Menos crispação, mais ação
O ambiente político volta a estar crispado e o Presidente reeleito poderá ter de voltar a colocar na agenda a "descrispação", um desígnio que marcou o arranque do seu primeiro mandato, em Belém. A tensão é política, social, mas é também cada vez mais visível ao nível económico. Nesta semana lemos e ouvimos com preocupação as previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI), pela voz do ex-ministro das Finanças português, Vítor Gaspar, e também do economista norte-americano Nouriel Roubini, que ficou conhecido por antecipar a grande crise financeira de 2008.
A pandemia de 2020-21 vai emitir uma fatura pesada para pagar e nisso Gaspar e Roubini estão de acordo. O norte-americano falou no Porto e, ainda que à distância via online, avisou que "no médio prazo haverá algum grau de austeridade". Alertou para o risco de a dívida "se tornar insustentável" e que só a conseguiremos reduzir com uma estratégia de "forte crescimento".
O problema é que há falta de "apetite político" por medidas de austeridade, devido à experiência do ajustamento da troika. Mas não só! Roubini, que vive fora mas está bem atento à crescente crispação em Portugal, fala em "fragilidade política", nomeadamente "caso os partidos de esquerda, que têm dado muito trabalho ao primeiro-ministro, não permaneçam moderados" e avança que isso poderá "causar problemas na fase da recuperação económica".
Na língua de Camões, Vítor Gaspar fala num custo pesado a pagar por toda esta crise pandémica e que os governos, ainda que tenham de gastar agora para fazer face às emergências, mais adiante "terão de prestar contas". E, mais importante, adverte que "já é tempo de preparar o crescimento e a competitividade da economia".
O planeamento, que até agora não vimos acontecer com êxito na saúde, é urgente que suceda na economia. A bazuca europeia ajudará, e muito, mas ao certo ainda nenhum de nós sabe ou adivinha nem o dia e nem hora da sua chegada. Portanto, o melhor é deitar mãos à obra futura, antes que seja tarde de mais.