooperação para avançar nessa pressão necessária", explicou.."Sou o presidente interino deste país por mandato da Constituição e o apoio do nosso povo", lançou Guaidó, lembrando que mais de 60 países já o reconheceram como tal. "A transição é um facto na Venezuela. Hoje só a bloqueiam grupos armados irregulares", acrescentou, dizendo que sem essas armas já haveria transição no país..Guaidó defende ainda que este não é um problema ideológico. "Isto é um problema de direitos fundamentais para a democracia. Quando não há liberdade de expressão, não se defendem as liberdades sindicais ou a justiça social não há componente ideológica", referiu, terminando o discurso com um "viva a Venezuela livre" e foi aplaudido de pé.."Não é um dilema entre guerra e paz"."Reunimo-nos aqui para mostrar que há um sentimento grande na região de multilateralismo. Que há uma grande coordenação quando se trata de socorrer um povo. Hoje mostramos que a ação multilateral é mais forte do que as ameaças e os discursos alegadamente corajosos", disse o presidente colombiano, Iván Duque, que falou antes de Guaidó.."Hoje mostramos que a diplomacia e o bloqueio democrático é mais forte do que qualquer ameaça ou qualquer discurso que quer destruir o sentimento de unidade que une todos os países", defendeu, no início dos trabalhos do Grupo de Lima, em Bogotá.."A situação que vive Venezuela não é um dilema entre guerra e paz. O verdadeiro dilema é a continuação da tirania ou o triunfo da democracia, dos direitos humanos e as liberdades", acrescentou Duque, reiterando que "para ninguém é mentira que o que existe em Venezuela é uma ditadura".."Esta reunião tem que servir para que o cerco seja mais poderoso, mais produtivo, para conseguir a transição que reclama o povo da Venezuela", indicou o presidente colombiano, falando do impacto que a crise venezuelana teve na Colômbia -- nomeadamente ao nível dos 1,2 milhões de venezuelanos que cruzaram a fronteira e se refugiaram no país..Bogotá mostrou-se disponível para receber e armazenar a ajuda humanitária destinada à Venezuela, esperando o melhor dia para a poder entregar aos venezuelanos. "O que aconteceu no sábado não é uma derrota porque hoje estamos aqui para reafirmar o nosso compromisso de entregar essa ajuda humanitária", disse Duque.."O cerco diplomático é irreversível. O ditador já não poderá conquistar a legitimidade", reiterou o presidente colombiano, anfitrião do encontro do Grupo de Lima. Este foi formado em 2017 e reúne responsáveis diplomáticos de governos de 12 países da América (Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Honduras, México, Panamá, Paraguai e Peru) e ainda é apoiado por outros países e organizações como os EUA e a União Europeia.