Da escadaria situada junto à estátua de Fernando Pessoa, no Chiado, entra-se no fosso que nos há-de transportar até 39 metros de profundidade. Levados por quatro lanços de escadas rolantes e mais uma escadaria até ao cais, num ambiente propositadamente escuro, desce-se até àquela que é a estação mais profunda da rede do Metropolitano de Lisboa, que já totaliza 44,5 quilómetros de extensão. Inaugurada em duas fases em 1998, a estação Baixa/Chiado - que também tem entrada, menos íngreme, pela Rua do Crucifixo - serve as linhas verde e azul do Metro e é uma das mais movimentadas da cidade..Nas profundezas da colina do Chiado circulam diariamente milhares de pessoas, agora menos cerca de 65% do que antes da pandemia. "Em época normal, e tomando como referência o mês de maio de 2019, a estação da Baixa Chiado registou um movimento mensal de cerca de 1 milhão e 300 mil passageiros, com uma média de 46 mil passageiros em dias úteis e de 12,3 mil pessoas na hora de ponta da tarde", constata Helena Taborda, porta-voz do Metropolitano de Lisboa..É muita gente que ali passa, muitas vezes sem se dar conta dos detalhes do projeto criado por Álvaro Siza Vieira, o mesmo que elaborou o plano de reabilitação do Chiado, e que tiveram grande impacto na dimensão da intervenção plástica do artista Ângelo de Sousa, que se limitou a uma espécie de homenagem à arte islâmica com alguns arabescos árabes nas duas saídas para a rua. Até a cor utilizada, o dourado, resultou de uma exigência do arquiteto, que quis que o destaque estivesse nos azulejos brancos, iguais aos do Metro de Paris, e nos tons quentes derivados da iluminação que instalou. Mais, Siza Vieira exigiu que os azulejos não fossem cortados nas esquinas. "Isso implica que o azulejo tem de ter todo o mesmo remate à volta. A fábrica teve de fazer cerca de 300 moldes de azulejos diferentes para conseguir corresponder às exigências do arquiteto", conta Helena Taborda..Por toda a estação, seja ao nível dos acessos, no átrio central ou no cais, predomina a forma de abóbada. "Com o azulejo branco que é utilizado e com a forma de iluminação que ele concebeu, conseguimos projetar a luz e dar uma luminosidade diferente ao espaço, uma luminosidade quente e que consegue transmitir que estamos num espaço confortável e acolhedor. É esse o objetivo de todas as estações e de todas as intervenções que existem na rede do metro", diz a porta-voz da empresa..Aquilo em que os utilizadores daquela estação mais reparam é nas avarias frequentes das escadas rolantes, essenciais quando se está a uma profundidade equivalente a um prédio de 15 andares. "Esta é uma estação que tem muito movimento, que tem muito desgaste e as escadas mecânicas não tinham sido ainda substituídas desde a data da inauguração", justifica Helena Taborda, realçando contudo que os lanços de escadas têm vindo a ser substituídos desde 2018. "Até 2020 substituímos cinco lanços, até final de 2022 prevemos substituir outros cinco", anuncia. Continua, no entanto, a faltar às pessoas com mobilidade reduzida um elevador até à superfície. Existe uma plataforma elevatória junto às escadas que apenas é acionada mediante marcação prévia ou pressionando um botão a solicitar a presença de um funcionário. Um processo pouco prático, mas é o possível para o local, onde a ocupação de superfície e subsolo e as características geotécnicas obrigaram também ao recurso a uma metodologia inovadora na época: o NATM (New Austriac Tunnelling Method), o novo método austríaco de tunelamento.."Consiste numa máquina de grandes dimensões, com cerca de 30 metros de comprimento, com um escudo redondo que tem o tamanho do túnel, o que quer dizer que escava automaticamente, consolida o terreno e deixa logo a parede definitiva", explica a porta-voz. "O grau de especificidade do empreendimento exigiu o desenvolvimento de um cimento especial, para resistir ao meio ambiente agressivo em que se localiza a obra. Somou-se a tudo isto a sustentação de redes e serviços públicos e o recalcamento de edifícios seculares existentes", acrescenta Helena Taborda..O Metropolitano de Lisboa deu já início às obras de expansão da rede - que conta atualmente com 56 estações - com a construção da linha circular, que vai unir o Cais do Sodré ao Rato. A empreitada deverá estar concluída no último trimestre de 2024 e, nessa altura, a estação Baixa/Chiado deixará de ser a mais profunda, uma vez que a da Estrela, uma das duas novas estações a criar (a par da de Santos), terá uma profundidade de cerca de 55 metros..Atualmente, depois da Baixa/Chiado, é nos Olivais que está a estação mais profunda, 29 metros abaixo do solo, seguida da Ameixoeira, a uma profundidade de 28 metros, e do Parque, a 25 metros. "Durante muitos anos, a estação do Parque era a que tinha maior profundidade e quando foi inaugurada tinha uma curiosidade muito grande que eram as escadas mecânicas. As pessoas utilizavam o Metro para andar de escadas mecânicas", lembra Helena Taborda, realçando que atualmente a rede total, composta por quatro linhas, tem 234 escadas mecânicas, 108 elevadores e 10 tapetes rolantes. A estação menos profunda é a das Laranjeiras, apenas quatro metros sob o solo, existindo ainda duas que se elevam à superfície: Campo Grande, cerca de 13 metros acima do solo, e Senhor Roubado, cerca de 10..sofia.fonseca@vdigital@dn.pt