"Se PSD e CDS não tiverem cabecinha ficam na oposição"

O ex-líder do PSD desafiou na noite de sexta-feira, na Escola de Quadros do CDS, em Peniche, os dois partidos a fazerem mais oposição ao governo. E garantiu que o país não está tão bem como Costa diz.
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Pela primeira vez a falar aos jovens populares, no jantar/debate da Escola de Quadros, Luís Marques Mendes desafiou o PSD e o CDS a intensificarem a oposição ao governo. "Se os dois partidos não tiverem cabecinha vão passar mais cinco anos na oposição", vaticinou.

O também conselheiro do Estado considerou mesmo que "se PSD e CDS tivessem gerido o governo de modo diferente poderiam ter tido a maioria absoluta" em 2005. Sem nunca mencionar o nome de Rui Rio, o presidente do partido que já liderou, Mendes aconselhou a oposição a pensar a sério no futuro do país."Estar na oposição não é humilhante, mas a preocupação é o país, que vive num clima de anestesia", afirmou.

Diogo Feio, diretor da Escola de Quadros do CDS, respondeu ao repto com ideia de que o seu partido não se deixa "acantonar" e fala para "todo o eleitorado". O antigo eurodeputado centristas insistiu na ideia de que o CDS não tem medo de dizer que nunca será aliado do PS.

Mendes insistiu que só o PSD e o CDS, que estão "condenados a entender-se", podem ter o "ADN reformista" necessário ao país. Um país onde, sustentou "tudo parece que está tudo bem mas não está".

"Portugal tem de ter estratégia de crescimento económico diferente. Tem de crescer acima de 3% ao ano, de outra forma não ganha o desafio europeu", disse. "Vemos o governo a fazer a festa e apanhar as canas. Este crescimento é dos mais baixos entre os 28 na União Europeia. Estão todos à nossa frente e cá faz-se uma festa enorme, alguns estão a crescer o dobro e o triplo como a Irlanda, que cresce 6% ao ano". Para o social-democrata a Irlanda deve ser mesmo o "grande exemplo que Portugal deve seguir na Europa".

Marques Mendes defendeu que é preciso incentivar a competitividade fiscal porque sem ela não há estímulo ao investimento e ao crescimento, tal como apostar na internacionalização da economia. A dívida pública, que considerou "uma bomba ao retardador", deveria em duas legislaturas estar ao nível de 100% do PIB, quando no primeiro semestre deste ano era de mais de 125%.

A coesão social e territorial é outro dos grandes desafios de Portugal, defendeu o antigo líder do PSD, com particular destaque para o problema demográfico. "Portugal está há 32 anos na União Europeia, recebemos de fundos estruturais mais de cem mil milhões e em termos de assimetrias regionais estamos na mesma. Alguma coisa tem de mudar!"

Numa crítica direta ao governo de António Costa e às medidas que se desenham para o Orçamento do Estado para 2019, Mendes sublinhou que "temos de ter uma politica que não seja só da cigarra, mas também da formiga. Não é só distribuir, mas criar riqueza".

,Portugal tem hoje uma credibilidade forte na Europa e do mundo, garantiu aos cerca de 100 jovens populares que o ouviam. Feita do trabalho do anterior governo ao ter conseguido resgatar o país de um défice de 11% para 3% em tempo de vacas magras. "Comparar isso com um governo que passa de 3% para 0,3" em tempo de vacas gordas..." E alertou que é preciso prevenção: "Basta que haja uma constipação na Europa e apanhamos uma pneumonia cá dentro".

Política obsoleta

O conselheiro do Estado quis ainda alertar os jovens para a "forma obsoleta" como se faz polítca em Portugal, mas rejeitou a ideia de que movimentos populistas e radicais, como os que proliferam na Europa, possam vingar internamente. "Há é tentações dos que se querem pôr em bicos dos pés para mostrar que existem", disse, sem mencionar também o ainda militante do seu partido, André Ventura, que começou num movimento de recolha de assinaturas contra Rui Rio e quer criar um partido que defende a pena de morte.

"O que está a acontecer em Espanha, França, Hungria não me parece que esteja a acontecer em Portugal. Mas hoje há dois ou três problemas terríveis em Portugal. As pessoas de maior qualidade fogem da política, bons economistas fogem, os jovens talentosos e grandes académicos abominam-na", afirmou Mendes.

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